Atualmente usamos a tecnologia para quase tudo. E o facto é que ela nos facilita, e muito, a vida. Segundo o engenheiro greco-americano Peter Diamandis, a tecnologia é “um mecanismo de libertação de recursos”. “Ela pode tornar abundante o que antes era escasso”, defende o fundador e CEO da XPrize Foundation, uma organização sem fins lucrativos que cria e organiza competições públicas destinadas a incentivar o desenvolvimento tecnológico. Por outro lado, há quem acredite e lamente o facto desta estar a evoluir mais rápido do que a capacidade humana.
Hoje é difícil encontrar quem não possua um smartphone, um computador, um disco rígido, uma televisão… Falamos também de lasers, das baterias dos carros elétricos, lentes de telescópios e de câmaras de alta qualidade… Ou seja, dispositivos inteligentes usados nas nossas casas, dispositivos médicos que salvam vidas e tecnologias energéticas renováveis e eficientes. Cada um desses dispositivos esconde um universo de componentes que, na maior parte dos casos, desconhecemos. Cada metal desempenha um papel específico: garantem a condução de eletricidade, o armazenamento de energia e até a resistência ao calor. Afinal, o que está por trás deles?
Terras Raras e Metais
É importante saber que vários componentes destes dispositivos/objetos são fabricados usando uma ou mais terras raras.
De acordo com o investigador português Filipe Figueiredo, citado pelo Público, as terras raras constituem um grupo muito especial de 17 elementos químicos e são apelidadas de “vitaminas da indústria” porque, à semelhança das nossas vitaminas, “têm um papel fundamental no desenvolvimento tecnológico” e, tal como no nosso organismo, “cumprem a sua função mesmo em pequenas quantidades”.
Além disso, explica o investigador, estas terras são metais que, ao contrário daquilo que diz o nome, “não são raras”. “Acredita-se que o termo ‘raro’ se deve à surpresa de um mineiro na Suécia em 1788 ao ter encontrado uma rocha negra peculiar, enquanto ‘terra’ era o termo geológico nessa altura para rochas que poderiam ser dissolvidas em ácido”, detalhou à mesma publicação.
Metais Tecnológicos
Segundo o SJMetal Distendido – um grupo 100% Português, de gestão profissional mas de cariz familiar, com uma história de mais de 80 anos de atividade na metalomecânica –, o cobre, por exemplo, é considerado “o herói invisível” e um dos metais mais utilizados em equipamentos eletrónicos. É importante explicar que tanto este como o ouro, a prata e o alumínio não são raros, mas essenciais para a construção destes dispositivos.
Lê-se na página do grupo que “a sua excelente capacidade de condução de eletricidade torna-o o material ideal para fios e circuitos, uma vez que permite a fluidez de energia através dos dispositivos”. Seja no interior do seu smartphone ou computador, o cobre é um verdadeiro “herói invisível”. É ainda relativamente barato, por isso, por norma, é uma das primeiras escolhas na indústria eletrónica. Apesar disso, a prata é considerada, “o melhor condutor de eletricidade de todos os metais”, frequentemente usada em conectores de ecrãs táteis e circuitos integrados.
Muitos desconhecem que o ouro é também amplamente utilizado em contactos e conectores dos nossos smartphones. Este tem “uma capacidade de condução elétrica incrível, além de ser bastante resistente à corrosão” e, por isso, “garante que os componentes eletrónicos funcionem de forma eficiente ao longo do tempo”. Devido à sua escassez, o ouro é substancialmente mais caro do que outros metais. É especialmente utilizado em dispositivos que exigem fiabilidade, como os smartphones e computadores de gama alta, detalha o SJ Metal.
Ainda no campo dos dispositivos eletrónicos e metais tecnológicos, o alumínio é outro metal essencial. Este está presente, explica o mesmo grupo, em muitos equipamentos eletrónicos, principalmente em dispositivos que precisam de ser “leves”, mas “robustos”. É usado nas carcaças e estruturas de dispositivos como portáteis e tablets. É fácil de moldar. Além disso, também é aplicado nos sistemas de dissipação de calor.
Metais raros
No campo dos metais raros, o neodímio, térbio e disprósio são ingredientes essenciais para os ímanes das turbinas eólicas. O térbio serve também para lâmpadas, dispositivos de memória e raios-x. Nos discos rígidos, o neodímio e o praseodímio, entre outros, “fazem parte de ímanes que controlam o movimento de um braço que permite ler e escrever dados”, revelou Filipe Figueiredo. Este último também é usado em motores de aeronaves, cabos de fibra óptica e ímanes. Os materiais luminescentes com diversas terras raras, tais como ítrio, európio e térbio, presentes nos ecrãs de computadores e de televisores, “geram as cores que nós vemos”. Já as lentes de telescópios e de câmaras de alta qualidade incluem lantânio, “cuja adição permite melhorar as propriedades ópticas do vidro”. Este metal é também misturado em ligas que são usadas em baterias e veículos a hidrogénio.
De acordo com o site oficial da empresa Cummins, que reúne engenheiros e cientistas para criar soluções de energia, o Cério é usado em lâmpadas, televisores e fornos; o Érbio é usado em lasers e cabos de fibra óptica; o Európio em lâmpadas, reatores nucleares e lasers; o Gadolínio em ímanes, reatores nucleares e imagens de ressonância magnética (MRI); o Hólmio também é usado em ímanes e reatores nucleares.
Já o Samário é utilizado em dispositivos de microondas e ímanes; o Túlio em lasers; o Itérbio em displays, máquinas de raios x e cabos de fibra óptica; o Escândio é utilizado para células de combustível e ligas usadas em aviões a jato; o Promécio é usado em pacemakers e mísseis teleguiados e o Lutécio é usado como catalisador nas refinarias.
Onde se encontram esses metais?
Segundo a Cummins, reservas conhecidas desses metais de terras raras são encontradas em poucos países do mundo. China, Brasil, EUA, Vietname e Rússia têm mais de 75% das reservas conhecidas. Desde os anos 90 que a China lidera o grupo: 98% dos metais raros usados na Europa e 79% dos utilizados nos EUA são importados deste país asiático. Com cerca de um terço das reservas conhecidas, quase todas estão concentradas na região de Xinjiang e na Mongólia, a China controla mais de 85% da sua refinação a nível mundial.
Segundo um estudo do Rare Earths Metals Market Outlook, de 2023, a utilização destes metais raros tem vindo a crescer de forma exponencial, tendo atingido os 7 mil milhões de euros em 2021. E este é um negócio que irá crescer a um ritmo de 9,1% ao ano até 2030, altura em que atingirá 15 mil milhões de euros.
O mesmo estudo adiantou que, dentro de alguns anos, a Europa será o segundo maior mercado destes minérios – logo a seguir à região da Ásia/Pacífico – graças aos dois grandes depósitos que foram encontrados no princípio de 2023 na Suécia e na Noruega.
Recorde-se que, nessa altura, a empresa mineira sueca LKAB descobriu “a maior reserva de minérios raros da Europa”: um depósito com cerca de mil milhões de toneladas destes metais. Este depósito inclui reservas de cobre, magnésio e uma grande quantidade de metais raros.
Recentemente, a Voice of America English News (Voa) revelou que Angola poderá tornar-se também um grande produtor mundial destes metais. Foram encontrados, em várias zonas do país, níveis mais altos de Lítio, Césio, Tântalo, Neodímio e Praseodímio. Por isso, inúmeras companhias estrangeiras têm estado a mostrar um grande entusiasmo pelo desenvolvimento de minas desses metais raros.