Os esforços que têm sido levados a cabo rumo à transição energética fazem com que a procura de lítio aumente cada vez mais. O metal é fundamental para o fabrico de baterias e a China está a fortalecer a sua posição no mercado do mineral. Na Europa, a Volkswagen já anunciou uma parceria com a empresa chinesa CATL.
A crescente preocupação com o fenómeno das alterações climáticas, e a consequente busca por alternativas energéticas limpas, tem transformado o lítio num dos metais mais procurados e fundamentais do mundo atual. Ainda que esta seja a principal utilização associada ao lítio, o mineral é também fundamental noutro tipo de indústrias, como a farmacêutica, a da cerâmica, e a do vidro, sendo também um componente principal de todos os dispositivos eletrónicos – dos telemóveis aos computadores – usados hoje em larga escala.
Segundo dados do relatório Mineral Commodity Summaries 2024 elaborado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), 87% da utilização de lítio foi destinada à produção de baterias, 4% foram empregues nas indústrias da cerâmica e do vidro, 2% para massas lubrificantes, 1% para pós de fluxo de moldes de fundição contínua, 1% para fins medicinais e os restantes 4% para outros usos. “O consumo de lítio para baterias aumentou significativamente nos últimos anos”, concluem os especialistas americanos, “porque as baterias recarregáveis de lítio têm sido amplamente utilizadas no mercado crescente de veículos elétricos, dispositivos eletrónicos portáteis, ferramentas elétricas e aplicações de armazenamento na rede de energia”. “Os minerais de lítio foram utilizados diretamente como concentrados minerais em aplicações de cerâmica e vidro”, dizem ainda.
Ao observar os números do gráfico que mostra a percentagem de produção de lítio por país, esta última está concentrada principalmente em três geografias; Austrália, China e América do Sul (principalmente no Chile) – o chamado “triângulo do lítio”. Em conjunto, estas três regiões são responsáveis por mais de 90% do total, representando assim uma importância acrescida.
Segurança do lado da oferta
A transição para energias limpas tem sido um dos objetivos a nível mundial, o que tem feito a procura do lítio disparar em anos recentes. Por isto, uma das preocupações das principais empresas tecnológicas a nível global tem sido, de acordo com o relatório já mencionado, a segurança do lado da oferta. Assim, continuam a ser estabelecidas “alianças estratégicas e joint ventures entre empresas tecnológicas e empresas de exploração para garantir um fornecimento fiável e diversificado de lítio aos fornecedores de baterias e fabricantes de veículos”, relata o documento do USGS. É também pelo aumento da procura que as explorações de lítio se têm intensificado, sendo que as principais contribuições são provenientes de “sete operações minerais na Austrália, uma operação de resíduos minerais no Brasil, duas operações de salmoura na Argentina e no Chile, duas operações minerais no Canadá, cinco operações minerais e quatro de salmoura na China e uma operação mineral no Zimbabué”. Além destas operações principais, “operações de menor dimensão na Argentina, Austrália, Brasil, China, Portugal, Estados Unidos e Zimbabué contribuíram igualmente para a produção mundial de lítio”.
Por fim, o último parágrafo da secção dedicada ao lítio deste relatório foca-se em possíveis substitutos para os compostos de lítio, sendo eles “o cálcio, o magnésio, o mercúrio e o zinco como material anódico em baterias primárias; sabões de cálcio e alumínio como substitutos de estearatos em massas lubrificantes; e fundentes sódicos e potássicos no fabrico de cerâmica e vidro”.
A ascensão da China
A China é o país que mais lítio consome – em 2019, por exemplo, segundo números da Statista, consumia 39% do total mundial –, mas é ainda apenas o terceiro que mais produz, estando assim naturalmente dependente de importações. Por isto, o Governo de Pequim tem levado a cabo operações de exploração desde 2021 e conseguiu descobrir reservas que podem alterar a posição chinesa no mercado. Os especialistas do Serviço Geológico da China (CGS) apuraram que estas iniciativas foram responsáveis por descobrir mais de 30 milhões de toneladas métricas de minério de lítio nas zonas de Sichuan, Qinghai, Jiangxi, e ainda nas regiões autónomas de Xinjiang Uygur e da Mongólia Interior. Também a exploração realizada no Tibete contribuiu substancialmente para o crescimento das reservas chinesas.
De acordo com a Xinhua, a agência de notícias estatal, as reservas chinesas aumentaram dos 6% para os 16,5% do total mundial, passando assim da sexta para a segunda posição do ranking dos países com maiores reservas de lítio, concluiu o CGS.
Uma previsão da Statista mostra que, em 2030, a China será também o líder em baterias de iões e de lítio com maior capacidade com uma distância significativa do segundo, os EUA.
Com isto, a cadeia de abastecimento da China está mais fortalecida, sendo que o objetivo do Governo central de Pequim é lograr a autossuficiência, de modo a conseguir uma vantagem competitiva em relação às outras potências, principalmente no âmbito dos veículos elétricos, um dos mercados mais importantes do momento. Ao conseguir tal autossuficiência, a China dará mais um passo neste processo de ascensão, que contribuirá para o enfraquecimento da ainda potência hegemónica, os Estados Unidos.
Aliança à vista
Mas já estão a ser reunidos esforços que possam ser benéficos para a Europa. Por exemplo, a Volkswagen e a Contemporary Amperex Techonology Limited (CATL) – a maior fabricante de baterias de íons de lítio do mundo – assinaram uma declaração de intenções que visa a colaboração das duas entidades no desenvolvimento de produtos que tenham por base o lítio, principalmente baterias com maior desempenho e estruturas de custos mais eficientes para modelos específicos no mercado chinês, avançou ontem a Reuters. No comunicado da CATL, explicado pela mesma agência de notícias, nota-se ainda que a parceria será posteriormente alargada a outras áreas dos veículos elétricos, como a reciclagem de baterias e a tecnologia “vehicle-to-grid”, onde a eletricidade do automóvel será posteriormente transferida de volta para a rede elétrica.
Assim, prevê-se que a procura do lítio continue a aumentar e que vários países tentem aumentar a sua capacidade de exploração e produção deste mineral fundamental para as transformações que se pretendem levar a cabo um pouco por toda a parte.