Um Compromisso para acabar com a pobreza e resgatar a fé na democracia


Impõem-se um compromisso social e político alargado, para combater a incessante diminuição da qualidade de vida dos portugueses, a pobreza que afeta muitos deles e a miséria que já espreita, ameaçadora, na cara dorida dos sem-abrigo.


Li na passada sexta-feira mais uma advertência do Presidente da República em relação à situação da pobreza, que se mantém estrutural na sociedade portuguesa, apesar dos cuidados paliativos que o Estado e várias instituições da chamada sociedade civil e religiosa continuam a prodigalizar, para que os seus efeitos não a convertam em pura miséria.

É uma preocupação justa e relevante, vinda exatamente de quem vem, um político que desde a revolução de Abril conhecemos sempre ativo.

Uma preocupação que, assim, se revela em forma de balanço negativo de um ciclo político próprio, mas, também, o de uma geração de políticos em vias de passar o testemunho para políticos mais novos.

Não nos iludamos, porém: a pobreza, tal como a conhecemos em Portugal, não resulta das características da nossa democracia, mas de um atraso e injustiça brutais da nossa sociedade, anterior a ela.

Com todos os defeitos e razões de queixa, a Democracia que os portugueses conquistaram com o 25 de Abril evitou, ainda assim, que a situação fosse hoje mais grave e permitiu mesmo a criação de alguns instrumentos institucionais que impediram que Portugal e os portugueses se situem, hoje, numa posição ainda mais baixa, no que se refere aos índices de democracia económica e social na Europa.

Com todos os defeitos e razões de queixa, não fossem o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública gratuita e a Segurança Social e Portugal e os portugueses estariam totalmente desiludidos com a governação que tiveram desde a revolução de Abril.

As causas da pobreza são, no entanto, evidentes para todos e, designadamente para os que têm a faca e o queijo na mão, para com ela acabar.

Refiro-me aos que mantêm o nível de salários tão baixo que impede que um jovem licenciado e exercendo uma função socialmente relevante com o é, por exemplo, a docência no ensino público, possa arrendar ou pagar uma prestação razoável pela compra de uma habitação modesta que sirva de lar a uma família que queira fundar.

Se, recentemente, o salário mínimo foi aumentado, ainda assim, para valores relativamente inferiores aos que, em geral, se praticam na Europa, já os salários médios se mantêm, aproximando – se do valor dos primeiros.

Não fosse a emigração de muitos portugueses e, especialmente, dos jovens quadros para outros países da Europa e do mundo, e a situação política e social não pareceria tão estável e pacífica.

Não fosse, igualmente, a solidariedade intergeracional dos portugueses, traduzida no apoio aos jovens trabalhadores, por parte dos pais, que lhes continuam a fornecer guarida e lhes pagam, em muitos casos, a alimentação e a dos filhos, ou a emigração teria aumentado ainda mais, e o país viveria dias de tensão inimagináveis na Europa de hoje.

Acontece que os pais e os contributos que dão tendem, naturalmente, a acabar com a inevitável morte dos primeiros.

Por outro lado, a constante e cruel política de salários baixos provoca, fatalmente, baixas taxas de natalidade, o que determina distorções no modelo de segurança social e designadamente no valor das pensões de reforma dos portugueses, que só a recente imigração tem evitado que diminuam.

A política seguida desde há cerca de cinquenta anos pelo bloco central de interesses que governa Portugal vê-se, por isso, confrontada, agora, com adversários que julgava dominados e confortados.

Só que, como aliás se observa em outras partes da Europa e do Mundo, nem esses adversários estavam dominados e confortados, nem os que hoje os reanimam, que são os mesmos interesses que antes apoiavam a política do bloco central, se contentam com os proveitos económicos escandalosos que foram promovendo e conquistando.

Mesmo que o apoio que dão a esses novos, turbulento e aparente adversário do bloco central não se destine, necessariamente, a fazer derrocar totalmente o regime democrático e as forças que o sustentam, ninguém pode jurar que sabe como tal leviandade política vai terminar.

Como aprendemos todos, no período que antecedeu II Grande Guerra, os desígnios desses novos peões políticos dos interesses económicos não são totalmente manipuláveis por ninguém, nem, tão pouco, pelos que hoje, irresponsavelmente, os insuflam.

Mesmo quando, antes da II Guerra, os seus mecenas apenas pretendiam deles que forçassem ainda mais a condescendência dos blocos centrais aos seus interesses, os novos (velhos) protagonistas políticos tomaram as rédeas do poder e provocaram uma catástrofe mundial.

Quem olhar, hoje, com olhos de ver, para o que se passa já em nosso redor não pode, de boa mente, dormir descansado.

Ou os que apoiam a Democracia decidem, por isso, e enquanto é tempo, olhar, ver e reparar nos malefícios que a política de desprezo pela qualidade de vida da maioria dos cidadãos tem vindo a provocar, ou nada garante que uma revolta – não uma revolução: uma revolta – promova a campeões da política e da governação os que de democratas nada têm.

Impõe-se, por isso, que, no mínimo, se encontre um compromisso social e político alargado, para combater a crescente diminuição da qualidade de vida dos portugueses, dos mais novos em particular, a pobreza que afeta muitos deles e a miséria que já espreita, ameaçadora, na cara dorida dos sem-abrigo.

Um compromisso planeado e que se vá evidenciando em resultados aprazados, comprováveis e comprovados e que, assim, mobilize os cidadãos em redor das forças democráticas que o subscrevam.

 Comecemos, pois, por algum lado: que tal a irradicação, a sério, das causas estruturais da pobreza, como aponta o Presidente da República?

