Se necessário, que se mude de povo


As pessoas querem decência, quem decida bem, de acordo com o interesse geral, com transparência, explicação e eficácia, respondendo às necessidades, além dos jogos de interesses partidários, parciais e políticos.


Estrebuchados com a brutalidade de alguns exercícios governativos em democracia, há quem, ensaiando indignações verbais inconsequentes, se mantenha ativo no árduo esforço de manutenção do poder, dos interesses, das circunstâncias e de uma certa superioridade sobre o resto. O fenómeno, nada republicano e pouco democrático, não hesita em recorrer a todos os meios para prosseguir os fins da manutenção, no limitar da unção divina, quais reis absolutistas, sendo o esforço de perpetuação assegurado pela descendência dos interesses ou do estatuto alcançado, mesmo que envolto em degradação e insustentabilidade.

O problema é que há fatores que não são controláveis pelos instalados e a falta de reconhecimento pela alteração das circunstâncias é só mais uma expressão do desespero na tentativa de manter tudo como está, mesmo que afastados do interesse geral e das novas realidades.

O desesperado esforço de alguns na marcação de cartas no processo das eleições presidenciais é uma evidente expressão de quem não percebeu os fenómenos que pontuam a realidade nacional e a global, com enfoque nas ondas de choque da nova administração de Trump.

Por cá, Gouveia e Melo como a representação eleitoral do Chega são faces da mesma moeda, consequências do mesmo acervo de causas, que têm rostos e assinaturas, no perfil da governação, na qualidade do exercício político, nas opções políticas, nos casos da governação política das últimas décadas e na falta de respostas sustentadas aos problemas das pessoas, das comunidades e dos territórios. Em Portugal como nos Estados Unidos ou noutras latitudes que acolhem afirmações populistas e extremistas, estes fenómenos não nascem de geração espontânea. Emergem quando o exercício político e o funcionamento das sociedades são geradores de situações de indiferença perante a realidade, de injustiça, de degradação do sistema político e de incapacidade para decidir em função do bem comum, inteligível e coerente, com uma visão de país, de resposta ao presente e de preparação do futuro. Surgem quando as pessoas são fustigadas pelos bancos nos créditos de habitação, com intolerância total com as dificuldades de pagamento, a par de sustentadas tolerâncias com grupos de comunicação com milhões de dívida, mantendo a capacidade para, de forma discricionária, desenvolver um jornalismo orientado para a manutenção ou afirmação de determinados interesses, sejam eles uma candidatura presidencial que assegure o status ou ajustes de contas com as circunstâncias. É hoje evidente que há uma divergência entre o que as “elites” instaladas pensam, por convicção ou por espírito de sobrevivência nos poisos, e o que o povo pensa, quando o dinheiro da redistribuição não afaga as convicções e as ilusões não encantam. Os instalados, por inabilidade, cansaço cívico do exercício, descrença no sistema ou escolha de outros canais de informação pelos cidadãos, perderam boa parte da capacidade de moldar as opiniões e as perceções. Não significa que a literacia cívica e política seja superior, só que aqueles protagonistas da vigência política e do sistema, deixaram de ter mínimos de crédito. As pessoas querem decência, quem decida bem, de acordo com o interesse geral, com transparência, explicação e eficácia, respondendo às necessidades, além dos jogos de interesses partidários, parciais e políticos. Por alguma e perigosa saturação popular com o funcionamento das democracias, Portugal e o mundo mudaram.

É neste quadro, que por via do comportamento de alguns dos instalados, perpassa a ideia de que, se pudessem, mudavam de povo. Só para manter os equilíbrios, preservar os interesses particulares e assegurar a perpetuação dos protagonistas. Afinal, se esse foi no passado recente o pretexto para outros “vale tudo”, porque não um ensaio maior. A impossibilidade da empreitada aconselha a um ajuste à realidade, às dinâmicas atuais, para que possam preservar já não as circunstâncias, mas o essencial dos valores partidários originais, os pilares do sistema democrático e as regras das vivências em comunidade. Implicará também sair de uma espécie de negacionismo empedernido das consequências e dos resultados das opções políticas da governação das últimas décadas, para gerar condições de evolução e de ajuste a novas concretizações dos valores e princípios de sempre. É preciso atualizar e ver mais longe, além dos corredores do poder, das bolhas mediáticas e das posições dos interesses instalados de sempre. Porque além de tudo isso, há um país e um povo que vive, sobrevive e persiste em querer prosseguir a afirmação de Portugal. Não o fazer, em democracia, com mulheres e homens livres, no quadro de um mundo em mudança e numas eleições com uma forte componente de vontade individual, é persistir no erro e dar azo a novas realidades. Como não se pode mudar de povo, está em causa, não as circunstâncias dos outros, mas as suas próprias posições.

