Tiago Mayan criticou a divulgação da decisão do Conselho de Jurisdição do partido, que determinou a sua expulsão da Iniciativa Liberal após o episódio de falsificação de assinaturas – o que obrigou a desistir de disputar a liderança da IL – afirmando que é de «natureza confidencial» e que o processo «ainda está em curso», diz numa nota enviada à comunicação social.
Mayan diz ainda que «não se concebe e prontamente se denuncia a postura assumida pelo partido na publicitação da decisão adotada em primeira instância, atento o sigilo adstrito e que olvidou de respeitar, principalmente quando se sabe, e não se pode desconhecer, que a decisão anterior é, por natureza, provisória», acrescentando que «afigura-se plausível inferir que a apresentação da minha defesa terá assumido um caráter meramente formal, constituindo tão-somente uma etapa processual a que o partido se encontra estatutariamente vinculado, transparecendo que, quer a decisão, quer o procedimento, já estariam definidos à partida.
E face a esse cenário: «Ante o exposto, vejo-me compelido a concluir que os argumentos aduzidos em sede de defesa não terão sido objeto de uma ponderação substancial, estando o desfecho já predeterminado, em conformidade com as intenções publicamente anunciadas por representantes da estrutura partidária»
O ex-candidato, promete «prosseguir com as diligências adequadas perante instâncias, internas ou externas, com legitimidade para decidir, visando a composição da narrativa única que, até ao momento, tem sido mediaticamente perpetrada, tudo com o objetivo já previamente definido de me afastar do partido, custe o que custar».
Nuno Morna, deputado único da Representação Parlamentar da Iniciativa Liberal, já reagiu a esta expulsão. «Que fique bem claro que considero o ato de indesculpável. Mas, a expulsão de Tiago Mayan Gonçalves da Iniciativa Liberal, que querem fazer passar por um ato de justiça purificadora, não passa afinal de uma espécie de fogueira inquisitorial com menos fumo e mais burocracia. É a pressa de um partido que, na ânsia de se mostrar impoluto, se esquece de que o liberalismo, se for coisa séria, se for coisa verdadeira, se for coisa com memória e com ossos, não se pode reduzir a um jogo de tabuleiro onde se deitam peças fora à primeira irregularidade», escreveu no Facebook.
E justificou a sua posição: «E nem é porque o Tiago foi um dos fundadores do partido, nem por ter desempenhado funções de direção partidária, nem por ter sido o candidato liberal nas últimas presidenciais, mas unicamente, e apesar dos seus desvios e do que fez, ele é um de nós. Alguém que se desviou e a quem não estamos a dar a possibilidade do perdão a quem assumiu o erro».
E acrescentou: «Porque o liberalismo, se ainda for liberalismo, deve ser antes de tudo humanista, e um humanismo que não sabe perdoar é só outra forma de fanatismo. Um partido que expulsa sem hesitar, que julga sem sombra de dúvida, que decide sem dar espaço ao erro e à redenção, transforma-se numa máquina fria, esquecida de que as pessoas não são códigos de conduta nem estatutos rígidos, mas seres humanos com hesitações, deslizes, mãos trémulas sobre papéis que talvez não devessem ter assinado, mas que assinaram, porque o mundo não é feito de certezas, porque a política, como a vida, tem zonas de penumbra onde ninguém sai imaculado».
De acordo com Nuno Morna, a expulsão de Mayan Gonçalves pode ser uma decisão, mas não é uma decisão liberal. «Pode ser uma medida, mas não é uma medida humana. O liberalismo que se leva demasiado a sério, que se ergue sobre a inflexibilidade dos seus próprios princípios, arrisca-se a perder aquilo que mais deveria defender: a compreensão de que errar é humano e de que o perdão, às vezes, é mais revolucionário do que o castigo».