‘Vou apresentar um candidato a Belém. Não posso ficar na situação de Pedro Nuno Santos’

‘Vou apresentar um candidato a Belém. Não posso ficar na situação de Pedro Nuno Santos’


Em vésperas da convenção em que se candidata a um segundo mandato à frente da IL, espera que as questões internas fiquem resolvidas. Aposta em candidaturas próprias nas autárquicas, mas admite coligações.


Qual é o balanço que faz destes primeiros dois anos à frente do partido?

É um balanço muito positivo. A Iniciativa Liberal, neste mandato, enfrentou muitos desafios, muitas eleições. Uma parte delas nem sequer estava prevista no calendário normal. E foi agora, neste mandato, que se concretizou a entrada da Iniciativa Liberal em todos os parlamentos. E foi também neste mandato que a Iniciativa Liberal teve o seu melhor resultado de sempre, o resultado das Europeias, sendo que nas legislativas também aumentou o seu número absoluto de votos e, portanto, globalmente considerado, creio que é um mandato muito positivo, num contexto muito exigente. Para além disso neste mandato, também alargámos o espectro das políticas que apresentamos aos portugueses. Neste mandato, concluímos uma nova lei de bases da Saúde, que implica uma reforma do sistema de Saúde português bem necessária. Concluímos uma proposta abrangente para a questão da habitação, com uma visão que nos parece adequada, que é a promoção de oferta adicional ao mercado. Propusemos uma revisão do sistema eleitoral, apresentámos um manifesto de energia e ambiente e ainda, internamente, conduzimos uma revisão do programa político. Portanto, eu diria que, quer do ponto de vista da presença da Iniciativa Liberal nos parlamentos todos, quer do resultado eleitoral, sobretudo das Europeias, que foi já muito mais robusto e muito mais entusiasmante… 

E que se deveu ao efeito João Cotrim de Figueiredo? 

Vamos ver. Eu creio que, obviamente, o João é um excelente candidato, mas é uma enorme injustiça para o partido, já nem falo do seu presidente, dizer que este resultado não é do partido. Internamente, creio que presta um mau serviço ao partido e é muito injusto, porque há muito trabalho, há muitos anos, há uma equipa que foi sendo renovada, obviamente, mas que tem estado sempre na luta pela boa Iniciativa Liberal. 

As divisões internas são um dos problemas que tem enfrentado a sua liderança. Uma contestação interna que às vezes faz lembrar um partido que já tem muito mais anos de vida do que os anos que a Iniciativa Liberal tem. Acha que conseguiu, ao longo destes dois anos, pacificar o partido?

Devo dizer que estou muito ansioso pela eleição, pela convenção da Iniciativa Liberal, porque vai marcar, de facto, uma nova fase. É perfeitamente normal que haja critica, mal estaríamos se não houvesse, mas a Convenção da Iniciativa Liberal vai ser, por um lado, uma festa e uma celebração do percurso feito, e o lançamento da Iniciativa Liberal para os desafios que aí vêm. Vai ser um momento de clarificação e esse momento de clarificação vai ser muito importante para o partido. 

Espera um resultado mais claro do que obteve há dois anos, e vai tentar acolher as várias tendências? 

Nós temos seis listas ao Conselho Nacional e isso marca a enorme pluralidade da Iniciativa Liberal. Nós temos particularidades que às vezes não são bem conhecidas, mas nós somos um dos pouquíssimos partidos portugueses que têm uma convenção universal, ou seja, todos os membros participam, falam e votam e, portanto, isso é uma marca de Iniciativa Liberal muito importante. É esta diversidade de visões que está bem presente também nas listas ao Conselho Nacional. É bem um exemplo de como é abrangente a nossa capacidade e, portanto, obviamente, quando nós nos apresentamos à Comissão Executiva, apresentamo-nos com uma moção de estratégia. Temos uma equipa e é com esta equipa que o devemos fazer. 