NOTAS FINAIS

ANDEBOL DE EXCECIONAIS. Ficarmos em 4.º no Mundial de Andebol, a lutar de olhos nos olhos com todos, é de uma excecionalidade que não esconde a falta de investimento nacional no desporto e as dificuldades que são sentidas pela Federação para dar espaço à esperança e à superação no quotidiano da prática desportiva. Parabéns ao Miguel Laranjeiro como líder de uma equipa que gera condições para as outras equipas, quantas vezes com empréstimos bancários para assegurar o que o Estado faz tardiamente. Que o êxito, possa gerar, depois dos elogios, mais e melhores condições de trabalho.

PORTUGAL DE SEGUNDA. Fomos dos primeiros e mais radicais a excluir os chineses do 5G, era preciso agradar a Bruxelas. Queremos ser dos mais radicais a transpor a diretiva sobre cibersegurança. Os Estados Unidos agradecem, excluindo Portugal do acesso direto a chips para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. O país a ficar para trás. Somos dos poucos da Europa Ocidental de fora e ninguém explica porquê.

A EUROPA MAIS PARECE UMA ANEDOTA. A capacidade de resposta é vital na atualidade. Os Estados Unidos agem. A China age. A Europa pensa e pensa. O Relatório Draghi sobre competitividade foi apresentado há 5 meses. Cinco meses depois Draghi faz reuniões quase clandestinas e a Europa esboça intenções, regulações e outros estados de alma, da defesa à economia, sem nexo com as dinâmicas e as necessidades.

Se necessário, que se mude de povo


As pessoas querem decência, quem decida bem, de acordo com o interesse geral, com transparência, explicação e eficácia, respondendo às necessidades, além dos jogos de interesses partidários, parciais e políticos.


Estrebuchados com a brutalidade de alguns exercícios governativos em democracia, há quem, ensaiando indignações verbais inconsequentes, se mantenha ativo no árduo esforço de manutenção do poder, dos interesses, das circunstâncias e de uma certa superioridade sobre o resto. O fenómeno, nada republicano e pouco democrático, não hesita em recorrer a todos os meios para prosseguir os fins da manutenção, no limitar da unção divina, quais reis absolutistas, sendo o esforço de perpetuação assegurado pela descendência dos interesses ou do estatuto alcançado, mesmo que envolto em degradação e insustentabilidade.

O problema é que há fatores que não são controláveis pelos instalados e a falta de reconhecimento pela alteração das circunstâncias é só mais uma expressão do desespero na tentativa de manter tudo como está, mesmo que afastados do interesse geral e das novas realidades.

O desesperado esforço de alguns na marcação de cartas no processo das eleições presidenciais é uma evidente expressão de quem não percebeu os fenómenos que pontuam a realidade nacional e a global, com enfoque nas ondas de choque da nova administração de Trump.

