Ana Paula Martins debaixo de fogo após relatório sobre falhas no INEM

Ana Paula Martins debaixo de fogo após relatório sobre falhas no INEM


Relatório preliminar da IGAS sobre as falhas de informação ao INEM durante as greves de outubro e novembro coloca Ana Paula Martins sob forte pressão política. Da esquerda à direita, multiplicam-se os pedidos de demissão da ministra da Saúde.


A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, pode estar por um fio, na sequência do relatório preliminar da Inspecção Geral das Actividades em Saúde (IGAS), conhecido esta quarta-feira, sobre as falhas de informação ao INEM durante a paralisação entre outubro e novembro do último ano.

De acordo com as conclusões do relatório, o Ministério da Saúde ignorou os pré-avisos de greve que recebeu, incluindo o de 4 de novembro, que coincidia com uma outra greve, e não avisou o INEM. O serviços de emergência médica acabaram por ficar comprometidos, já que o instituto para o impacto das duas greves em simultâneo, comprometendo o socorro à população.

«O INEM, I.P., não recebeu atempadamente a comunicação de pré-avisos das greves gerais convocadas para os dias 31 de outubro e 4 de novembro», pode ler-se no relatório preliminar de inspeção ao cumprimentos das normas de organização de trabalho e capacidade operacional dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

«Não tendo conhecimento dos detalhes neles constantes quanto ao tipo e duração das greves, bem como dos serviços mínimos propostos, ficou inviabilizada a possibilidade de eventual contestação dos serviços mínimos que apenas poderia ter sido feito nas primeiras 24 horas seguintes à respetiva emissão de cada pré-aviso», acrescenta a IGAS, que critica a atuação da Secretaria Geral do Ministério da Saúde neste caso.

Recorde-se que foram registadas 11 mortes durante a greve do INEM, no início do mês de novembro, algumas das quais causadas pelas falhas de socorro durante a paralisação.

Um comunicado emitido esta quinta-feira pelo Ministério da Saúde garante que Ana Paula Martins está a analisar o documento e que «terá em consideração as dificuldades relativas às duas greves» assegurando que a ministra «agirá em conformidade com as recomendações feitas pela IGAS».

Acrescenta ainda que «aguarda a finalização deste inquérito, ao qual falta ainda a fase de contraditório, e também do outro que está a ser realizado pela IGAS sobre eventuais falhas de socorro aos cidadãos durante os dias das greves de outubro e novembro».

Partidos pedem demissão da Ministra da Saúde

Da esquerda à direita, começam a chegar as reações ao relatório que aponta falhas graves de informação ao INEM.

Pedro Nuno Santos exigiu «consequências políticas» ao primeiro-ministro e à ministra da Saúde pela «incompetência e negligência graves», e acrescenta que considerou incompreensível o silêncio do Presidente da República.

«As consequências desta incompetência e desta negligência foram graves, são conhecidas, são 11 mortes e o que se impõe agora é saber o que é que o senhor primeiro-ministro vai fazer, o que é que a senhora ministra vai fazer, que consequências retira deste relatório», questionou o líder do PS.

Já a líder bloquista, Mariana Mortágua, considera que «não há quaisquer condições para a ministra se manter à frente do Ministério da Saúde». «Sucedem-se os erros», remata. A coordenadora do BE quer ainda ouvir no parlamento os responsáveis pelo relatório da IGAS.

Da parte da IL, Rui Rocha também não hesitou em pedir a demissão da governante, que diz estar fragilizada «há muito tempo» pela soma «de muitas outras coisas».

Também o Chega defendeu que não demitir a ministra é «o adiar de um cadáver político» e já entregou um pedido para a audição urgente da ministra.

Chuva de demissões na Saúde

A menos de um ano de governação, sucedem-se os pedidos de demissão e substituições no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que levou Mariana Mortágua a concluir que «só falta cair a Ministra». Ao todo, o Ministério da Saúde já demitiu 14 administrações hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em janeiro, António Gandra d’Almeida apresentou o pedido de demissão do cargo de diretor executivo do SNS, após uma investigação da SIC ter revelado que acumulou, de forma irregular, funções enquanto médico tarefeiro em Faro e Portimão por mais de dois anos.

Já o médico Eurico Castro Alves não resistiu às denúncias que circularam sobre «a existência de conflitos de interesse em vários dirigentes» da Ordem dos Médicos e demitiu-se da comissão de acompanhamento do plano de emergência que elaborou, apesar de ter um parecer jurídico que sustenta que «não há qualquer conflito de interesses».