Reformas que teimam em não sair puxavam pelo crescimento da economia

Reformas que teimam em não sair puxavam pelo crescimento da economia


Fórum para a Competitividade elogia maior estabilidade política para a ‘aprovação de reformas económicas de que o país tanto precisa e para a criação de um ambiente favorável ao investimento’


A economia portuguesa deverá crescer este ano entre 1,7% e 2,1%. As estimativas são do Fórum para a Competitividade e surgem depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter apontado para uma subida de 1,9%, enquanto o Ministério das Finanças e o Conselho das Finanças Públicas 1,8% e a Comissão Europeia, o Banco de Portugal e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) 1,7%. Ao Nascer do SOL, João César das Neves diz não estranhar esta diferença de números e lembra que as perspetivas da Universidade Católica apontam para um crescimento de 2%. «Várias as estimativas dão crescimento acima dos 2%, pelo, que essa previsão do Fórum para a Competitividade até se pode considerar prudente. Temos várias dimensões que geram uma grande incerteza global, o que justifica o intervalo alargado», refere.
A entidade liderada por Pedro Ferraz da Costa prevê um abrandamento da inflação nacional – de 2,4% em 2024 para entre 1,9% e 2,1% em 2025, com estabilização entre 1,8% e 2,1% em 2026. Mas deixa um alerta: «Os riscos geopolíticos militares podem reacender tensões inflacionistas por via dos preços da energia», referindo que, em 2025, o processo de desinflação deverá prosseguir, «num ambiente de crescimento moderado e com pressões salariais cada vez menores, sendo muito provável que se atinja o referencial de 2% do BCE».
Uma preocupação partilhada pelo Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), que alerta que a instabilidade geopolítica, incluindo conflitos internacionais e a incerteza política em várias economias-chave, como a Alemanha e a França, poderá afetar a confiança nos mercados financeiros. «A política orçamental expansionista e a implementação do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] têm o potencial de influenciar o crescimento económico e a evolução da dívida pública, particularmente em Portugal», considera. Se o Banco Central Europeu continuar a reduzir as taxas de juro, «as instituições financeiras terão de se adaptar a um ambiente económico incerto, com previsões de crescimento moderado e taxas de juro reduzidas».
Preocupação refletida pela Allianz Trade que, apesar de antever estabilidade económica na economia mundial em 2025, lembra que o cenário económico global continua sujeito a significativos riscos políticos e geopolíticos. «As tensões entre os Estados Unidos e a China, instabilidade política em economias-chave da Zona Euro e os conflitos no Médio Oriente poderão afetar a confiança dos mercados e a estabilidade económica em 2025-2026». De acordo com as suas estimativas, a Zona Euro deverá crescer apenas 1,2% em 2025, com uma ligeira recuperação para 1,5% em 2026 e chama a atenção para o facto de que «grandes economias da região, como Alemanha e França, enfrentam desafios significativos, incluindo crises políticas internas e constrangimentos estruturais nos setores industriais».
Ainda assim, acredita que os fundos europeus, como Next Generation EU, continuem a promover o investimento, incluindo em Portugal, que ainda tem 55% dos fundos disponíveis para utilização até 2026.

Reformas a ter em conta
O Fórum para a Competitividade diz ainda que «o investimento tem estado fraco», apesar de ter melhorado no quarto trimestre do ano passado, pelo menos no que respeita à construção, «que tardava em beneficiar do PRR e da crise da habitação». E acrescenta: «Além dos desafios conjunturais, é necessário recordar que Portugal continua a evidenciar um crescimento modesto, a necessitar de melhorar, como, aliás, o atual Governo definiu no seu programa».
Perante este cenário, o organismo defende que são precisas «reformas estruturais, com resultados concretos», dando como exemplo, «a reindustrialização da União Europeia para fazer face a riscos nas cadeias de fornecimento; reorientação da produção com conflitos comerciais; adaptação às alterações climáticas, quer na produção de energia, quer em múltiplas outras áreas; recuperar o atraso na economia do futuro, no campo digital, em particular na Inteligência Artificial, em linha com as recomendações do Relatório Draghi; ser fornecedor no aumento exponencial da despesa militar na NATO».
Uma preocupação partilhada por César das Neves. «Todos sabem que são precisas muitas reformas, mas com um Governo minoritário elas são quase impossíveis e mesmo com o Governo anterior, maioritário, elas não existiram. Era preciso reformar e reduzir a burocracia e o aparelho de Estado, reformar os impostos, a segurança social e as leis laborais, mas nada disto é plausível nas atuais condições» e quanto ao plano nacional, o economista destaca que «Portugal tem mostrado, em termos económicos, um cenário mais estável e favorável que o resto da Europa, mas não sabemos se ou quando a situação europeia nos afeta».
Já o Fórum para a Competitividade elogia o facto de, a nível nacional, a incerteza política ter diminuído com as últimas sondagens, o que, no entender da entidade, significa que terão decrescido o interesse de vários partidos da oposição em criar uma crise política, o que é visto como «uma boa notícia para a aprovação de reformas económicas de que o país tanto precisa e para a criação de um ambiente favorável ao investimento»