Tratamento de distúrbios mentais
O uso do lítio na medicina remonta à década de 1940, conhecido por ser amplamente utilizado no tratamento do transtorno bipolar – algo que ficou perpetuado na cultura popular através da música dos Nirvana “Lithium” (o vocalista Kurt Cobain sofria deste distúrbio). Estima-se que cerca de 70% dos pacientes diagnosticados com essa condição apresentem melhoria significativa com o uso de carbonato de lítio. A perturbação bipolar afeta cerca de 200 mil portugueses e caracteriza-se por variações acentuadas do humor, com crises repetidas ou alternadas de depressão e de “mania”.
Além disso, estudos recentes sugerem que doses controladas de compostos de lítio podem também ter efeitos neuroprotetores e ajudar a retardar o avanço de doenças como Alzheimer e Parkinson.
Quando utilizado como medicamento, o lítio é tomado por via oral em forma de comprimidos ou cápsulas e, por vezes, em xarope. É comercializado quer na sua forma “standard”, quer como preparado de “libertação controlada”. Em ambos os casos necessita de receita médica.
Em Portugal, os comprimidos de PRIADEL (nome comercial), contêm 400 miligramas de lítio sobre a forma de carbonato, havendo também preparados com 300 miligramas, em cápsulas hospitalares, refere a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares.
Energia nuclear
Na indústria nuclear, o lítio – especificamente seus isótopos constituintes – é utilizado nos reatores de potência. O lítio-6 é utilizado na produção secundária dos dispositivos termonucleares, utilizados como combustíveis em reatores de fusão nuclear.
O lítio-7 desempenha um papel vital na segurança dos reatores nucleares ao absorver neutrões durante o processo de fissão, ajudando a controlar a reação em cadeia.
Como hidróxido, é necessário em pequenas quantidades para assegurar uma operação segura em sistemas de resfriamento de reatores de água pressurizada (PWR) como um estabilizador de pH, para reduzir a corrosão no circuito primário.
Segundo o Nuclear Energy Institute (NEI), o fornecimento de Li-7 é criticamente importante para a indústria nuclear dos EUA. Em 2013, o Departamento de Energia dos EUA (DOE) reservou 200 kg de Li-7 e tem financiado pesquisas para métodos de produção.
A procura mundial de Li-7 para sistemas de refrigeração PWR é de cerca de uma tonelada por ano, de acordo com a Associação Nuclear Mundial.
Vidro e Cerâmica
O lítio também é indispensável na indústria do vidro e da cerâmica, melhorando a resistência térmica e a durabilidade dos materiais. Fornos de cozinha, ecrãs de telemóveis e janelas de aviões incorporam compostos de lítio para suportar variações extremas de temperatura e pressão.
Com cerca de 60.000 toneladas de reservas conhecidas, Portugal já é o maior produtor europeu de lítio, tradicionalmente extraído para produção de cerâmica. O lítio contribui para a melhoria das propriedades físicas dos materiais cerâmicos, como resistência e flexibilidade, sendo especialmente útil na produção de cerâmicas avançadas utilizadas em componentes eletrónicos e equipamentos industriais.
Em Portugal, o lítio é extraído em associação com minerais como o quartzo e o feldspato, sendo utilizado na indústria cerâmica para reduzir o ponto de fusão das pastas cerâmicas, diminuindo assim o consumo energético. O país possui reservas significativas deste metal, o que pode representar uma oportunidade para o desenvolvimento de novas indústrias e a redução da dependência de importações.
Exploração espacial
O lítio também tem um papel fundamental na exploração espacial. Devido à sua leveza e elevada capacidade energética, a NASA utiliza baterias de iões de lítio em várias missões. Por exemplo, o helicóptero robótico Ingenuity, que realizou voos históricos em Marte, é equipado com seis baterias de iões de lítio recarregáveis. Estas baterias são carregadas através de painéis solares integrados e fornecem a energia necessária para os motores e sistemas de comunicação do helicóptero. Após um período de baixa energia, o Ingenuity conseguiu restabelecer a comunicação graças à recarga eficiente das suas baterias de lítio.
Além disso, o hidróxido de lítio (LiOH) é amplamente utilizado em sistemas de suporte à vida de naves espaciais para remover dióxido de carbono do ar. Este composto reage quimicamente com o CO2, formando carbonato de lítio e água, o que contribui para manter a qualidade do ar respirável para os astronautas durante as missões espaciais.
Lubrificantes e ar condicionado
Em ambientes industriais, o lítio é um componente essencial na produção de lubrificantes de alto desempenho, vitais para o funcionamento de maquinaria pesada exposta a condições extremas. O hidróxido de lítio é usado principalmente na produção de graxas lubrificantes, ou conhecida como graxa de lítio, que pode funcionar sob condições extremas de temperatura e carga. Aproximadamente 70% das graxas lubrificantes produzidas no mundo contêm lítio.
Paralelamente, o brometo de lítio é usado em sistemas de ar condicionado de grande porte, como em hospitais e centros comerciais, onde atua na absorção de humidade, aumentando a eficiência energética. No setor de ar condicionado, o lítio é utilizado em compostos como o cloreto de lítio e o brometo de lítio, que possuem propriedades higroscópicas, permitindo-lhes absorver a humidade do ar. Esses compostos são essenciais em sistemas de ar condicionado industriais e desumidificação, contribuindo para a eficiência energética e o desempenho dos equipamentos.
O cloreto de lítio, por exemplo, é utilizado em unidades de ar condicionado devido às suas propriedades higroscópicas que permitem absorver a humidade do ar.
Aviões e comboios de alta velocidade
Na aviação, a maioria das chapas metálicas utilizadas na estrutura das aeronaves são de liga de alumínio, como as ligas alumínio-lítio (Al-Li). Estas ligas oferecem uma combinação de leveza e resistência, resultando em estruturas mais leves e, consequentemente, em maior eficiência de combustível e capacidade de carga. Por outro lado, devido aos riscos associados ao transporte de baterias de lítio, como incêndios e explosões, existem regulamentações rigorosas que restringem o transporte dessas baterias em aeronaves de passageiros.
Também nos comboios, o recurso a baterias de lítio tem-se revelado uma tendência crescente por tornar o transporte mais barato e mais ecológico. O primeiro comboio a depender exclusivamente de baterias de lítio entrou em serviço em 2016 no Japão. Agora, por todo o mundo, o investimento neste tipo de transportes começa a aumentar.
Mas, enquanto há quem receie os perigos de incêndios devido ao sobreaquecimento das baterias de lítio, especialistas ouvidos pela BBC garantem que, quando usadas em veículos rodoviários, as baterias de veículos elétricos têm pelo menos 20 vezes menos probabilidade de se incendiarem do que os carros a diesel ou a gasolina. Quando as baterias de lítio são corrompidas, pode haver uma fuga térmica e causar aumentos de temperatura incontroláveis, tornando o incêndio difícil de controlar e extinguir – o que poderia acontecer em caso de acidente ou descarrilamento.