A revolução tecnológica, que começou há cerca de três décadas, continua a todo o gás. A investigação e o desenvolvimento são responsáveis por avanços científicos que continuam a colocar a humanidade no caminho da evolução, e um dos setores mais críticos é, sem dúvida, o da saúde. A tecnologia tem sido uma das grandes responsáveis pelos avanços da medicina logrados nos últimos anos, com a esperança média de vida, tal como a sua qualidade, a seguirem uma tendência ascendente.
Mas de que forma é que os fenómenos mais recentes do mundo tecnológico, como a inteligência artificial (IA), mudarão o panorama da saúde em 2025? E o que esperar da própria presidência de Trump, que nomeou Robert F. Kennedy Jr. para liderar uma mudança profunda no aparato de saúde americano?
Previsões animadoras
Bernard Marr, um influente consultor em matéria tecnológica, elencou sete tendências que alterarão a medicina ainda este ano, num artigo para a revista Forbes. São elas a revolução dos cuidados de saúde personalizados, cuidados de saúde preparados para o futuro, a tecnologia no bem-estar mental, Wearables 2.0. – BCIs e implantes, a genómica, o dilema dos dados de saúde e a resolução da crise de competências tecnológicas no setor da saúde.
As três primeiras tendências estão diretamente relacionadas com a inteligência artificial e com as bases de dados de alta performance. Os cuidados de saúde personalizados são de importância extrema, e Marr acredita que se trata de “explorar o poder da IA e dos dados para abordar todos os aspetos das necessidades únicas de um doente”. É como a diferença entre comprar roupa feita em massa ou ir a um alfaiate, onde cada singularidade do indivíduo é objeto de consideração. Quanto à capacidade de planear os cuidados de saúde a longo prazo para um crescente número de pessoas, o especialista garante que “em 2025, os decisores terão mais dados e ferramentas na ponta dos dedos do que nunca, e todos eles serão essenciais para compreender as tendências globais que afetam a saúde humana”, incluindo “a resposta às necessidades das populações envelhecidas nos países desenvolvidos e às crescentes exigências de cuidados de saúde das populações em crescimento nas regiões em desenvolvimento do mundo”.
A saúde mental ocupa uma larga porção dos debates atuais sobre saúde. Como pode a tecnologia ajudar no combate a um flagelo que cada atinge cada vez mais pessoas, em particular, os mais jovens? Bernard Marr afirma que a solução passará por “sessões virtuais de cuidados de saúde prestadas remotamente em ambiente de RV (realidade virtual) ou RA (realidade aumentada) por terapeutas humanos” e pela “utilização crescente de chatbots que podem prestar apoio instantâneo 24 horas por dia, 7 dias por semana”. “Estas tecnologias ajudarão os prestadores de serviços de saúde mental a ultrapassar uma série de desafios, incluindo a disponibilidade de recursos e o estigma por vezes associado à procura de ajuda para problemas de saúde mental”, conclui.
A questão dos implantes cerebrais é também uma questão maior nesta relação tecnologia/saúde. Não é esperado que entre em utilização já durante este ano, mas serão dados passos importantes nessa direção. Neste capítulo, a Neuralink, empresa detida pelo inevitável Elon Musk, está na linha da frente. Segundo o site oficial da empresa, a sua missão é “Criar uma interface cerebral generalizada para restaurar a autonomia das pessoas com necessidades médicas não satisfeitas hoje e desbloquear o potencial humano amanhã”. Uma declaração de intenções curta, mas carregada de significado, aportando todo um novo espetro de esperança para o desenvolvimento humano. A par do chip, a Neuralink desenvolveu um robô cirúrgico que será o responsável pela implantação do dispositivo. Não é nada menos que revolucionário.
O estudo dos genomas afigura também um dos mais importantes avanços em termos médicos. O estudo aprofundado dos mesmos, com o apoio de ferramentas tecnológicas, poderá levar os médicos e investigadores a encontrar novas soluções para problemas de saúde de gravidade conhecida, como os cancros e outras doenças genéticas. “Os dados genéticos podem ajudar os profissionais de saúde a conceber tratamentos adequados e personalizados de acordo com os perfis genéticos únicos de cada indivíduo”, pode ler-se num relatório do hospital tailandês MedPark.
Assim, todo um leque de oportunidades se abre, fomentando o debate e a inovação no ramo da medicina. E a principal diferença destas novas tecnologias em relação ao ano passado foi articulada por Greg Samios, Presidente e CEO da Wolters Kluwer Health Clinical Effectivenes: “Há seis meses, perguntávamo-nos: “O que é que tem que diga IA generativa? Agora estamos a pensar: “Como é que estão a aplicar isso à vossa proposta principal? Penso que, à medida que avançamos para o próximo ano, vamos ver mais valor real e mais valor demonstrável”.
Make America Healthy Again
Como todos os setores da sociedade, a saúde não escapa à dimensão política. E o maior ponto de interrogação de 2025 vem do outro lado do Atlântico. Donald Trump será empossado, de novo, como Presidente dos Estados Unidos no próximo dia 20, e a saúde americana está prestes a sofrer uma reestruturação de fundo. O presidente eleito nomeou Robert F. Kennedy Jr., um nome controverso no prisma da medicina, para liderar o movimento Make America Healthy Again (Tornar a América saudável novamente), numa adaptação ao slogan do seu movimento (MAGA).
O sobrinho do icónico Presidente John F. Kennedy tem defendido, ao longo dos anos, posições pouco ortodoxas, principalmente no que concerne ao assunto da vacinação. O novo “czar” da saúde levantou, em várias ocasiões, questões acerca da viabilidade do plano de vacinação infantil, chegando até a fazer uma relação entre as vacinas e o aumento do autismo nas crianças americanas.
Porém, nem tudo é mau. Kennedy levará a cabo uma campanha contra a indústria farmacêutica e alimentar, atacando os graves problemas de saúde e de nutrição que assolam os cidadãos americanos. É de notar que, e segundo dados do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais americano, os níveis de obesidade infantil (dos 2 aos 19 anos) têm respeitado uma tendência crescente, e substancial, desde a década de 1960 até aos dias de hoje. À entrada da década de 1970, 5% das crianças eram obesas. Em 2018, o valor fica muito perto dos 20%.
Assim, espera-se que 2025 seja um ano de avanços altamente benéficos para a saúde de todos. Um objetivo que será concretizado com a imprescindível ajuda da tecnologia e do estímulo à investigação e ao desenvolvimento tecnológico.