Não reconhece nas outras correntes pessoas que possam acrescentar?

Com certeza, isso é indubitável, a Iniciativa Liberal tem essa particularidade de ter muitos quadros qualificados e há diferentes formas de participação na vida do partido, isso é que é desejável. O partido tem mesmo essa energia. 

Vai ter agora um desafio autárquico, conta com essas pessoas para candidaturas autárquicas? 

A decisão sobre as autárquicas é, antes de mais, uma decisão dos núcleos do partido. Não tenho sequer que estar a influenciar os núcleos do partido. Quanto à composição das listas que virão a apresentar, obviamente que a Comissão Executiva tem um papel de aconselhamento. 

Mas não há linhas vermelhas por exemplo para coligações? 

Mas isso o partido conhece e o partido tem essa identidade e essa consistência. 

E se lhe propuserem uma coligação algures entre a Iniciativa Liberal e o Chega? 

Não. Não acredito nisso. 

Se isso acontecer é uma linha vermelha e impedirá que aconteça? 

Não, está absolutamente claro que não há nada de comum entre a Iniciativa Liberal e o Chega. O desafio que faço aos núcleos é que se depender da vontade do seu presidente, a Iniciativa Liberal apresenta-se por regra com as suas listas. Exceção em determinadas circunstâncias e cumprindo determinados critérios. Nós temos neste momento cerca de 90 núcleos territoriais e, portanto, é a base sobre a qual se constituirão as propostas e as candidaturas da Iniciativa Liberal. Nós não vamos concorrer a todos os municípios do país, não faz sentido.

Qual é a meta que traça para a IL nas autárquicas, aumentar o número de autarcas? 

Isso é uma intenção clara. 

Já disse que a Iniciativa Liberal vai apresentar um candidato presidencial, vai ser anunciado no final da convenção, caso seja eleito? 

Eu, como candidato, tenho a obrigação de apresentar uma equipa de gestão ao partido e apresentar uma visão estratégica que está na moção de estratégia global. Um candidato a primeiro-ministro, que sou eu e seria irresponsável da minha parte não apresentar ao partido um perfil e uma pessoa concreta que se apresente às eleições presidenciais. A minha responsabilidade é não estar na posição em que está Pedro Nuno Santos, que está claramente aflito com a questão das eleições presidenciais. 

Sendo a candidatura presidencial um ato individual, o que vai fazer é um desafio a uma pessoa que já sabe que está disponível? 

Com quem obviamente já falei. Não poderia estar a falar de nomes sem falar com as pessoas. Obviamente que este nome será depois apresentado aos órgãos do partido, nomeadamente ao Conselho Nacional, com a minha convicção profunda que o perfil encontrado é um perfil que tem todas as condições para representar a Iniciativa Liberal e, mais do que isso, para trazer uma mensagem de esperança e de frescura de um país que tem que acreditar em si próprio. 

É alguém que pode ir buscar eleitorado fora da Iniciativa Liberal ou é uma candidatura para marcar o terreno do partido? 

Não, tenho a expectativa que esta candidatura, sendo uma candidatura que nasce dentro da Iniciativa Liberal, representa o seu espaço, que tem o talento reformista, o amor à liberdade, o rigor, a transparência, é uma candidatura que pode abrir depois para essa mobilização do país. Nós precisamos de voltar a acreditar em Portugal. 

É alguém que tem reconhecimento público, ou, à semelhança do que aconteceu nas últimas presidenciais, alguém que se foi buscar aos militantes da Iniciativa Liberal para fazer o seu caminho? 

É uma surpresa que reservo para os militantes da Iniciativa Liberal. 

‘Governo faz publicidade enganosa, as propostas que apresentou não permitem resultados’

Ficou claro num debate entre si e o atual primeiro-ministro que poderia haver um entendimento e que havia esse desejo, de poderem ter uma maioria para formar Governo. Isso acabou por não acontecer. Lamenta? Acha que as coisas seriam diferentes neste momento, dez meses depois das eleições, se a Iniciativa Liberal tivesse integrado o Governo? 

