Uma central nuclear é uma instalação industrial onde é produzida eletricidade a partir de energia nuclear. Estas centrais têm um ou mais reatores onde são usados materiais radioativos como o urânio-235 e plutónio-239 que, em resultado de uma reação, produzem vapor que movimenta as turbinas para gerar eletricidade. É considerada uma fonte de alta densidade, já que uma pequena quantidade de matéria nuclear produz uma elevada quantidade de energia durante longos períodos – meio quilo de urânio é capaz de fornecer tanta energia quanto 1.360 toneladas de carvão.
A energia nuclear tem um papel importante na matriz energética dos países mais desenvolvidos, e é vista como a forma de diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e as emissões de CO2. Existem atualmente 437 reatores nucleares em todo o mundo, que forneceram 2.653 mil milhões de kWh em 2021, ou seja, cerca de 10% da eletricidade mundial. Destes, 93 estão em funcionamento nos Estados Unidos, seguido pela França (56), China (55), Rússia (37), Coreia do Sul (25), Índia (19) e Canadá (19). A maior central nuclear do mundo é a de Kashiwazaki-Kariwa, em Niigata, no Japão, tem sete reatores e uma capacidade de 8.212 megawatts. Em França, 70% de eletricidade consumida é gerada a partir de reatores nucleares. Portugal não tem qualquer central desse tipo, o único reator que teve no passado, no campus Tecnológico e Nuclear, na Bobadela, foi desmantelado em 2019. Contudo, está na dianteira mundial de incorporação de energias renováveis na produção de eletricidade.
Escalada de perigo A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) trabalha com os seus Estados-membros para aumentar a segurança e a proteção das pessoas, da sociedade e do meio ambiente de modo a evitar catástrofes. Na sinistra Escala Internacional de Acidentes Nucleares, os casos de Chernobil, na ex-URSS, em 1986, e de Fukushima, no Japão, em 2011, são considerados os maiores acidentes nucleares da história, sendo classificados como eventos de nível 7 (classificação máxima), mas há outros registos, alguns foram propositadamente esquecidos, que deixaram marcas nas populações e regiões afetadas. Um ser humano adulto pode suportar uma dose máxima de 500 roentgens (unidade internacional de medida de radiação ionizante), mas nas zonas onde se verificaram os acidentes mais graves os níveis de radiação atingiram os 20.000 roentgens por hora.
A 26 de abril de 1986 aconteceu a primeira grande catástrofe com a explosão do reator nuclear número quatro na central de Chernobyl, perto da cidade de Pripyat, no norte da ex-União Soviética, atual Ucrânia. Esta central era considerada a melhor e a mais segura de entre as 20 centrais nucleares que existiam na União Soviética e o reator de alta potência RBMK-1000 tinha no seu interior centenas de pastilhas de urânio-235 e estava em funcionamento há dois anos. O acidente aconteceu durante um teste de segurança que simulava uma falta de energia da estação, durante a qual os sistemas de emergência e de regulação de energia foram intencionalmente desligados.
Um conjunto de erros dos operadores dos reatores e falhas na conceção do projeto provocaram uma reação em cadeia dentro do reator. Houve um pico repentino e inesperado de energia e quando os operadores tentaram desligar o sistema, ocorreu um pico ainda maior na produção de energia que provocou a rutura do reator e uma série de explosões de vapor, seguidas de incêndio que libertou material radioativo para a atmosfera durante dez dias, nomeadamente materiais perigosos como o Iodo-131 e o Césio-137. A radiação foi 400 vezes superior à bomba atómica lançada sobre Hiroshima, naquele que foi o último episódio da Segunda Guerra Mundial, e as 192 toneladas de poeira e detritos altamente radioativos precipitaram-se sobre grande parte do território soviético e chegou a alguns países da Europa Ocidental. Na manhã de 28 de abril, os níveis de radiação eram tão elevados que foram detetados pela central nuclear de Forsmark, na Suécia, a mais de mil quilómetros de distância de Chernobyl. O governo soviético começou por negar qualquer incidente, mas quando os suecos disseram que iriam apresentar uma queixa oficial na Agência Internacional de Energia Atómica, os soviéticos admitiram o acidente. O incêndio foi extinto apenas a 4 de maio de 1986.
