Desde a criação de um artifício militar capaz de destruir de forma massiva, há oitenta e seis anos (ver págs 12-13), que o ser humano teme, angustiado, o momento em que uma brilhante invenção possa pôr termo à sua própria existência. O lançamento das duas bombas atómicas sobre um Japão que teimava em não se render, em 1945, foi o momento definitivo que demonstrou a capacidade de tal armamento. A ordem mundial do pós-guerra, marcada pelas constantes e intensas tensões entre as duas superpotências, fez aumentar o desassossego e estava aberta uma corrida que mais parecia um prenúncio de morte coletiva.
O mais perto que a humanidade esteve de um conflito nuclear foi na década de 1960, mais precisamente em 1962, durante a Crise dos Mísseis de Cuba. Mas é também nesta década, e muito devido à experiência aterradora que colocou John F. Kennedy e Nikita Khrushchev num braço de ferro existencial, que se dão os primeiros passos para a limitação dos arsenais nucleares. O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, promovido pelas Nações Unidas, vê os Estados Unidos e a União Soviética empenhados na limitação dos seus arsenais e é estabelecida a primeira Zona Livre de Armas Nucleares na América Latina.
A década de 1970 começa com o primeiro acordo SALT (Tratado de Limitação de Armas Estratégicas), mas, em 1974, entra um novo país em jogo: a Índia. Com o apaziguamento da Guerra Fria e, mais tarde, o seu fim com o colapso da URSS, mais esforços foram reunidos para limitar estes arsenais altamente destrutivos. Por exemplo, países que acabavam de sair do jugo soviético como a Bielorrússia, o Cazaquistão e a Ucrânia, concordaram na destruição e na transferência para a Rússia de material bélico nuclear. O Tratado de Proibição Completa dos Ensaios Nucleares aparece na sequência de negociações, em 1996, e com ele as grandes potências nucleares – Rússia, EUA e Reino Unido – colocaram um ponto final nos testes até hoje.
Posto isto, os esforços multilaterais para a contenção da ameaça nuclear ao longo da segunda metade do século XX são visíveis, o que não invalida, de todo, a ameaça constante que este tipo de armamento representa, principalmente quando Estados pária – como o Irão ou a Coreia do Norte – começam a (ou estão em processo de) ter acesso a este tipo de armamento. Também a Rússia, que voltou a mostrar as garras imperialistas, é uma das principais ameaças à segurança internacional.
EUA continuam líderes
Independentemente da reestruturação profunda da ordem internacional, onde os Estados Unidos têm continuamente perdido a sua hegemonia conquistada no final do último século, os americanos continuam a ser o principal poder militar do mundo. Segundo números do relatório de 2025 da Global Fire Power, uma das principais análises de defesa a nível mundial, o aparato bélico de Washington conta com 1 milhão e 328 mil militares ativos e mais cerca de 800 mil na reserva, o que equivale a 0,6% da população. Em comparação, a China tem apenas 0,2% da população empenhada neste setor. A Rússia apresenta números superiores, também por estar atualmente diretamente envolvida num conflito: 2,5%. Mas é na força aérea que os Estados Unidos se destacam de forma contundente, com um total de 13 mil aeronaves, das quais cerca de 10 mil estão prontas para combate. A China e a Rússia não vão além das 2500 e 2800 aeronaves prontas, respetivamente. No que à marinha diz respeito, os EUA também se superiorizam, apesar de apresentarem números totais inferiores aos da China. Os americanos possuem 440 ativos, contra os 754 de Pequim. Ainda assim, os ativos americanos acrescem às 4 milhões de toneladas, enquanto os chineses ficam pelas 2 milhões e 800 mil toneladas. Os russos, por sua vez, contam com 419 ativos navais, mas com uma tonelagem total de apenas 1 milhão e 200 mil.
O perigo nuclear
No que ao arsenal puramente nuclear diz respeito, estamos perante uma luta a dois. Como se pode ver no gráfico apresentado, os Estados Unidos e a Rússia aprecem claramente destacados com 5044 e 5580 ogivas nucleares, respetivamente. A China, tal como a França, o Reino Unido e a Índia, fica bastante aquém das outras duas superpotências. Mas o último classificado, a Coreia do Norte, também gera preocupação. Não menos anseio causa o programa nuclear iraniano, ao qual os Estados Unidos e Israel se têm, de forma afincada, oposto através de vários ferramentas, como o Acordo Nuclear do Irão colocado em prática ainda durante a Presidência Obama.