Não tenho dúvida que estaria. Nesse momento, os portugueses que desejavam mudança tinham duas opções, ou uma mudança mais lenta, ou uma mudança mais intensa e a proposta da Iniciativa Liberal era de uma mudança mais intensa. Nós apresentávamos esse desejo de mudança mais intenso, mais reformista. Não tenho dúvida de que se a Iniciativa Liberal estivesse incluída em qualquer tipo de solução, das duas uma, ou não entraria, ou se entrasse, seria para mudar, para puxar a decisão política para essa visão reformista. Olhando agora para o tempo passado, há uma enorme diferença, uma enorme distância entre aquilo que a AD prometia e aquilo que na verdade veio a realizar. Podemos falar até de publicidade enganosa no programa eleitoral, porque algumas coisas que foram prometidas, tenho a certeza que o próprio primeiro-ministro sabia que não era possível cumprir com as medidas que estava a apresentar ao país. Por exemplo, é impossível que os portugueses todos tenham médico de família no prazo que o primeiro-ministro assumiu, com as medidas que estavam no programa eleitoral. Era impossível promover o crescimento económico que prometeu ao país. Estamos mesmo a falar de publicidade enganosa. 

E o facto de o Governo não ter uma maioria? 

Isto é mesmo uma questão de dentro. 

Em termos da diminuição de impostos, que é um tema que a Iniciativa Liberal valoriza, o Orçamento ficou muito aquém daquilo que o Governo propunha? 

O certo é que depois de meses num drama orçamental, no final não houve nenhum tipo de acordo e poderia ter dito: bom, não chegamos a acordo, voltamos à proposta inicial. Era isso que seria esperado, que fizesse por si aquilo que tinha proposto inicialmente e que era aquilo que desejava implementar. Na falta de acordo, o que seria normal? Que se mantivesse fiel àquela versão inicial.

Se o tivesse feito e se tivesse voltado à casa de partida, acha que o PS teria tido a mesma posição na votação do Orçamento? 

Nada nos indica… Qual era no final do dia, depois daquele drama todo orçamental, a motivação do PS para ir a eleições? Nenhuma.

Foi o argumento que o Governo encontrou para não ir tão longe quanto tinha prometido? 

Parece-me evidente. E pergunta-me se estamos melhor ou se estamos pior? Do ponto de vista da abordagem teórica, a AD está um pouco mais próxima daquilo que nós defendemos. Por exemplo, na habitação, as medidas que a AD está a tomar são insuficientes e algumas foram mesmo erradas, mas pelo menos não foram um ataque cerrado à propriedade privada, à iniciativa privada. Não posso comparar uma coisa com a outra do ponto de vista da abordagem teórica da visão de país, do ponto de vista concreto dos resultados obtidos, tenho que dizer que, olhando para a habitação, nenhum passo foi dado até agora no sentido de resolver o problema do lado da oferta. 

Vamos falar da Saúde, a questão está na ordem do dia, com mais uma demissão do diretor executivo da Saúde. O que acha que isto deve ter como consequência? A demissão da ministra da Saúde? Acha que ela devia assumir a responsabilidade? 

Bom, a ministra da Saúde, no momento em que estamos a falar, tem-se escudado no parecer da CRESAP. Ora, não é a CRESAP que tem que nos dizer se a ministra da Saúde sabia ou não da incompatibilidade e, portanto, é a própria ministra que tem que definitivamente esclarecer o país sobre o seu conhecimento ou não. Se se vier a saber que sabia, acho que não tem condições para continuar em funções. Até porque é um mandato que já está muito marcado por insucessos. A questão do INEM é uma questão que é gravíssima. O plano de Verão em que foi reconhecido que falharam e agora estamos no plano de Inverno e estamos exatamente na mesma situação. 