A zona de exclusão de Chernobyl compreendia 50 km2 e, no tempo da URSS, só podia ser visitada por cientistas soviéticos. Depois da independência, a lei ucraniana proíbe viver na zona, e só é possível visitar determinados locais com autorização. Os efeitos imediatos do acidente foram devastadores. O número total de vítimas continua a ser uma questão controversa, tal como foi a evacuação das 50 mil pessoas que viviam na cidade, só cerca de 36 horas após a explosão é que foi ordenada a evacuação de Pripyat. Os efeitos da explosão de vapor causaram duas mortes dentro da instalação, uma após a explosão e uma por radiação. Nas semanas seguintes, 237 pessoas sofreram de síndrome aguda da radiação e 31 morreram nos primeiros três meses. Nos anos seguintes, registaram várias mortes por cancro provocado pela radiação, especialmente entre crianças devido a cancro na tiroide. No ano 2000, o número de ucranianos que alegavam sofrer de radiação e recebiam benefícios estatais era de 3,5 milhões, ou seja, 5% da população. Muitos deles tinham estado nas zonas contaminadas ou tinham trabalhado nas fábricas de Chernobyl.
Em termos ambientais, cerca de 200.000 km2 de foram contaminados e na floresta à volta da central todas as árvores coníferas morreram. As folhas adquiriram uma cor de ferrugem, fazendo com que a região passasse a ser chamada de Floresta Vermelha. Um ano após a tragédia, a maioria dos animais invertebrados e os pequenos mamíferos morreram. Só passados dois anos a vida selvagem começou a recuperar. Foi um lento, mas estável aumento das espécies e, dez anos após o desastre, as populações de pequenos mamíferos não apresentavam sinais aparentes dos efeitos da radiação.
Dupla tragédiaEm março de 2011, uma dupla tragédia causou destruição e morte ao Japão. Um megaterramoto com magnitude de 9.1 abaixo do nível do mar, seguido de tsunami danificou a central nuclear de Fukushima Daiichi, gerando um acidente de nível 7 na escala INES. Ondas gigantescas com 15 metros de altura danificaram os sistemas de segurança da central, levando a uma falha na refrigeração e ao colapso de três dos seis reatores. O desastre provocou a libertação de produtos radioativos que levou à evacuação de mais de 150 mil pessoas e contaminaram as águas no Oceano Pacífico, afetando gravemente a vida marinha e foram detetados elementos radioativos em alimentos produzidos nas regiões próximas ao acidente. Além da destruição de indústrias, casas, comércios e espaços públicos, o desastre de Fukushima provocou a morte de mais de 1.800 moradores da região nos dois anos seguintes. Apesar dos níveis de radiação terem normalizado os habitantes não regressaram às suas casas.
Recuando a março de 1979, ocorreu outro acidente com graves consequências que foi o colapso parcial de um reator na central nuclear de Three Mile Island, em Harrisburg, na Pensilvânia, que teve grande impacto nos especialistas da indústria nuclear norte-americana. Na ocasião, uma pequena válvula foi aberta para aliviar a pressão do reator nuclear, mas devido a falhas técnicas e humanas, a válvula não voltou a fechar e permitiu que alguns gases radioativos fossem liberados para a atmosfera. O acidente foi controlado e não causou mortes nem feridos entre os trabalhadores ou membros das comunidades vizinhas. Na sequência dessa falha, houve mudanças relativas aos protocolos de emergência e testes de resistência para avaliar a segurança das centrais.
Há outro caso que pela época em que aconteceu ficou esquecido na história. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética criou um programa de desenvolvimento de armas e centrais atómicas, foi assim que surgiu a central de Mayak, na cidade de Kyshtym. Milhares de prisioneiros foram obrigados a participar da construção dessa central e, com a pressa em erguer a estrutura, a segurança foi negligenciada e o acidente aconteceu a 29 de setembro de 1957. A falha na refrigeração do complexo de produção de plutónio para armas nucleares causou uma explosão, seguida de incêndio que libertou toneladas de material radioativo. As partículas contaminaram a região e obrigou à saída de 10.000 pessoas. Durante muitos anos as autoridades soviéticas mantiveram em segredo o desastre nuclear de Kyshtym. Posteriormente, foram registadas muitas mortes e doenças graves entre a população local e, perante a pressão da comunidade internacional, o Governo soviético reconheceu a existência do acidente nuclear, em 1989.
Poucos dias depois, a 10 de outubro, novo acidente, desta vez na cidade de Windscale, em Inglaterra. A corrida ao nuclear, levou os ingleses a querer construir uma bomba atómica o mais rapidamente possível e foi nessa tentativa que teve o pior acidente nuclear da sua história. Uma falha técnica causou um incêndio num dos reatores, levando à liberação de materiais radioativos na área circundante. Para evitar o pior, as tubagens de saída foram seladas, os cartuchos de combustível removidos e o segundo reator foi desligado. As autoridades estimam que a radiação possa ter causado mais de duas dezenas de casos de cancro.