A Grande Porca e o Índice de Perceção da Corrupção de 2024


Já não está só em causa a questão do benefício individual à custa da política, mas a revelação de deformações de carácter que impossibilitam na génese o exercício íntegro do poder.


Em 1900, Rafael Bordalo Pinheiro divulgou na publicação ‘A Paródia’ uma caricatura intitulada: A Política – A Grande Porca. A gravura mostra uma corpulenta porca a amamentar inúmeros filhotes.  A porca simboliza a política e a ninhada, os partidos políticos; uma sátira cáustica aos acontecimentos políticos e sociais da época, mas que curiosamente não podia ser mais atual.

O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2024 em 180 países foi anunciado recentemente pela Transparency International (TI), um organismo independente de promoção da transparência e combate à corrupção a nível mundial, responsável pela apresentação anual dos resultados relativos à forma como determinadas entidades intuem a corrupção no setor público nos seus países.

O rigor da metodologia usada tem permitido que o IPC se tenha tornado uma das principais ferramentas de análise do fenómeno da corrupção a nível mundial no setor público e no que diz respeito ao ano de 2024, Portugal não ficou bem na fotografia.

Segundo palavras da TI Portugal na sua página web, “O desempenho de Portugal foi um dos piores da Europa Ocidental, com uma queda de 4 pontos na pontuação e a perda de 9 posições no ranking global. Este é o pior resultado desde que o Índice começou a ser publicado em 2012 e reflete um declínio contínuo desde 2015.”

Ao contrário do que possa ser pensado, o IPC baseia-se na opinião de experts e agentes económicos que se movem na esfera pública e não na opinião da população em geral.

Ora, se o IPC para Portugal manifesta a perceção de uma camada informada da sociedade portuguesa, então não deverá ser infundado o sentimento difuso de descrédito da parte do comum dos cidadãos na integridade dos que exercem o poder público e que muitos políticos desvaloriza, atribuindo-o a uma população mal informada ou contaminada pelo populismo incendiário.

A profusão diária de denúncias de corrupção, compadrio e encobrimento de conflitos de interesses são evidências que reforçam aquele sentir, mas a má classificação de Portugal no IPC dá-lhe outra profundidade. Assim, tudo indica assistir razão aos portugueses que teimam em ver os políticos como interesseiros e oportunistas.

Creio, contudo, que Portugal terá já alcançado outro nível, o da decadência moral. Já não está só em causa a questão do benefício individual à custa da política, mas a revelação de deformações de carácter que impossibilitam na génese o exercício íntegro do poder.

Refiro-me à hipocrisia dos políticos que apregoam princípios que não observam, dos acusados de crimes de condução sob o efeito de álcool, de violência doméstica, de abuso sexual de menores e, pasmemos, de furtos de lana-caprina.

Alguns destes episódios de degradação moral são trágico-cómicos e até podem servir de motivo de chacota na conversa de circunstância, mas agora pergunto: O que nos leva a consentir em níveis de corrupção e imoralidade desta natureza?

É obrigação de cada um de nós refletir e responder à pergunta com seriedade e sentido responsabilidade individual…

A Grande Porca e o Índice de Perceção da Corrupção de 2024


Já não está só em causa a questão do benefício individual à custa da política, mas a revelação de deformações de carácter que impossibilitam na génese o exercício íntegro do poder.


Em 1900, Rafael Bordalo Pinheiro divulgou na publicação ‘A Paródia’ uma caricatura intitulada: A Política – A Grande Porca. A gravura mostra uma corpulenta porca a amamentar inúmeros filhotes.  A porca simboliza a política e a ninhada, os partidos políticos; uma sátira cáustica aos acontecimentos políticos e sociais da época, mas que curiosamente não podia ser mais atual.

O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2024 em 180 países foi anunciado recentemente pela Transparency International (TI), um organismo independente de promoção da transparência e combate à corrupção a nível mundial, responsável pela apresentação anual dos resultados relativos à forma como determinadas entidades intuem a corrupção no setor público nos seus países.

O rigor da metodologia usada tem permitido que o IPC se tenha tornado uma das principais ferramentas de análise do fenómeno da corrupção a nível mundial no setor público e no que diz respeito ao ano de 2024, Portugal não ficou bem na fotografia.

Segundo palavras da TI Portugal na sua página web, “O desempenho de Portugal foi um dos piores da Europa Ocidental, com uma queda de 4 pontos na pontuação e a perda de 9 posições no ranking global. Este é o pior resultado desde que o Índice começou a ser publicado em 2012 e reflete um declínio contínuo desde 2015.”

Ao contrário do que possa ser pensado, o IPC baseia-se na opinião de experts e agentes económicos que se movem na esfera pública e não na opinião da população em geral.

Ora, se o IPC para Portugal manifesta a perceção de uma camada informada da sociedade portuguesa, então não deverá ser infundado o sentimento difuso de descrédito da parte do comum dos cidadãos na integridade dos que exercem o poder público e que muitos políticos desvaloriza, atribuindo-o a uma população mal informada ou contaminada pelo populismo incendiário.

A profusão diária de denúncias de corrupção, compadrio e encobrimento de conflitos de interesses são evidências que reforçam aquele sentir, mas a má classificação de Portugal no IPC dá-lhe outra profundidade. Assim, tudo indica assistir razão aos portugueses que teimam em ver os políticos como interesseiros e oportunistas.

Creio, contudo, que Portugal terá já alcançado outro nível, o da decadência moral. Já não está só em causa a questão do benefício individual à custa da política, mas a revelação de deformações de carácter que impossibilitam na génese o exercício íntegro do poder.

Refiro-me à hipocrisia dos políticos que apregoam princípios que não observam, dos acusados de crimes de condução sob o efeito de álcool, de violência doméstica, de abuso sexual de menores e, pasmemos, de furtos de lana-caprina.

Alguns destes episódios de degradação moral são trágico-cómicos e até podem servir de motivo de chacota na conversa de circunstância, mas agora pergunto: O que nos leva a consentir em níveis de corrupção e imoralidade desta natureza?

É obrigação de cada um de nós refletir e responder à pergunta com seriedade e sentido responsabilidade individual…