Inquérito de Natal a Eduardo Paz Ferreira

Inquérito de Natal a Eduardo Paz Ferreira


“O consumismo tomou conta de todas as nossas vidas”.


Qual foi o melhor Natal da sua vida?
Não consigo identificar qual foi o melhor Natal da minha vida, mas claro que recordo os natais em que era criança com especial ternura e nostalgia. Eram os anos em que as cadeiras à mesa estavam todas cheias e em que havia tantas casas para visitar e trocar prendas. Depois, começou o período em que as cadeiras começaram a esvaziar-se e as portas das casas a fecharem-se.

O melhor presente que recebeu?
Não sou capaz de fazer um cálculo contabilístico nesta matéria, mas diria que foram sempre aqueles que envolveram a ternura e a felicidade.

O melhor presente que ofereceu?
Do mesmo modo. Sou conhecido e criticado pelos que me estão em redor por ser um big spender, mas proporcionar alegria às pessoas é sempre a minha motivação e não consigo aprofundar mais.

Quando descobriu que o Pai Natal não existia?
Como não existia? Claro que existe e continuo a acreditar que sim. O problema é que o pobre do Pai Natal é impedido por todos os Elon Musk deste mundo, e seus braços armados, de chegar até nós. E, também, nós não conseguimos furar o muro dos poderosos que nos separam da felicidade e da fraternidade.

Presépio ou árvore de Natal?
Ambos. Não consigo perceber a necessidade de optar. Lembro-me com tanta saudade e tanta ternura dos meus natais açorianos. O mês de dezembro era muito intenso, consagrado à espera de que crescessem a ervilhaca e o trigo que iriam decorar o presépio, a árvore de Natal e a casa em geral e à ida aos campos recolher musgo para o presépio. Todas as noites ensaiávamos com a minha mãe um coro de Natal para o concerto de 24 e preparávamos as velas que ficariam nas árvores, onde ainda não existiam luzes, mas velas acesas, seguramente muito mais arriscadas, mas mais quentes no nosso coração. Para quê então estragar toda essa harmonia?

Missa do Galo ou de Natal?
Missa do Galo, em ambiente de recolhimento e reflexão sobre como fazer um mundo mais decente e isto apesar da missa já servir para anúncios televisivos a marca de azeite.

Festeja em casa ou fora?
Em casa, sempre em casa, em profunda comunhão de espírito, sem esquecer o espaço para refletir sobre os que nem casa têm.

Compra bacalhau demolhado e congelado ou seco e inteiro?
Bacalhau demolhado ou congelado não correspondem à minha noção de bacalhau.

Que vinho recomendaria para acompanhar o bacalhau? E o peru?
Pode parecer estranho, mas um belo vinho branco do Pico, ainda que, em teoria, possa reconhecer que o tinto talvez se ajuste mais. Desses, aqueles que mais gostaria sobrecarregariam de mais um orçamento já muito esticado.

Costuma ver os jogos do boxing day?
Ao longo do ano, tento não perder os grandes jogos da Premier League. Porque haveria de me punir no Natal?

Quando abre os presentes? Na noite da véspera ou na manhã de dia 25?
Na noite da véspera, como poderia dormir com tanta excitação?

Costuma oferecer presente ao seu animal de estimação?
Aos animais, estimo-os a todos. A nenhum em particular, mas se fizesse uma coisa dessas pensaria que ainda era mais parvo do que penso.

Acha que o consumismo tomou conta do Natal? A festa perdeu o seu significado?
O consumismo tomou conta de todas as nossas vidas. Como evitá-lo no Natal?

Que música associa ao Natal?
So This is Christmas (John Lennon).

Qual o melhor concerto de Natal a que assistiu?
Aos concertos de Natal do Coro da Igreja de São José em Ponta Delgada.

Faz as suas compras 1. no comércio tradicional (onde), 2. nos centros comerciais e hipermercados ou 3. na Amazon e internet?
Com a Amazon e a Internet, não me entendo. Onde encontrar comércio tradicional? Com poucas exceções nos odiosos centros comerciais.

Entre roupa, cosméticos, livros/ discos e tecnologia, o que mais gostaria de receber este Natal?
Livros. Discos praticamente não há, nem onde tocá-los.

Professor catedrático jubilado