Concorda que não é fácil resolver os problemas na Saúde?

Sim, mas com estas soluções pontuais não é possível resolver os problemas, não faz sentido continuar com este esquema de urgências rotativas, o que faz sentido é racionalizar a oferta que temos. 

Aparentemente a oferta que temos não é suficiente? 

Não é claramente suficiente para ter todas estas urgências abertas, e percebo perfeitamente que tenha de haver um esforço em pontos mais afastados. Mas nos sítios onde há sobreposição de pontos de entrada, a uma distância relativamente curta, qual é a consequência destes encerramentos rotativos e que continuam a encerrar? Não seria melhor racionalizar e assegurar que há alguns que estão sempre abertos? As pessoas sabem que estão sempre abertos e que têm equipas concentradas e, portanto, mais capazes de dar solução às pessoas. É que nem essa coragem houve até agora.

Uma das bandeiras da Iniciativa Liberal é reformar o Estado, mas tendo em conta que somos um país com muitos funcionários públicos, isso, por si só, não é um entrave ao crescimento da Iniciativa Liberal? 

Espero que não. E espero conseguir ter essa tal intervenção que faz com que aquilo que propomos seja entendido como uma coisa boa para todos. Agora tenho consciência que as pessoas têm medo. Nós, em muitas áreas, por muitas circunstâncias, chegamos ao limite das soluções que estão sobre a mesa. 

E isso pode facilitar que as pessoas tenham abertura a outras soluções?

Esse é um caminho que está a ser feito, que vai trazer o tal crescimento que nós desejamos. Falou dos funcionários públicos e das propostas da Iniciativa Liberal, nós estamos num momento do país em que temos muitos funcionários públicos a chegar à idade de reforma. São milhares por mês que estão a atingir a idade da reforma e, portanto, este é o momento certo para aproveitar este movimento para fazermos as mudanças que é necessário, sem termos de facto nenhum tipo de impacto social nas pessoas. 

Que implica necessariamente uma redução do número de funcionários públicos? 

Com uma reformulação profunda da administração pública, focando nos aspetos essenciais da atividade do Estado, deixando de lado aquilo em que o Estado se mete e não deve, modernizando, automatizando, desburocratizando. Temos a oportunidade de aproveitar este momento para chegarmos ao fim da legislatura com menos 50.000 funcionários públicos. 

E tem confiança que o atual secretário-geral do Governo cumpra essa função? 

Tenho a certeza absoluta que não vai fazer, porque isso entra na tal questão de a Iniciativa Liberal ser o único partido reformista no espetro político português. 

Supostamente este cargo foi criado para diminuir a burocracia e o peso do Estado? 

Há aqui uma confusão que acho que é deliberada. Uma coisa é esta reforma do Estado abrangente, que fala das suas funções, que fala de onde deve estar, onde não deve estar, que fala da modernização do Estado, que fala de todas estas coisas que falamos. Outra coisa é aquilo que é esperado da missão deste secretário-geral. Aquilo de que a Iniciativa Liberal, fala, permitiria libertar recursos, na ordem de 2 mil milhões de euros e uma redução de 50 mil funcionários públicos até ao fim da legislatura. O propósito do secretário-geral do Governo, assumidamente, é fazer a fusão de unidades que gravitam ao lado do Governo. Isto não é uma reforma do Estado, é uma reforma da organização do Governo que vale 20 milhões de euros. Sei que o Governo tem vendido essa ideia que vai fazer, mas isso não é verdade. Isso é mais uma vez, publicidade enganosa. Estamos a falar de 20 milhões de euros. Estamos a falar de fazer aquilo que qualquer empresa privada faz quando tem um conjunto de serviços sobrepostos. Vale 20 milhões de euros. É uma gota no oceano da despesa do Estado, que está já em 130 mil milhões de euros e é de um alcance limitadíssimo.