Detesto rótulos e chavões, e por isso ficava bastante irritado quando, durante a pandemia, alguém que questionasse a eficácia das vacinas ou dos confinamentos era automaticamente rotulado como ‘negacionista’. Na altura muitos achavam que colocar perguntas – quando os próprios cientistas eram afinal os primeiros a admitir que também andavam às apalpadelas – era algo quase tão grave e tão estúpido como negar o Holocausto.
Em relação às alterações climáticas, há um consenso semelhante, com a comunidade científica quase em uníssono – quase – a dizer que elas são uma realidade, e uns quantos a ripostarem que nada está provado.
Parece-me perfeitamente legítimo que se continue a colocar dúvidas e nada se dê por garantido. A ciência sempre se fez assim, contestando as verdades absolutas e pondo em causa o que a maioria considera assente de uma vez por todas.
Mas depois há os factos. E o facto é que não me lembro – e provavelmente não estou sozinho – de assistir a incêndios como aqueles que estão a devastar a área de Los Angeles. Fogos florestais sempre houve; fogos que destruíram residências também são comuns. Mas fogos que destroem casas de milhões e atingem milionários e estrelas de cinema não acontecem todos os dias, nem todos os anos, nem todas as décadas. Mais: nesta altura do ano, os fogos acontecem normalmente na Austrália, no Hemisfério Sul, não na Califórnia, onde é neste momento inverno.
Chame-se aquecimento global ou outra coisa qualquer, parece-me inegável que há fenómenos novos no clima que trazem riscos acrescidos para os humanos.
E, se é legítimo pôr em causa o aumento global da temperatura provocado pela atividade do ser humano, já não é legítimo negá-lo apenas para continuar sem fazer nada, para não abdicar de certos hábitos, para proteger certos interesses (que também os há, e muitos, do lado da ‘economia verde’, mas isso não pode servir de desculpa) ou para continuar a poluir alegremente.
Los Angeles está a arder como nunca se viu. Negacionistas ou ‘afirmativistas’, não podemos por comodismo ou por casmurrice continuar a dizer que não se passa nada. Porque bastaria haver uma pequena probabilidade de a teoria do aquecimento global ser verdadeira para termos o dever absoluto de agir para preservar o planeta, as espécies e o ambiente.