Qual é a pressa?


No programa de debate “É ou Não É”, da RTP, em que o tema era o Orçamento de Estado, lá veio à tona, como não podia faltar, o pseudo-candidato Gouveia e Melo. A propósito, a ex-presidente do CDS-PP e antiga ministra, Assunção Cristas, lançou e bem duas notas. Assinalou que é estranho quererem tanto que…


Os debates políticos têm dinâmicas muito curiosas. Há certas questões que aparecem e desaparecem sem explicação. Outras tornam-se centrais sem que se perceba a sua alegada urgência. Por exemplo, o estranho caso do almirante presidenciável, que surge em todos os debates.

No programa de debate “É ou Não É”, da RTP, em que o tema era o Orçamento de Estado, lá veio à tona, como não podia faltar, o pseudo-candidato Gouveia e Melo. A propósito,  a ex-presidente do CDS-PP e antiga ministra, Assunção Cristas, lançou e bem duas notas. Assinalou que é estranho quererem tanto que existam candidatos presidenciais a bem mais de um ano de eleições, e que é estranho que os putativos candidatos são sempre homens.

Sobre a primeira não poderia estar mais de acordo. Qual é a pressa? Há assim tanta falta de substância no debate político para os comentadores, que é necessário recorrer à especulação para preencher algumas horas de antena? Tal como disse Assunção, saem sondagens em catadupa com pessoas que não assumiram sequer qualquer candidatura. Ou há um CandidatoGate, que só alguns conhecem, ou estamos em pleno terreno da invenção com o propósito de testar influência. Criar uma necessidade tanto ao suposto candidato como ao seu suposto eleitorado.

O almirante era um perfeito desconhecido de Portugal, chamado a cumprir uma tarefa durante o período em que fomos assolados por uma pandemia. Como efetuou o seu trabalho corretamente e as televisões cobriam obsessivamente tudo o que tinha que ver com Covid-19, Gouveia e Melo passou de ser uma figura técnica, como coordenador de vacinação, a candidato assintomático à Presidência da República.


Não se sabe se este realmente se candidatará, mas o processo de construção da sua imagem como presidenciável é claro. Um candidato moldado pela comunicação social, que aparentemente passou nos “testes de aceitação” e, talvez por isso, já considere uma eventual candidatura viável. A saga da busca incessante pelo homem providencial pode vir a ganhar mais um episódio em Portugal.

Relativamente às candidatas mulheres, é um ponto de vista relevante. Sendo que todos os presidentes são sempre diferentes, sendo a presidência da república um cargo exercido num quadro de muita personalização, poderia acrescentar-se ao leque de diferenças eleger uma presidente. Porém, até num contexto especulativo, os candidatos ventilados são sempre homens.
Perguntou e bem a ex-governante se há alguém que acredite que não há em Portugal  mulheres qualificadas para aspirar à presidência. Sendo o seu partido, o CDS-PP, um partido onde frequentemente emergem mulheres de reconhecida qualidade, líderes, logo por aí poderíamos pensar num par que faria todo o sentido considerar: a própria Assunção Cristas ou Cecília Meireles ( nome com que muitos se reconhecem pela postura e forma de olhar para o país). Representariam candidaturas enérgicas, com qualidade, e, pegando nas palavras de Aguiar-Conraria no Expresso, acerca de outra mulher, seriam “uma inspiração para a metade do país que nunca teve ninguém eleito para a presidência ou para a chefia do Governo”.

Contudo, mais importante do que precipitar especulações ou forçar debates, é respeitar o tempo e o ritmo natural do futuro processo eleitoral. A presidência da república não deve ser tratada como um jogo de apostas, onde cada jornal ou comentador tenta acertar no próximo inquilino do Palácio de Belém. O país precisa de espaço para debates mais substantivos, profundos e sem pressas. Em vez de alimentar uma corrida prematura por potenciais candidatos, seria mais proveitoso que os debates políticos se focassem nas questões de fundo que realmente importam ao país.