Um Compromisso para acabar com a pobreza e resgatar a fé na democracia


Impõem-se um compromisso social e político alargado, para combater a incessante diminuição da qualidade de vida dos portugueses, a pobreza que afeta muitos deles e a miséria que já espreita, ameaçadora, na cara dorida dos sem-abrigo.


Li na passada sexta-feira mais uma advertência do Presidente da República em relação à situação da pobreza, que se mantém estrutural na sociedade portuguesa, apesar dos cuidados paliativos que o Estado e várias instituições da chamada sociedade civil e religiosa continuam a prodigalizar, para que os seus efeitos não a convertam em pura miséria.

É uma preocupação justa e relevante, vinda exatamente de quem vem, um político que desde a revolução de Abril conhecemos sempre ativo.

Uma preocupação que, assim, se revela em forma de balanço negativo de um ciclo político próprio, mas, também, o de uma geração de políticos em vias de passar o testemunho para políticos mais novos.

Não nos iludamos, porém: a pobreza, tal como a conhecemos em Portugal, não resulta das características da nossa democracia, mas de um atraso e injustiça brutais da nossa sociedade, anterior a ela.

Com todos os defeitos e razões de queixa, a Democracia que os portugueses conquistaram com o 25 de Abril evitou, ainda assim, que a situação fosse hoje mais grave e permitiu mesmo a criação de alguns instrumentos institucionais que impediram que Portugal e os portugueses se situem, hoje, numa posição ainda mais baixa, no que se refere aos índices de democracia económica e social na Europa.

Com todos os defeitos e razões de queixa, não fossem o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública gratuita e a Segurança Social e Portugal e os portugueses estariam totalmente desiludidos com a governação que tiveram desde a revolução de Abril.

As causas da pobreza são, no entanto, evidentes para todos e, designadamente para os que têm a faca e o queijo na mão, para com ela acabar.

Refiro-me aos que mantêm o nível de salários tão baixo que impede que um jovem licenciado e exercendo uma função socialmente relevante com o é, por exemplo, a docência no ensino público, possa arrendar ou pagar uma prestação razoável pela compra de uma habitação modesta que sirva de lar a uma família que queira fundar.

Se, recentemente, o salário mínimo foi aumentado, ainda assim, para valores relativamente inferiores aos que, em geral, se praticam na Europa, já os salários médios se mantêm, aproximando – se do valor dos primeiros.

Não fosse a emigração de muitos portugueses e, especialmente, dos jovens quadros para outros países da Europa e do mundo, e a situação política e social não pareceria tão estável e pacífica.

Não fosse, igualmente, a solidariedade intergeracional dos portugueses, traduzida no apoio aos jovens trabalhadores, por parte dos pais, que lhes continuam a fornecer guarida e lhes pagam, em muitos casos, a alimentação e a dos filhos, ou a emigração teria aumentado ainda mais, e o país viveria dias de tensão inimagináveis na Europa de hoje.

Acontece que os pais e os contributos que dão tendem, naturalmente, a acabar com a inevitável morte dos primeiros.

Por outro lado, a constante e cruel política de salários baixos provoca, fatalmente, baixas taxas de natalidade, o que determina distorções no modelo de segurança social e designadamente no valor das pensões de reforma dos portugueses, que só a recente imigração tem evitado que diminuam.

A política seguida desde há cerca de cinquenta anos pelo bloco central de interesses que governa Portugal vê-se, por isso, confrontada, agora, com adversários que julgava dominados e confortados.

Só que, como aliás se observa em outras partes da Europa e do Mundo, nem esses adversários estavam dominados e confortados, nem os que hoje os reanimam, que são os mesmos interesses que antes apoiavam a política do bloco central, se contentam com os proveitos económicos escandalosos que foram promovendo e conquistando.

Mesmo que o apoio que dão a esses novos, turbulento e aparente adversário do bloco central não se destine, necessariamente, a fazer derrocar totalmente o regime democrático e as forças que o sustentam, ninguém pode jurar que sabe como tal leviandade política vai terminar.

Como aprendemos todos, no período que antecedeu II Grande Guerra, os desígnios desses novos peões políticos dos interesses económicos não são totalmente manipuláveis por ninguém, nem, tão pouco, pelos que hoje, irresponsavelmente, os insuflam.

Mesmo quando, antes da II Guerra, os seus mecenas apenas pretendiam deles que forçassem ainda mais a condescendência dos blocos centrais aos seus interesses, os novos (velhos) protagonistas políticos tomaram as rédeas do poder e provocaram uma catástrofe mundial.

Quem olhar, hoje, com olhos de ver, para o que se passa já em nosso redor não pode, de boa mente, dormir descansado.

Ou os que apoiam a Democracia decidem, por isso, e enquanto é tempo, olhar, ver e reparar nos malefícios que a política de desprezo pela qualidade de vida da maioria dos cidadãos tem vindo a provocar, ou nada garante que uma revolta – não uma revolução: uma revolta – promova a campeões da política e da governação os que de democratas nada têm.

Impõe-se, por isso, que, no mínimo, se encontre um compromisso social e político alargado, para combater a crescente diminuição da qualidade de vida dos portugueses, dos mais novos em particular, a pobreza que afeta muitos deles e a miséria que já espreita, ameaçadora, na cara dorida dos sem-abrigo.

Um compromisso planeado e que se vá evidenciando em resultados aprazados, comprováveis e comprovados e que, assim, mobilize os cidadãos em redor das forças democráticas que o subscrevam.

 Comecemos, pois, por algum lado: que tal a irradicação, a sério, das causas estruturais da pobreza, como aponta o Presidente da República?