Por cá, Gouveia e Melo como a representação eleitoral do Chega são faces da mesma moeda, consequências do mesmo acervo de causas, que têm rostos e assinaturas, no perfil da governação, na qualidade do exercício político, nas opções políticas, nos casos da governação política das últimas décadas e na falta de respostas sustentadas aos problemas das pessoas, das comunidades e dos territórios. Em Portugal como nos Estados Unidos ou noutras latitudes que acolhem afirmações populistas e extremistas, estes fenómenos não nascem de geração espontânea. Emergem quando o exercício político e o funcionamento das sociedades são geradores de situações de indiferença perante a realidade, de injustiça, de degradação do sistema político e de incapacidade para decidir em função do bem comum, inteligível e coerente, com uma visão de país, de resposta ao presente e de preparação do futuro. Surgem quando as pessoas são fustigadas pelos bancos nos créditos de habitação, com intolerância total com as dificuldades de pagamento, a par de sustentadas tolerâncias com grupos de comunicação com milhões de dívida, mantendo a capacidade para, de forma discricionária, desenvolver um jornalismo orientado para a manutenção ou afirmação de determinados interesses, sejam eles uma candidatura presidencial que assegure o status ou ajustes de contas com as circunstâncias. É hoje evidente que há uma divergência entre o que as “elites” instaladas pensam, por convicção ou por espírito de sobrevivência nos poisos, e o que o povo pensa, quando o dinheiro da redistribuição não afaga as convicções e as ilusões não encantam. Os instalados, por inabilidade, cansaço cívico do exercício, descrença no sistema ou escolha de outros canais de informação pelos cidadãos, perderam boa parte da capacidade de moldar as opiniões e as perceções. Não significa que a literacia cívica e política seja superior, só que aqueles protagonistas da vigência política e do sistema, deixaram de ter mínimos de crédito. As pessoas querem decência, quem decida bem, de acordo com o interesse geral, com transparência, explicação e eficácia, respondendo às necessidades, além dos jogos de interesses partidários, parciais e políticos. Por alguma e perigosa saturação popular com o funcionamento das democracias, Portugal e o mundo mudaram.

É neste quadro, que por via do comportamento de alguns dos instalados, perpassa a ideia de que, se pudessem, mudavam de povo. Só para manter os equilíbrios, preservar os interesses particulares e assegurar a perpetuação dos protagonistas. Afinal, se esse foi no passado recente o pretexto para outros “vale tudo”, porque não um ensaio maior. A impossibilidade da empreitada aconselha a um ajuste à realidade, às dinâmicas atuais, para que possam preservar já não as circunstâncias, mas o essencial dos valores partidários originais, os pilares do sistema democrático e as regras das vivências em comunidade. Implicará também sair de uma espécie de negacionismo empedernido das consequências e dos resultados das opções políticas da governação das últimas décadas, para gerar condições de evolução e de ajuste a novas concretizações dos valores e princípios de sempre. É preciso atualizar e ver mais longe, além dos corredores do poder, das bolhas mediáticas e das posições dos interesses instalados de sempre. Porque além de tudo isso, há um país e um povo que vive, sobrevive e persiste em querer prosseguir a afirmação de Portugal. Não o fazer, em democracia, com mulheres e homens livres, no quadro de um mundo em mudança e numas eleições com uma forte componente de vontade individual, é persistir no erro e dar azo a novas realidades. Como não se pode mudar de povo, está em causa, não as circunstâncias dos outros, mas as suas próprias posições.

NOTAS FINAIS

ANDEBOL DE EXCECIONAIS. Ficarmos em 4.º no Mundial de Andebol, a lutar de olhos nos olhos com todos, é de uma excecionalidade que não esconde a falta de investimento nacional no desporto e as dificuldades que são sentidas pela Federação para dar espaço à esperança e à superação no quotidiano da prática desportiva. Parabéns ao Miguel Laranjeiro como líder de uma equipa que gera condições para as outras equipas, quantas vezes com empréstimos bancários para assegurar o que o Estado faz tardiamente. Que o êxito, possa gerar, depois dos elogios, mais e melhores condições de trabalho.

PORTUGAL DE SEGUNDA. Fomos dos primeiros e mais radicais a excluir os chineses do 5G, era preciso agradar a Bruxelas. Queremos ser dos mais radicais a transpor a diretiva sobre cibersegurança. Os Estados Unidos agradecem, excluindo Portugal do acesso direto a chips para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. O país a ficar para trás. Somos dos poucos da Europa Ocidental de fora e ninguém explica porquê.

A EUROPA MAIS PARECE UMA ANEDOTA. A capacidade de resposta é vital na atualidade. Os Estados Unidos agem. A China age. A Europa pensa e pensa. O Relatório Draghi sobre competitividade foi apresentado há 5 meses. Cinco meses depois Draghi faz reuniões quase clandestinas e a Europa esboça intenções, regulações e outros estados de alma, da defesa à economia, sem nexo com as dinâmicas e as necessidades.