Polémicas. O lado errado do futebol


O longo mandato de Pinto da Costa ficou marcado pela conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades, mas também por muitas polémicas com adversários, a quem sempre chamou de “inimigos”, e com a justiça. É verdade que nunca foi condenado, mas as suspeitas, essas, não prescreveram.


Quarenta e dois anos é tempo mais do que suficiente para fazer história. Pinto da Costa aproveitou bem esse tempo para fazer verdadeiras declarações de guerra contra o centralismo de Lisboa. Foi contestatário no discurso e nunca teve medo do conflito com a classe política, por isso foi adorado por uns e odiado por outros.

 Pinto da Costa esteve também no lado errado do futebol ao ser associado a práticas menos legais e a não olhar a meios para atingir o fim que era ganhar. Colecionou inúmeros casos judiciais, é difícil avançar com um número certo, mas, curiosamente, nunca foi condenado por um juiz português.

Apito Dourado

No topo das polémicas aparece o processo Apito Dourado, que envolveu vários clubes e dirigentes, entre os quais o presidente portista. Este caso surgiu na sequência de uma denúncia de um árbitro ao Conselho de Disciplina da Liga Portugal e que dizia respeito a cinco crimes de corrupção desportiva referentes à temporada 2003/04. O presidente do FC Porto era suspeito de ter comprado árbitros, com os pagamentos a serem feitos em dinheiro ou contratação de serviços de prostituição. As escutas a Pinto da Costa efetuadas pela Polícia Judiciária fizeram furor no YouTube pelo conteúdo das conversas onde eram marcados encontros, mas a justiça civil considerou que as escutas foram obtidas de forma ilegal e não puderam servir de prova em tribunal, absolvendo o presidente do FC Porto. Em paralelo, decorreu o Apito Final, instaurado pela Liga Portuguesa de Futebol, que condenou Pinto da Costa a uma suspensão dois anos e uma multa de 150 mil euros por tentativa de suborno, e retirou seis pontos ao FC Porto na temporada 2003/04. O líder e o clube apresentaram um recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e viriam a ser ilibados. Mais tarde, a ex-companheira de Pinto da Costa lançou o livro Eu, Carolina com depoimentos comprometedores para o antigo presidente, onde referiu existir tráfico de influências, agressões a dirigentes, coação sobre equipas de arbitragem e pagamento de orgias a árbitros para favorecer o FC Porto.

Em 2016, Pinto da Costa voltou a estar envolvido num caso judicial. Foi acusado pelo DCIAP de 13 crimes de exercício ilícito relacionado com a atividade de segurança privada através de funcionários da empresa SPDE, que não estavam habilitados a prestar serviços de segurança pessoal. Não foi a primeira vez que o ex-presidente utilizou segurança pessoal pouco recomendável. Quem andava no futebol na década de 90 lembra-se bem do guarda Abel, uma figura sinistra que intimidava e agredia aqueles que se limitavam a dizer a verdade, sobretudo quando os jogos não corriam bem aos azuis e brancos. Vivia-se no reino da impunidade, dos excessos e de cegueira clubística com o conhecimento de Pinto de Costa.

Guarda pretoriana

A imagem do presidente está muito ligada aos Super Dragões e não é apenas por haver uma enorme tarja com o seu rosto na bancada. A principal claque portista sempre funcionou como o “braço armado” do presidente para pôr na linha as (poucas) vozes discordantes da ordem instituída no reino do Dragão, como se verificou na assembleia-geral extraordinária de novembro de 2023, onde começou a queda de Pinto da Costa, embora poucos tenham percebido isso na altura.

Ao longo de muito anos, Fernando Madureira e os seus rapazes foram associados a vários casos de violência contra adeptos rivais e não só, alguns elementos da claque foram arguidos no processo Noite Branca, onde se verificaram crimes de sangue. Um deles, Bruno Pidá, foi condenado a 23 anos de prisão pelo homicídio de um empresário ligado ao negócio da noite, já antes tinha sido um dos seguranças de Pinto da Costa à chegada ao Tribunal Criminal de Gondomar para ser ouvido no âmbito da Operação Apito Dourado.