A globalização levou ao desaparecimento de algumas marcas, mas a eletrificação criou oportunidades para a entrada de novos players no mercado, oferecendo às start-ups e aos gigantes tecnológicos a possibilidade de se afirmarem no setor automóvel. O resultado para as empresas europeias está à vista…
A transição para eletricidade constitui um desafio para os construtores, e, neste momento, os chineses estão na frente graças à inovação tecnológica, apoiada por largos milhões de euros para pesquisa e desenvolvimento, fortes políticas industriais, preços competitivos e estratégias de mercado concertadas de modo a conquistar diferentes mercados com gamas completas, que incluem utilitários, luxuosas berlinas e SUV.
China forte
Mais de 40 milhões de automóveis elétricos particulares circulam atualmente nas estradas de todo o mundo, há três anos eram 26 milhões. O Tesla Model Y foi pelo segundo ano consecutivo o veículo elétrico mais vendido em todo o mundo com 1,09 milhões de unidades. O parque automóvel chinês representa mais de metade desse valor, seguido pela Europa e EUA. Esta trajetória de crescimento acentuou-se em 2024, quando foram vendidos 17,1 milhões de carros movidos a bateria em todo o mundo, o que representou um aumento de 25%, só na China foram registados quase dois terços dos modelos vendidos. Os mercados norte-americano e canadiano registaram um boost nas vendas de 9 %. Em contrapartida, a procura de elétricos na Europa registou uma quebra de 3,2%, após quatro anos de forte crescimento, situando-se nos 1,7 milhões de unidades vendidas. O modelo mais vendido no Velho Continente foi o Tesla Model Y com 209.214 unidades (-17%). A Noruega continua na onda elétrica e, em 2024, nove em cada 10 carros vendidos eram movidos a bateria (89%). É curioso verificar que isto acontece num país que é grande produtor de petróleo e gás natural. As vendas europeias foram particularmente penalizadas com o fim da ajuda à aquisição de veículos elétricos na Alemanha e do bónus ecológico em França. A Comissão Europeia está atenta à quebra no mercado europeu, mas não mostrou, até ao momento, qualquer intenção de alterar o objetivo imposto aos construtores de produzir veículos 100% elétricos em 2035.
As baterias assumem o papel fundamental, são o “coração” dos veículos elétricos e também o componente mais caro de todo o sistema. Na Europa, a tecnologia mais usada é baseada em iões de lítio, que oferece alta densidade energética, rapidez na recarga e maior número de ciclos de vida. Os aspetos negativos são o elevado custo de produção e a instabilidade quando exposta a temperaturas extremas. As baterias de fosfato de ferro-lítio LFP têm um custo inferior, já que utilizam componentes mais baratos, têm maior estabilidade térmica o que aumenta a longevidade e permite cargas rápidas. A China domina a produção mundial deste tipo de bateria. As baterias de níquel-cádmio são igualmente utilizadas no setor automóvel pelo desempenho a baixa temperatura. Têm menor longevidade e são mais caras. As baterias de hidreto de metal-níquel são as mais ecológicas, possuem grande capacidade energética e um ciclo de vida mais longo. A principal desvantagem é o recarregamento lento. As baterias de estado sólido têm uma alta densidade, recarga muito rápida e maior vida útil. É uma tecnologia em desenvolvimento e tem um elevado custo de produção.
Vantagens
A eletricidade como fonte de energia para veículos particulares, frotas e veículos pesados é uma solução para reduzir as emissões de carbono para a atmosfera e tornou-se uma realidade sem retorno. Este tipo de veículo melhora de forma significativa a qualidade do ar, sobretudo nas grandes cidades. Outras vantagens são os baixos custos de manutenção e de utilização. Os carros elétricos podem fazer mais quilómetros entre revisões quando comparados com os veículos movidos a combustíveis fósseis, desde que haja boas práticas de condução.
Um assunto que preocupa os utilizadores é o desgaste da bateria. Estudos recente indicam que a vida útil de uma bateria anda entre os 10 e 15 anos e os 160.000 e 240.000 quilómetros. Fazendo uma manutenção cuidada, após dez anos de utilização uma bateria de iões de lítio pode perder cerca de 20% da sua capacidade de armazenamento. Por essa razão, a maioria das marcas oferece uma garantia para a bateria (de tração) de oito anos ou 160.000 km (o que ocorrer primeiro) em que efetuam a substituição da mesma.
Mas nem tudo é perfeito no mundo elétrico e o milagre de emissões zero não existe. Há um longo campo de ação para conseguir a descarbonização na fase de produção dos veículos e das baterias, que implica elevados consumos de energia com impactos ambientais. Existem diferentes interpretações sobre esta realidade. Há marcas que referem que o impacto ambiental na construção de veículos elétricos é 70% mais elevado do que o seu equivalente a combustão, outros construtores referem que essa percentagem é de 50%.
O elevado preço é a principal desvantagem, isso deve-se, sobretudo, ao custo das baterias. Esse obstáculo deixará de existir com o desenvolvimento tecnológico e a produção em massa desse componente. A reduzida autonomia dos modelos mais acessíveis é um problema que faz o utilizador pensar duas vezes antes de comprar um elétrico. O crescimento da rede pública de carregamento e a simplificação de utilização da mesma são outros desafios a superar para que a utilização de veículos elétricos seja um processo simples para todos.
Portugal
A transição para a mobilidade sustentável é uma realidade no nosso país. Em 2024, venderam-se 41.700 veículos elétricos, o que representou 19,9% do mercado, com a particularidade de, em setembro, os veículos 100% elétricos terem sido os mais vendidos entre os ligeiros de passageiros. O Tesla Model 3 foi o mais pretendido em Portugal, com 9.760 unidades (+ 4,6%) vendidas. Há 15 anos, ver um veículo silencioso e sem emissões a circular era invulgar, hoje é uma coisa perfeitamente normal – 2010 foi considerado o “ano zero” da mobilidade elétrica no nosso país. No final do ano passado existiam em circulação 190.665 veículos elétricos, das mais variadas categorias.
Um dos principais motivos para o crescimento das vendas é o incentivo à compra de carros elétricos no âmbito do Pacote de Mobilidade Verde, que disponibiliza 13,5 milhões de euros para a compra deste tipo de veículo. Os particulares podem usufruir de um incentivo de 4.000 euros na compra de um automóvel elétrico novo até 38.500 euros (IVA incluído) caso entregue um veículo a combustão com mais de 10 anos para abate. Para as instituições de solidariedade IPSS, o apoio é de 5.000 euros. Os ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos elétricos têm um apoio de 50% no valor da compra, um valor que pode ir até aos 2.000 euros por veículo. Importa dizer que no caso dos veículos ligeiros de passageiros esse apoio está limitado a 1.050 candidaturas e 400 para as IPSS e entidades sociais. Quem comprar um veículo elétrico fica isento de pagar Imposto Sobre Veículo (ISV) e Imposto Único de Circulação (IUC). Além disso, os carros elétricos não pagam parquímetro em alguns municípios, desde que tenham um selo verde. Em 2025, as empresas continuam a usufruir de um incentivo no valor de 6.000 euros na compra de um carro elétrico. O Dacia Spring é o elétrico mais barato com um preço de 16.900 euros.
Os 10 países que venderam mais carros elétricos em 2024
Reino Unido – 381.970
Alemanha – 380.609
França – 290. 614
Países-Baixos – 132.166
Bélgica – 127.703
Noruega – 114.396
Suécia – 94.333
Dinamarca – 89.199
Itália – 65.620
Espanha – 57.374
Total Europa – 1.993.102
Fonte: ACEA