Qual é a pressa?


No programa de debate “É ou Não É”, da RTP, em que o tema era o Orçamento de Estado, lá veio à tona, como não podia faltar, o pseudo-candidato Gouveia e Melo. A propósito, a ex-presidente do CDS-PP e antiga ministra, Assunção Cristas, lançou e bem duas notas. Assinalou que é estranho quererem tanto que…


Os debates políticos têm dinâmicas muito curiosas. Há certas questões que aparecem e desaparecem sem explicação. Outras tornam-se centrais sem que se perceba a sua alegada urgência. Por exemplo, o estranho caso do almirante presidenciável, que surge em todos os debates.

No programa de debate “É ou Não É”, da RTP, em que o tema era o Orçamento de Estado, lá veio à tona, como não podia faltar, o pseudo-candidato Gouveia e Melo. A propósito,  a ex-presidente do CDS-PP e antiga ministra, Assunção Cristas, lançou e bem duas notas. Assinalou que é estranho quererem tanto que existam candidatos presidenciais a bem mais de um ano de eleições, e que é estranho que os putativos candidatos são sempre homens.

Sobre a primeira não poderia estar mais de acordo. Qual é a pressa? Há assim tanta falta de substância no debate político para os comentadores, que é necessário recorrer à especulação para preencher algumas horas de antena? Tal como disse Assunção, saem sondagens em catadupa com pessoas que não assumiram sequer qualquer candidatura. Ou há um CandidatoGate, que só alguns conhecem, ou estamos em pleno terreno da invenção com o propósito de testar influência. Criar uma necessidade tanto ao suposto candidato como ao seu suposto eleitorado.

O almirante era um perfeito desconhecido de Portugal, chamado a cumprir uma tarefa durante o período em que fomos assolados por uma pandemia. Como efetuou o seu trabalho corretamente e as televisões cobriam obsessivamente tudo o que tinha que ver com Covid-19, Gouveia e Melo passou de ser uma figura técnica, como coordenador de vacinação, a candidato assintomático à Presidência da República.


Não se sabe se este realmente se candidatará, mas o processo de construção da sua imagem como presidenciável é claro. Um candidato moldado pela comunicação social, que aparentemente passou nos “testes de aceitação” e, talvez por isso, já considere uma eventual candidatura viável. A saga da busca incessante pelo homem providencial pode vir a ganhar mais um episódio em Portugal.

Relativamente às candidatas mulheres, é um ponto de vista relevante. Sendo que todos os presidentes são sempre diferentes, sendo a presidência da república um cargo exercido num quadro de muita personalização, poderia acrescentar-se ao leque de diferenças eleger uma presidente. Porém, até num contexto especulativo, os candidatos ventilados são sempre homens.
Perguntou e bem a ex-governante se há alguém que acredite que não há em Portugal  mulheres qualificadas para aspirar à presidência. Sendo o seu partido, o CDS-PP, um partido onde frequentemente emergem mulheres de reconhecida qualidade, líderes, logo por aí poderíamos pensar num par que faria todo o sentido considerar: a própria Assunção Cristas ou Cecília Meireles ( nome com que muitos se reconhecem pela postura e forma de olhar para o país). Representariam candidaturas enérgicas, com qualidade, e, pegando nas palavras de Aguiar-Conraria no Expresso, acerca de outra mulher, seriam “uma inspiração para a metade do país que nunca teve ninguém eleito para a presidência ou para a chefia do Governo”.

Contudo, mais importante do que precipitar especulações ou forçar debates, é respeitar o tempo e o ritmo natural do futuro processo eleitoral. A presidência da república não deve ser tratada como um jogo de apostas, onde cada jornal ou comentador tenta acertar no próximo inquilino do Palácio de Belém. O país precisa de espaço para debates mais substantivos, profundos e sem pressas. Em vez de alimentar uma corrida prematura por potenciais candidatos, seria mais proveitoso que os debates políticos se focassem nas questões de fundo que realmente importam ao país.