O homem que fez história em Braga ao quebrar um domínio histórico de 37 anos do Partido Socialista no município está de saída, após cumprir o seu terceiro e último mandato como presidente da Câmara.
Já a pensar na sucessão de Ricardo Rio, o PSD de Braga escolheu o vereador João Rodrigues para candidato à Câmara em 2025. Uma decisão que pode não ter sido do agrado do atual autarca, que confessou ao Jornal de Notícias ser mais favorável a uma candidatura da vereadora Olga Pereira, que tutela as Obras Públicas.
Do lado do PS, o antigo secretário de Estado das Comunidades, António Braga, foi o nome escolhido para tentar reconquistar a autarquia no próximo ano.
Ricardo Rio deixa o cargo com várias vitórias que passaram por projetos de requalificação urbana, melhoria das infraestruturas e promoção de eventos culturais. Uma gestão virada para a modernização do concelho, que foi reconhecida com a conquista de três maiorias absolutas consecutivas nas eleições autárquicas, em 2013, 2017 e 2021.
Mas nem tudo foram flores. Algumas polémicas vieram manchar o percurso de Ricardo Rio e a reputação aos olhos dos bracarenses.
Arguido no caso das viagens a Seattle
No passado dia 19 de dezembro, o presidente da Câmara de Braga confirmou à Lusa que foi constituído arguido no caso das viagens à sede da Microsoft, em Seattle, Estados Unidos da América, a convite da empresa, em janeiro de 2014.
Em causa está o alegado recebimento indevido de vantagem, por ter aceitado ir numa viagem de avião, de quatro dias, a convite da Microsoft, com bilhete pago pelo Município, e em que a multinacional pagou o alojamento e refeições, num valor de 850 euros.
Quando saíram as primeiras notícias sobre o assunto, Ricardo Rio disse que, a haver algum benefício, seria para a Câmara, que não teve os custos que teria em qualquer outra viagem de trabalho.
Segundo a revista Sábado, o caso de Ricardo Rio não é único, já que a Polícia estaria a notificar vários autarcas para os indiciar por crimes de recebimento indevido de vantagem e, eventualmente, corrupção passiva no caso das viagens aos EUA patrocinadas pela Microsoft.
Diretor de comunicação suspeito de falsificar bilhetes
Outro caso controverso que acabou por marcar o mandato de Ricardo Rio foi a saída do seu diretor de Comunicação, Ricardo Gomes, em maio de 2024, por suspeita de ser responsável pelo aparecimento de bilhetes falsos na última Rampa da Falperra.
Na altura, Ricardo Rio recusou suspender o colaborador por “alegadas suspeitas, que decorrem da sua vida privada e que não estão provadas”, mas Ricardo Gomes acabou por renunciar ao cargo por iniciativa própria.
Ao que se sabe, a GNR_ainda está a investigar e o ex-diretor de Comunicação terá já apresentado várias queixas-crime por difamação.
Um Percurso dedicado ao município
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto, onde completou também a parte curricular do Mestrado em Economia, Ricardo Rio concluiu ainda o Curso Avançado de Estudos Políticos do IEP, da Universidade Católica de Lisboa.
Foi secretário-geral da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros e diretor do Instituto Mercado de Capitais da Euronext Lisbon. Em paralelo, exerceu durante vários anos a atividade de consultoria pública e empresarial.
Mas Ricardo Rio dedicou também grande parte da vida ao município onde nasceu. A nível de cargos públicos, foi vereador na Câmara Municipal de Braga desde 2005 e membro da Assembleia Municipal de Braga, no mandato de 2001 a 2005.
Atualmente, além de presidente da Câmara de Braga, é presidente da direcção da Associação transfronteiriça de municípios “Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular”, presidente do Conselho Executivo da Comunidade Intermunicipal do Cávado e presidente dos conselhos de Administração das empresas municipais Theatro Circo e InvestBraga. É ainda membro do Comité Executivo da rede EUROCITIES e do Comité Executivo do Global Parliament of Mayors, do Comité das Regiões e da direcção da ATP (Associação de Turismo do Porto).
Futuro poderá não passar pela política
Numa publicação recente no Facebook, Ricardo Rio manifestou a “vontade de interromper paulatinamente a participação política ativa no futuro próximo (a coroar com a cessação de funções como autarca em outubro de 2025)”. Esta decisão sugere uma possível pausa na sua carreira política, embora não se saiba se será definitiva ou temporária.
