A Seleção Nacional de Andebol conseguiu um feito histórico no Mundial da principal categoria, apenas tendo sido derrotada nas meias-finais contra a poderosa Dinamarca. Não é aliás fácil de encontrar outro desporto onde uma seleção seja tão avassaladora em exibições e resultados como é o caso. Este país escandinavo que tem praticamente metade da nossa população tem sido dono e senhor dos troféus internacionais em que entra, sendo neste momento tetracampeã mundial, com os quatro títulos a serem conquistados de forma consecutiva (2019, 2021, 2023, 2025) e medalha de Ouro nos últimos Jogos Olímpicos. Esta é de longe a melhor prestação de sempre do nosso país e que foi conseguida através de uma verdadeira equipa, composta por muitos jovens jogadores, o que nos deixa excelentes perspetivas para o futuro.
Nós por cá, temos muito a tendência de olhar apenas para o futebol e todos os outros desportos são apenas paisagem para entreter alguns “carolas” que teimam em fazer vingar as suas ideias e gostos, muito mais à custa de sacrifícios pessoais do que propriamente de grandes estratégias a médio longo prazo ou investimento nomeadamente no desporto escolar, onde muito há ainda por fazer e melhorar. E temos assistido ao aparecer esporádico de grandes valores nacionais, não mais do que um, dois por geração, mas que por muito que tentem não conseguem carregar uma equipa inteira às costas. Lembro-me por exemplo do Carlos Resende no andebol, como também foi o caso de Carlos Lisboa no basquetebol, Miguel Maia no voleibol e outros talentos geracionais que não explodiram ainda mais porque o contexto num desporto coletivo exige que, acima de uma super estrela, a equipa consiga sobressair como um todo.
Isto deve-se à falta de estratégia nas modalidades mas também é culpa nossa que como público prestamos muito pouca atenção a outros desportos e só despertamos quando existem boas exibições. Muito provavelmente, para não dizer certamente, a grande maioria dos portugueses que se entusiasmaram de forma quase eufórica com os feitos dos nossos “heróis do mar” não sabiam até então o nome de um único jogador e de repente o país para, para ver uma meia-final. Somos assim um bocado como aquele “amigo” que só está lá nos bons momentos e nos outros se esquece que existimos. Temos tendência para funcionar assim, aos soluços, nos entusiasmos repentistas, no rejubilar momentâneo, no efémero apoio para depois o deixarmos perante um sono profundo, de onde só acordamos quando voltarmos a ter uma boa prestação (veja-se o projeto Olímpico). Ainda assim quanto ao Andebol o melhor mesmo é não relaxar porque esta nova geração de jogadores promete ter ainda muito para dar. Parabéns ao selecionador Paulo Jorge Pereira e a toda a equipa!
Ainda sobre o Andebol, uma nota especial para o guarda-redes Gustavo Capdeville do SL Benfica, que joga com o nome na camisola do antigo companheiro de seleção, Quintana, do rival FC Porto, que faleceu no dia 26 de Fevereiro de 2021, vai agora fazer 4 anos. No ultimo (e recente) jogo no Dragão, sob aplausos dos adeptos locais, trocou umas bolas com Alicia Quintana, que foi colocar-se na baliza onde o Pai se tornou ídolo. Fica aqui o meu aplauso para um gesto nobre que ultrapassa qualquer rivalidade e que nos ensina o que devem ser os valores do desporto.