“Já tenho mais de 400”. Quando um isqueiro é mais do que um ‘objeto’

“Já tenho mais de 400”. Quando um isqueiro é mais do que um ‘objeto’


Ricardo Jesus tinha 13 anos quando começou a colecionar Clippers. Aos poucos, foi-se tornando uma paixão e, neste momento, acredita que a sua coleção esteja avaliada em mais de 1000 euros. Para si, todos eles contam histórias e, pelo apreço que lhes tem, deixou de os utilizar para evitar que alguém os «roube sem querer».


Há quem não lhes dê valor, utilizando-os apenas para acender cigarros, os bicos do fogão ou velas de aniversário. No primeiro caso, é normal que estes acabem por andar de mão em mão e que se percam com o tempo. Na Infopédia este é «um utensílio, geralmente de metal ou matéria plástica, munido de um reservatório de gás ou de uma torcida humedecida de gasolina, que se inflama pelo atrito de uma roseta de aço, dentada, sobre uma pedra abrasiva apropriada». Mas para Ricardo Jesus, um isqueiro «não é apenas um objeto». Tem atualmente 24 anos e tinha 13 quando começou a sua coleção.
«Na altura não se tratava de começar a colecionar… Tinha alguns isqueiros e achava piada pelo facto de todos eles serem diferentes e especiais à sua maneira», começa por contar à LUZ. Segundo o jovem, cada coleção de isqueiros normalmente é composta por quatro Clippers.
Recorde-se que a Clipper é pioneira na fabricação de isqueiros, recargas de gás e acessórios desde 1959. De acordo com o seu site oficial, estes são reconhecíveis à primeira vista devido «ao seu formato, estilo e, acima de tudo, design». «Graças ao seu design exclusivo, que está em constante mudança e nunca se repete, os isqueiros Clipper também são valiosos para colecionadores. As estampas dos isqueiros são espirituosas, divertidas, artísticas e atuais», acrescenta.
«Lembro-me quando completei a minha primeira… Tinha uns bonecos meio espaciais… Isso fascinou-me», revela. «Daí ter começado a comprar mais… Com o passar do tempo já tinha algumas coleções completas e isso só me fez querer comprar mais. Quase como se fosse um vício», admite. Neste momento tem mais de 400 e chegou a comprar alguns a 20 euros devido à sua raridade.
Interrogado se aceita todo o tipo de isqueiros ou se há alguns que não lhe interessam, Ricardo conta que no que toca aos Clippers, por norma, aceita todos os «de tamanho normal». «Depois existem os mini e os que vêm com capas. Esses não são tão interessantes e não procuro», explica.
Os seus preferidos são desenhados por «los cogollitos»: «Por norma desenham ‘buds’ – cabeças de canábis –, mas em formato de super heróis, artistas, cantores ou de séries televisivas bastante famosas. Sempre que vejo um desses não consigo mesmo resistir», adianta.
No princípio, o jovem usava alguns dos isqueiros. No entanto, confidencia, «é sempre complicado na mão de um fumador que, por vezes, acaba por se esquecer de o devolver e… Lá se vai um Clipper da coleção», lamenta. Por isso, deixou de os utilizar. Apesar de alguns já não terem gás, Ricardo lembra que «a Clipper tem a grande vantagem dos isqueiros serem reutilizáveis e se poder meter gás sempre que se quiser». E claro que também tem muitos que «nunca foram estreados».
Segundo o mesmo, os mais raros são alguns dos «los cogollitos» que já não se produzem. «Para encontrá-los no mercado, só mesmo através de colecionadores, o que aumenta bastante o seu valor», explica. «Depois tenho também dois Clippers de uma coleção de quatro e que tenciono completá-la um dia visto que a procura dos outros dois (em falta) tem sido complicada porque são Clippers com mais de 30 anos», detalha.
«Tenho também um dos primeiros Clippers a ser produzidos ainda num tipo de metal que nem consigo identificar bem… Até tem regulador de chama, coisa que hoje em dia já não se vê sem ser nos isqueiros BIC ou isqueiros de Clic», acrescenta Ricardo. Para si, cada isqueiro conta uma história.
Relativamente ao dinheiro que já gastou, o jovem de 24 anos revela que alguns deles custaram entre sete e 30 euros há sete ou oito anos. «Nessa altura já era difícil a procura, acredito que com o passar dos anos vá aumentando essa dificuldade e o seu valor, daí ser difícil de falar num número em concreto. Até porque dificilmente um colecionador compra uma coleção inteira, por norma só compra os que estão em falta ou raridades», justifica. No entanto, acredita que a sua coleção vale, neste momento, mais de 1000 euros.
Interrogado se pensa vender, Ricardo revela que essa é uma pergunta que lhe fazem várias vezes. «Fazem-me essa pergunta muitas vezes e até me mandam a boca: ‘Vendes os isqueiros que já dá para uns bons almoços’. Sinceramente não penso em vendê-los… É uma coisa que se pode vir a alterar um dia, não sei… Mas neste momento, não tenho essa ideia, porque não se trata só do valor que tem a nível monetário, mas também do valor sentimental… Foi parte da minha adolescência e acabou por me acompanhar estes anos», garante.
Numa era em que os cigarros eletrónicos e tabaco aquecido conquistam o mercado, Ricardo afirma que é cada vez mais normal ver alguém à procura de um carregador, uma tomada onde possa carregar a sua máquina de cigarros ou até pedir a máquina emprestada, do que pedir por um isqueiro. «Na verdade, isso acaba por ser bom para um colecionador porque acaba por valorizar ainda mais os isqueiros. Acredito que, por exemplo, daqui a 10/15 anos, procurar um isqueiro será como encontrar uma agulha num palheiro», remata.