Maioria das federações do PS apoia Pedro Nuno Santos

Maioria das federações do PS apoia Pedro Nuno Santos


Ao contrário dos senadores costistas, a maioria das bases do PS está do lado de Pedro Nuno Santos na viragem de posição quanto às políticas de migração. ‘Se estivéssemos no poder, não gerava tanta celeuma. Na oposição, há sempre opositores internos’, assume um líder distrital do PS.


Depois da entrevista de Pedro Nuno Santos ao semanário Expresso, o líder do PS foi criticado – inclusive dentro do próprio partido – depois de ter assumido que o PS «não fez tudo bem» nos últimos anos no que respeita à imigração e rejeitado um regresso ao regime da manifestação de interesse, que acabou por decisão do Governo de Luís Montenegro.

O líder dos socialistas reconheceu que «a imigração é importante para o país e para a nossa economia», mas reitera que «o país tem de ter capacidade e condições para receber quem vem para cá trabalhar e é muito importante preservarmos a coesão nacional e social». As acusações de aproximação a um discurso de direita e extrema-direita começaram a chegar por parte de nomes socialistas, o que levantou suspeitas de uma divisão interna dentro do partido.

O Nascer do SOL_foi auscultar as bases locais do partido e a grande maioria declarou apoio ao secretário-geral do PS e ao discurso sobre a imigração. «Em poucas palavras: estou absolutamente de acordo com Pedro Nuno Santos», assume o presidente da federação do PS de Guarda, Alexandre Lote. Uma afirmação replicada por quase todos os líderes distritais e regionais, que garantem ter havido uma falha de interpretação das palavras do líder do PS.

Francisco César, do PS/Açores, diz «estar de acordo com a posição do secretário-geral, que tem no seu cerne a capacidade de acolher bem e em condições quem escolhe Portugal para trabalhar e viver». Antecipa ainda que em breve «serão apresentadas publicamente propostas que terão consequências práticas» sobre esta matéria.

Já sobre as posições contrárias dentro do partido, o presidente da federação socialista dos Açores refere que «a grande vantagem do Partido Socialista é a sua pluralidade, mas, no essencial, estamos todos de acordo».

Tempestade num copo de água

Por outro lado, há quem ache que houve «aproveitamento político». «Fez-se uma tempestade num copo de água. Pode até existir alguma mudança em relação ao passado, mas nós temos de ser práticos e a política também tem de se adaptar à realidade», afirma o líder distrital de Viana do Castelo, Vítor Paulo Pereira. «Ninguém está com problemas maiores em relação à imigração, mas sente-se que, em determinadas circunstâncias, temos de ser mais pragmáticos. Também é uma forma de integrar os nossos imigrantes com mais dignidade e maiores condições».

Dentro das vozes críticas, há quem, como o PSD, tenha acusado Pedro Nuno Santos de ter mudado de opinião sobre imigração por motivos «meramente taticistas e eleitoralistas».

Uma alegação que não pega entre as estruturas locais. «É engraçado que esta conversa do PS pode parecer oportunista, mas já troquei esta opinião com o secretário-geral há um ano, quando falávamos sobre políticas de imigração. Não é de hoje», garante Vítor Pereira.

Também o líder da distrital de Viseu do PS saiu em defesa do secretário geral. «Revejo-me completamente nas afirmações de Pedro Nuno Santos. Se estivéssemos no poder, se calhar isto não gerava tanta celeuma. Quando estamos na oposição, há sempre pensamentos diferentes e opositores internos que querem demonstrar à comunicação social esse pensamento diferente, o que é legítimo», justifica Armando Mourisco.

Um tiro no pé

A recusa do regresso ao regime da manifestação de interesse e as críticas às próprias políticas do partido em matéria de imigração podem ter sido consideradas um tiro no pé para alguns militantes e apoiantes socialistas, mas também mereceu elogios.

«Reconhecer que a manifestação de interesse na imigração correu menos bem num governo a que o próprio secretário-geral pertenceu e esta capacidade de auto crítica é significado de humildade, algo que os portugueses em geral apreciam e eu, pessoalmente, registo positivamente», afirma o presidente da federação do PS do Baixo Alentejo, Nelson Brito. E acrescenta: «Há uma visão humanista e uma preocupação económica subjacente à necessidade dos imigrantes, mas integrados e com conhecimento da nossa cultura, que mais não é que o conhecimento das leis, regras e funcionamento das instituições no país».

No mesmo sentido, o líder da federação de Portalegre defende que «aquilo que o secretário-geral do Partido Socialista vem manifestar é a reafirmação de uma posição de que, obviamente, não pode haver condições de acolhimento de qualidade sem que haja uma regulação do instrumento da imigração».

«Eu conheço aquilo que o secretário-geral pensa sobre esta questão e como interpreto que as palavras do secretário-geral são assumidas é que é necessário ter condições de acolhimento de qualidade, haver uma regulação clara e instrumentos que permitam essa integração», acrescenta Luís Testa.

‘Barões’ do PS torcem o nariz a discurso de PNS

Entre as vozes críticas que se levantaram contra o discurso de Pedro Nuno Santos estão “costistas”, como José Luís Carneiro. O dirigente do PS e ex-ministro da Administração Interna considera que as declarações do líder socialista «só podem assentar em pressupostos errados» e resultam de uma “informação que conduz a conclusões erradas».

Em declarações à Rádio Renascença, José Luís Carneiro defende ainda as políticas de imigração dos sucessivos governos de António Costa, especialmente a manifestação de interesse, que o secretário-geral do partido agora critica. «O efeito de chamada de imigrantes, como mostram todos estudos realizados sobre esta matéria, está no crescimento da economia», refere.

Outra “baronesa” que também se juntou aos críticos das declarações de Pedro Nuno Santos foi Ana Catarina Mendes. A dirigente do PS e ex-ministra adjunta de António Costa olha para a posição do líder do PS como «uma aproximação à direita».

Em declarações à Renascença, defende que o «fim da manifestação de interesse é uma corrida às máfias para agarrarem as pessoas que estão em situação de extrema vulnerabilidade e que ficam entregues a redes de tráfico de pessoas e entregues à sua sorte». Ao Observador foi mais longe: «Vejo com pena a aproximação ao discurso da direita e da extrema direita».

Também Isabel Moreira ficou incomodada com as declarações do líder do PS, embora tenha preferido chamar-lhe «erro de comunicação», e acrescentou mesmo que Pedro Nuno Santos é conhecido pelas suas posições e certamente que não é com estas declarações que vai mudar de rumo.