Morreu Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA e Prémio Nobel da Paz

Morreu Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA e Prémio Nobel da Paz


Tinha 100 anos e era o presidente dos EUA mais velho de sempre


Jimmy Carter, antigo presidente dos EUA, morreu este domingo aos 100 anos, na sua casa em Plains, Geórgia. 

Jimmy Carter, um governador do Sul, foi eleito presidente em 1976 depois de derrotar Gerald Ford. Foi depois rejeitado pelos eleitores após um único mandato em que foi derrotado por Ronald Reagan em 1980.

Teve uma vida pós-presidencial que incluiu a conquista do Prémio Nobel da Paz em 2002 em reconhecimento ao seu “esforço incansável para encontrar soluções pacíficas para conflitos internacionais, para avançar a democracia e os direitos humanos e para promover o desenvolvimento económico e social”.

Nascido a 1 de outubro de 1924, Jimmy Carter foi o Presidente que mais tempo viveu depois de sair da Casa Branca e foi também o Presidente norte-americano que alcançou maior longevidade, superando em 2019 a senioridade de George H.W. Bush, que morreu com 94 anos.

“O meu pai foi um herói, não só para mim, mas para todos que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta”, disse o filho Chip Carter, que confirmou a morte do pai. “Os meus irmãos, a minha irmã e partilhamos com ele e com o resto do mundo essas crenças comuns. O mundo é a nossa família devido à maneira como ele uniu as pessoas, e agradecemos por honrarem a sua memória continuando a viver essas crenças compartilhadas.”

Carter é conhecido pelo forte sentindo de responsabilidade e ligação à fé durante a sua presidência, do qual falava abertamente. Procurou também retirar um pouco de pompa à presidência e caminhou, em vez de andar de limusine, na tomada de posse 1977.

Jimmy Carter apostou numa política de conservação de energia, mandando instalar painéis solares na Casa Branca e pediu aos norte-americanos maior cuidado no consumo energético.

“Aprendi cedo que se cuidarmos da terra, ela cuidará de nós”, disse Carter, que valorizava as suas origens próximas da natureza que lhe conferiram uma maior sensibilidade para as questões ecológicas. Foi responsável pela criação dos departamentos de energia e educação.

O Médio Oriente era o foco da política externa de Carter. O tratado de paz Egito-Israel de 1979, baseado nos acordos de Camp David de 1978, terminou com um estado de guerra entre os dois países vizinhos. 

Alcançou também a ratificação dos tratados que concederam aos EUA o controlo do Canal do Panamá, retomou as relações diplomáticas totais com a China e, em 1980, quando a então União Soviética invadiu o Afeganistão, decidiu cancelar a participação dos norte-americanos nos Jogos Olímpicos de Moscovo.

Ainda com a antiga União Soviética, Jimmy Carter e Leonid Brezhnev assinaram o acordo SALT-II sobre limitações e diretrizes relativas ao uso de armas nucleares. Contudo, o tratado nunca entrou formalmente em vigor e foi considerado um dos acordos EUA-União Soviética mais controversos da Guerra Fria.

Na eleição de 1980, as questões mais importantes eram a inflação, as taxas de juros que excediam 20% e os elevados preços dos combustíveis, assim como a crise dos reféns no Irão que trouxe humilhação para a América. Essas questões minaram a possibilidade de ganhar um segundo mandato.

A 4 de novembro de 1979, estudantes, apoiados pelos guardas que faziam a segurança do edifício, invadiram a embaixada, em protesto ao apoio dado pela administração Carter ao Xá Reza Pahlavi, líder iraniano no exílio, derrubado por um movimento revolucionário que meses antes tinha transformado o Irão numa república islâmica teocrática, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Mais de 50 pessoas estiveram como reféns na embaixada durante 444 dias. Carter tentou negociar e acabou por ordenar a tentativa de resgate militar que falhou desastrosamente. Oito americanos morreram naquele que foi o momento mais sombrio do mandato de Carter.

No dia em que deixou o cargo, 20 de janeiro de 1981, os reféns foram libertados. Carter continuou as negociações nos bastidores, mesmo após a derrota eleitoral.

A esposa, Rosalynn Carter, morreu aos 96 anos, em novembro de 2023. Os Carters estiveram casados ​mais de 77 anos, o casamento presidencial mais longo da história dos EUA.

Em fevereiro do ano passado, o Carter Center, instituição que fundou, revelou que o antigo governante já estava a receber cuidados paliativos e “passaria o tempo restante de vida em casa com a família”.

Os Carters deixam quatro filhos, muitos netos e bisnetos.