Călin Georgescu, candidato às eleições presidenciais romenas, foi ontem detido na sequência de uma investigação criminal que visa apurar fraudes durante a campanha às últimas eleições, anuladas por alegada interferência russa. O líder que tem sido conotado como pró-russo e como ultranacionalista está acusado de seis crimes tais como atos inconstitucionais, falsas declarações financeiras e apoio a simpatizantes da Guarda de Ferro – movimento fascista romeno – avançou, ontem, a Euronews.
Nas eleições presidenciais de 24 de novembro do ano passado, o resultado de Georgescu foi surpreendente: arrecadou 22,94% dos votos – quando as sondagens indicavam que conseguiria apenas 5% – e deixou de fora da segunda volta o atual primeiro-ministro socialista Marcel Ciolacu. O Tribunal Constitucional (TC) romeno ainda realizou uma recontagem, que revelou que os votos estavam efetivamente bem contados. Assim, no dia 6 de dezembro, a apenas dois dias da segunda volta que oporia Georgescu à candidata liberal Elena Lasconi, o TC decidiu, por unanimidade, anular a primeira volta e reagendar outra eleição para maio de 2025, alegando que houve influência russa no financiamento da campanha de Georgescu, principalmente na rede social TikTok.
O episódio tem sido várias vezes mencionado, principalmente por críticos da União Europeia, que apenas se pronunciou sobre o caso, através da porta-voz da Comissão Europeia Paula Pinho, para dizer que se deveria deixar «aos cidadãos romenos a decisão sobre o seu destino». A mais alta instância europeia mantém-se, até agora, em silêncio.
A detenção
Călin Georgescu foi detido na passada quarta-feira em pleno trânsito de Bucareste, quando iria apresentar a sua candidatura às novas eleições, tendo sido posteriormente transportado para a Procuradoria-Geral onde enfrentou um interrogatório por não ter declarado despesas durante a campanha presidencial.
A equipa do político recorreu ao Facebook para lançar um comunicado onde expressam o seu desagrado com o sucedido: «Há cerca de 30 minutos, o sistema parou-o no trânsito e mandou-o encostar para ser interrogado na Procuradoria-Geral da República». «Onde está a democracia, onde estão os parceiros que devem defender a democracia?», perguntaram.
«Os procuradores suspeitam que 27 pessoas agiram contra a ordem constitucional da Roménia, incitamento público, iniciação de uma organização fascista e falsas declarações sobre as fontes de financiamento de uma campanha eleitoral, mas não mencionaram o nome de Georgescu ou dos seus assessores na sua declaração», pode ler-se no website do Politico, que menciona também as buscas realizadas às «instalações dos seus colaboradores mais próximos, incluindo o líder mercenário Horațiu Potra e o guarda-costas de Georgescu».
O primeiro-ministro Ciolacu reforçou a independência do poder judicial, mas mostrou-se preocupado com o facto de não serem apresentadas provas fortes, o que poderia fortalecer a imagem de Georgescu: «O poder judicial tem o dever de apresentar provas extremamente sólidas ao público (…) para que esta investigação criminal não seja transformada num manifesto eleitoral de um determinado candidato».
Salvar ou ferir a democracia?
À saída das instalações da Procuradoria-Geral, Georgescu disse que «as sanções americanas irão clarificar a situação na Roménia», dando a entender que a administração Trump poderá intervir no processo através de sanções. O vice-Presidente americano, J. D. Vance, já tinha deixado claro o seu desagrado com o sucedido no seu mais recente discurso na Conferência de Segurança de Munique. «Vamos em frente. Não nos ajoelharemos em circunstância alguma», disse Georgescu aos repórteres após várias horas de interrogatório.
Assim, e segundo fontes da Euronews, o candidato não só está impedido de deixar o seu país natal, como também não poderá proceder à criação de novas contas nas redes sociais.
Os críticos de Georgescu argumentam que se trata de um mecanismo que salvaguarda a democracia, mas há quem acredite que se trata precisamente do oposto, apontando que o anulamento de eleições por alegada interferência nas redes sociais e a detenção do candidato é como abrir a caixa de Pandora.