Mendes avança, Seguro prepara

Mendes avança, Seguro prepara


Faltam onze meses, mas o ambiente político aquece em torno das presidenciais. Tanto à esquerda como à direita teme-se uma vitória quase certa do almirante Gouveia e Melo.


Marques Mendes não quis esperar mais tempo, com o calendário presidencial a acelerar, o comentador que se despediu do espaço que ocupava na SIC há 12 anos, apresentou esta quinta-feira a sua candidatura na biblioteca da Misericórdia de Fafe que tem o nome do seu pai, António Marques Mendes, antigo autarca da cidade.

No primeiro ato formal como candidato presidencial, Luís Marques Mendes dispensou a presença de figuras do PSD, preferindo apresentar-se sozinho. A ideia é descolar da imagem de candidato partidário. Ao que o Nascer do Sol apurou, o esforço neste momento é para encontrar apoios fora da esfera social-democrata, na área socialista e também entre os democratas-cristãos.

«Surpreendido» e «sensibilizado» pela recepção, Marques Mendes aproveitou o seu discurso de apresentação para apelar à estabilidade e à previsibilidade política em Portugal. Num esforço de distanciamento da postura de Marcelo Rebelo de Sousa, o ex-comentador defendeu «que o país não pode continuar a enfrentar dissoluções e eleições antecipadas».

E acrescenta: «O Presidente da República tem de dar o seu contributo ativo, buscando convergências e mediando consensos. O Presidente não é meramente uma entidade simbólica, deve ter causas e participar ativamente».

Mas o alvo preferencial durante o discurso foi o seu principal opositor, Gouveia e Melo. Marques Mendes puxou da sua larga experiência política para se comparar ao Almirante.

«Quando tantos parecem interessados em esconder que fazem política, reafirmo a minha história política», sublinha. « cargo de Presidente da República é eminentemente político. Deve ser exercido por alguém com experiencia política. Não é tempo de aventuras, nem de tiros no escuro».

Entre as principais causas que promete defender estão «o combate à pobreza, a criação de riqueza, a justiça, o combate à corrupção, o apoio à imigração regulada, o incentivo à natalidade, o combate à violência doméstica, e a segurança».

Socialistas partem para Comissão Nacional às cegas

«A ordem dos trabalhos terá, como ponto único, as ‘Eleições Presidenciais’». É o que consta na convocatória que Carlos César enviou aos membros da Comissão Nacional para a reunião deste sábado em Setúbal. Mas o que é que há para discutir? É a pergunta que todos fazem por estes dias.

Sem candidatos anunciados e com os socialistas envolvidos numa cacofonia de acusações mútuas, o próprio Pedro Nuno Santos reconhece que «o calendário presidencial acelerou». Terá sido por causa desta aceleração de calendário que Carlos César decidiu convocar a Comissão Nacional, mas ao que nos diz uma fonte socialista, a iniciativa ultrapassou o Secretário-Geral. De acordo com a mesma fonte «o partido está todo dividido» e as coisas só pioraram nos últimos dias com as declarações de Ana Gomes que, em declarações à SIC, acusou o proto-candidato António Vitorino de ser «um lobyista». Depois dessas declarações, várias vozes dentro do PS garantem que Vitorino saiu da corrida, deixando assim sozinho na intenção de se candidatar, António José Seguro.

É sabido que o nome do ex-secretário-geral não é consensual entre os socialistas, mas o facto de aparecer isolado, pode colocar o partido perante um facto consumado. Pedro Nuno Santos garantiu desde o início da sua liderança que os socialistas iriam apoiar um candidato e esta semana repetiu-o: «Desejo que haja apenas um candidato da nossa área. Mas não depende do secretário-geral do PS, nem do PS, que só exista um candidato. Era mais confortável fazer como no passado e não apoiar ninguém. Mas essa não era a decisão correta».

Os apoiantes de Seguro apostam que o apoio do PS está garantido e vão marcar presença na reunião de sábado, não só para defender esta posição, como para rejeitar a ideia de que do encontro saia um perfil de candidato. Francisco Assis é uma dessas vozes. Esta semana escreveu nas redes sociais, «não vejo qualquer vantagem em levarmos a cabo uma discussão em abstrato sobre o hipotético perfil ideal de um candidato a apoiar pelo Partido Socialista. Seria uma discussão manifestamente ociosa e, como tal, dispensável».

Perante o cenário de um apoio do PS a António José Seguro, caso se confirme que Vitorino saiu de cena, já se fala no partido em divisões, ou seja, no apoio de uma parte significativa do partido a uma figura externa como uma recandidatura de Sampaio da Nóvoa, ou, alguém com um perfil semelhante e que possa ser apoiado por outras forças à esquerda e também independentes.

Que estragos é que isto pode fazer entre os socialistas e na liderança de Pedro Nuno Santos, é uma incógnita, mas a verdade é que já começava a haver muitos socialistas a duvidar da estratégia do líder. «O PS não é uma JS com dinheiro», ouviu o nosso jornal de um socialista desanimado.

Gouveia e Melo mantém-se de férias

Entre todos os putativos candidatos, Gouveia e Melo é o que está, neste momento, numa posição mais confortável.

A aceleração de calendário dos candidatos ligados a PS e PSD não altera os planos do almirante, que continua a planear apresentar a sua candidatura o mais tarde possível. Fonte próxima do ex-chefe do Estado Maior da Armada diz ao Nascer do SOL que «não faz sentido as eleições presidenciais atropelarem as eleições autárquicas, que não são umas eleições quaisquer». Razão suficiente para que os defensores desta candidatura continuem a dizer que «só se fosse tonto é que antecipava o calendário».

Na visão deste apoiante do Gouveia e Melo, Marques Mendes comete um erro em avançar tão cedo: «O que é que vai fazer estes meses todos?», questiona. Confrontado com o desafio do agora candidato para que o almirante venha a jogo, responde: «O Dr. Marques Mendes não define os calendários dos outros, para já vai ter de ficar a debater sozinho».