A situação política em Moçambique agudiza-se a cada dia que passa e faltam iniciativas para resolver o problema. O tema eleições e a suposta fraude eleitoral apontada por todos os partidos da oposição continua a fazer correr sangue nas ruas.
No início da semana, o candidato presidencial derrotado Venâncio Mondlane dirigiu-se aos seus apoiantes e apelou para que durante três dias (de quarta a sexta-feira) abandonassem os carros nas ruas a partir das 8h00, erguessem cartazes de contestação eleitoral e fossem trabalhar. Em Maputo e Nampula houve grande adesão ao pedido de Mondlane, o que gerou monumentais congestionamentos nas principais artérias dessas cidades, é que além dos carros parados, as pessoas montaram barricadas com contentores do lixo e outros objetos. Tal como Mondlane tinha pedido, as barricadas foram levantadas às 16h00 e a situação acalmou ao fim do dia. Nas outras capitais provinciais a adesão não foi tão evidente como em Maputo.
Além dessa ação de protesto, os moçambicanos continuam a manifestar-se nas principais cidades, com o epicentro na capital. Desde o início das manifestações que temos assistido a repetidos ações extremamente violentas da Polícia da República de Moçambique (PRM), que usa gás lacrimogéneo e balas reais, agora foi a vez de os militares usarem veículos blindados contra os manifestantes que lutam com paus e pedras. A situação escalou com as imagens de um veículo das Forças Armadas de Defesa de Moçambique a atropelar uma jovem que protestava no centro de Maputo e que foi transportada em estado grave para o hospital. O veículo seguiu o seu caminho como se nada tivesse acontecido, diante de olhares incrédulos das pessoas. O Ministério da Defesa de Moçambique justificou esse comportamento com um lacónico comunicado, onde se podia ler «essa viatura estava numa missão de proteção de objetos económicos essenciais, limpeza e desbloqueio das vias de circulação, no âmbito das manifestações pós-eleitorais e fazia parte de uma coluna militar devidamente sinalizada». As imagens espalharam rapidamente pelas redes sociais e foi o rastilho para mais manifestações. Além desse atropelamento, há ainda a registar a morte de mais um manifestante na região de Maputo ocorrida ontem. Segundo a Plataforma Decide pelo menos 70 pessoas morreram e outras 210 foram baleadas em quase um mês de manifestações. Pela segunda semana consecutiva, a situação continua a explosiva em Nampula, onde três manifestantes morreram e a população ocupou uma linha férrea. Ontem, ao fim do dia, a sede da Frelimo, partido que está no poder desde 1975, foi incendiada.
Venâncio Mondlane já fez saber que os protestos vão prologar-se até ao período das festas, o que coincide com a data prevista pelo Conselho Constitucional para divulgar o resultado das eleições que deram a vitória a Daniel Chapo, da Frelimo, o que deverá acontecer poucos dias antes da época natalícia.
União Europeia reage
A gravidades dos acontecimentos levou a União Europeia (UE) a condenar a «utilização excessiva de força» ao mesmo tempo que exigiu o «fim da repressão violenta das manifestações em Moçambique». As imagens chocantes de um veículo militar a atropelar uma mulher mereceu um comentário do porta-voz da diplomacia da UE Peter Stano. «São chocantes as imagens de um veículo das forças de segurança a atropelar pessoas em Maputo. A utilização excessiva de força e a repressão violenta das manifestações têm de parar. Os direitos da população de se insurgirem e protestarem pacificamente têm de ser assegurados», escreveu Peter Stano na rede social X. O Reino Unido, EUA e Canadá exigiram ao Governo moçambicano que investigue mortes em protestos pós-eleitorais.
Depois do que vimos esta semana, não há sinais de que a situação possa acalmar e Moçambique continua num impasse. Esta semana falou-se na possibilidade de uma reunião entre o Presidente da República Filipe Nyusi e os candidatos presidenciais, mas que não se concretizou já essa reunião precisa de ter um moderador neutro e o chefe de Estado que também é líder do partido Frelimo.
Para baralhar ainda mais a situação, a Renamo, um dos principais partidos da oposição, afirmou esta semana que espera que o Conselho Constitucional declare o partido e o seu líder como vencedores das eleições de 9 de outubro tendo em conta o voto rural.