Ponto prévio: confesso a minha ignorância em relação ao fantástico mundo do Tik Tok e afins, apesar de ir lendo algumas coisas sobre o fenómeno. Há umas semanas, no bairro onde vivo, a senhora que nomeei chefe de redação do jornal da nossa rua contava-me uma história insólita – ela está muito bem informada e não falha uma. “Já sabe da última?”, perguntava-me. Nem precisei de responder. “Agora a moda é atirarem-se para o chão quando alguém está a lavar o passeio e se esqueceu de colocar o aviso de piso escorregadio. Houve para aí uma grande confusão que até meteu quatro carros da polícia”. Entusiasmada, pois gosta de notícias, continuou: “A rapariga foi para o hospital e está a pedir uma indemnização porque vai ficar de baixa”. Eu aqui perguntei-lhe como a ‘vítima’ ia ficar de baixa se não trabalha, mas a chefe de redação, que andará pelos sessentas e alguns, foi lesta a responder: “Diz que não pode fazer os diretos para o Tik Tok!!!”.
Não gosto de fazer de Velho do Restelo, mas parece-me que a sociedade, e a escola em particular, está a falhar em toda a linha. Que raio de pessoas estão a ser formadas para seguirem uns disparates que são ditos no Tik Tok? Que raio de sociedade mantém o Big Brother, um programa de mentecaptos, como um dos com maiores audiências?
Que raio de sociedade tem nos influencers – uns tontos, regra geral – modelos a seguir? Nunca tinha ouvido falar em Tiago Grila, ao que parece um influencer de sucesso, até que o mesmo reconheceu num podcast ser ele o autor de um atropelamento na Amadora, há cerca de um ano, tendo deixado a vítima para trás, e vangloriando-se de ter ouvido um estrondo, sinal de que tinha acertado em alguém. Ao que parece, as autoridades judiciais abriram um inquérito e o suposto autor do atropelamento já veio dizer que tudo não passou de uma brincadeira.
Chegados aqui, lembrei-me da tal disciplina de Cidadania que bem podia ser uma aposta séria das escolas, em vez de estar centrada nas questões de género, pelo que se diz. A Escola e as famílias estão a falhar em toda a linha, quando os jovens se riem de uns atrasados mentais, que seguem com alguma devoção. Não defendo a censura das redes sociais pois acho que o problema está na sociedade que estamos a construir. Onde a irresponsabilidade ganha likes e a fama a todo o custo justifica todos os meios. Esperemos que o tal Tiago Grila sirva de exemplo, levando a Justiça a investigar a sua atuação até ao fim, e rapidamente, até para que outros mentecaptos ganhem algum juízo.