À saúde da democracia e da nossa saúde


Em Democracia, o que, antes do mais, se exige dos cidadãos é que, com as suas preferências, opiniões e voto esclarecido, contribuam para a realização do bem comum.


Vivemos, hoje, assoberbados por uma fonte inesgotável de notícias sobre a situação nacional e internacional, que nos são transmitidas em tom geralmente apocalíptico.

Quase sempre, porém, elas estão centradas em pormenores que, revestindo, é certo, alguma importância, pouco contribuem para o nosso esclarecimento e tomada de consciência sobre o que, realmente, se passa no país e no mundo.

Mesmo que informados, por exemplo, da crise do INEM, não conseguimos ver como o que se passou pode contribuir, verdadeiramente, para que possamos formar uma ideia da importância do que deve ser e como deve funcionar o Serviço Nacional de Saúde e as diferentes componentes de que ele é formado.

Discute-se se a titular governamental responsável por essa área pode e deve continuar a liderar tão importante setor: é normal.

Discute-se se a responsabilidade pelos óbitos verificados está, ou não, diretamente relacionada com a sua atuação ou, mais especificamente, com a atuação de outros elementos do núcleo de colaboradores por ela escolhidos: é importante.

Discute-se se a responsabilidade do sindicato que marcou a greve e a dos que não fixaram serviços mínimos, cuja definição tudo indicaria deveriam ter sido uma prioridade face à atempada receção no ministério do pré-aviso de que tal forma de luta dos trabalhadores desse setor poderia ocorrer: é inevitável.

Discute-se a oportunidade do momento da marcação da data da reunião entre o ministério e o sindicato, de cuja concretização dependia o acordo que, pouco tempo depois da greve realizada, foi alcançado: é forçoso.

Discute-se tudo isso e muito mais, mas, mesmo num momento de análise da proposta do orçamento do Estado para o ano 2025, não conseguimos perceber se vão ou não ser canalizados fundos suficientes para que o SNS e, nele, o INEM possam funcionar como devem.

Em suma, perdidos na inextrincável discussão de responsabilidades políticas, administrativas e até penais, escapam-nos por completo, enquanto cidadãos, os dados fundamentais do desenho e projeto que se está – ou porventura não – a planear para um setor tão importante para vida de todos nós, os portugueses e de todos os que, no nosso país, residem.

Dito de outro modo: escapa-se-nos a compreensão da política que orientará o futuro do SNS e, nele, o do INEM.

Escapa-se-nos, afinal, a discussão política sobre as opções e o modelo que queremos, ou não, para a saúde pública no nosso país.

De certo modo, e como referiu uma deputada do PCP, vivemos atordoados pela discussão dos pormenores, mas ignoramos – e nesse aspeto tal atordoamento cumpre um desígnio político – qual o futuro que está a ser desenhado para a saúde pública.

E, quando me refiro a tal desenho, tenho que reconhecer que ele é da autoria não só do governo, mas tem sido, também, de todos os que, de algum modo, navegam nas mesmas águas e aceitam como inevitáveis, sem sequer um sobressalto cívico, os mesmos pressupostos e condicionantes.

A gravidade do que se passou devia, contudo, levar-nos a todos, de uma vez, a confrontarmos, sem ambiguidades, os planos que, realmente, temos e queremos ter para o nosso SNS.

Se tal análise passa, de imediato, como referi, pela discussão e clarificação da proposta do orçamento para 2025, passa, também e não menos relevantemente, pela clarificação do projeto que se tem e da filosofia que enquadrará o futuro do SNS.

Só colocados ante uma visão global dos diferentes projetos, poderemos, enquanto cidadãos informados, conscientes e civicamente empenhados, contribuir com uma posição coletiva e mesmo pessoal para a edificação do futuro que queremos e que nos dispomos a construir.

Enquanto embrenhados apenas nos pormenores, nas responsabilidades pessoais, no gozo das críticas e açoitamentos públicos dos presumíveis culpados por factos concretos – que, no entanto, escondem opções que se mantêm inacessíveis – não chegamos a conseguir formar uma opinião sustentada e, por isso, capaz de contribuir para a definição de um setor tão importante como é o da saúde pública.

Não debatendo ideias e alternativas, e discutindo, privilegiadamente, os erros de execução, os que os cometeram e os seus resultados concretos corremos o risco de apenas desprestigiar a Democracia e os seus instrumentos essenciais.

Sem evidenciar o que em Democracia é determinante – o debate sobre projetos distintos e as suas virtualidades e defeitos – damos dela uma ideia menorizada e pouco honrada.

Em Democracia, o que, antes do mais, se exige dos cidadãos é que, com as suas preferências, opiniões e voto esclarecido, contribuam para a realização do bem comum.

Isso, porém, é o que, muito evidentemente, hoje não acontece.

Enredados nos nós cegos que atuações eventualmente incompetentes e discursos claramente capciosos dão no sistema, oferecemos, de mão beijada, todos os trunfos aos que odeiam a Democracia, embora dela se sirvam para ganhar notoriedade e posição política para, de seguida, a assaltar.

É, porventura, devido a tanto nevoeiro sobre este e outros projetos de futuro para a nossa sociedade, que se desmobiliza a vontade dos cidadãos na participação democrática, deixando crescer, no vazio assim gerado, as visões políticas diabólicas que os populismos alimentam.

À saúde da democracia e da nossa saúde


Em Democracia, o que, antes do mais, se exige dos cidadãos é que, com as suas preferências, opiniões e voto esclarecido, contribuam para a realização do bem comum.


Vivemos, hoje, assoberbados por uma fonte inesgotável de notícias sobre a situação nacional e internacional, que nos são transmitidas em tom geralmente apocalíptico.

Quase sempre, porém, elas estão centradas em pormenores que, revestindo, é certo, alguma importância, pouco contribuem para o nosso esclarecimento e tomada de consciência sobre o que, realmente, se passa no país e no mundo.

Mesmo que informados, por exemplo, da crise do INEM, não conseguimos ver como o que se passou pode contribuir, verdadeiramente, para que possamos formar uma ideia da importância do que deve ser e como deve funcionar o Serviço Nacional de Saúde e as diferentes componentes de que ele é formado.

Discute-se se a titular governamental responsável por essa área pode e deve continuar a liderar tão importante setor: é normal.

Discute-se se a responsabilidade pelos óbitos verificados está, ou não, diretamente relacionada com a sua atuação ou, mais especificamente, com a atuação de outros elementos do núcleo de colaboradores por ela escolhidos: é importante.

Discute-se se a responsabilidade do sindicato que marcou a greve e a dos que não fixaram serviços mínimos, cuja definição tudo indicaria deveriam ter sido uma prioridade face à atempada receção no ministério do pré-aviso de que tal forma de luta dos trabalhadores desse setor poderia ocorrer: é inevitável.

Discute-se a oportunidade do momento da marcação da data da reunião entre o ministério e o sindicato, de cuja concretização dependia o acordo que, pouco tempo depois da greve realizada, foi alcançado: é forçoso.

Discute-se tudo isso e muito mais, mas, mesmo num momento de análise da proposta do orçamento do Estado para o ano 2025, não conseguimos perceber se vão ou não ser canalizados fundos suficientes para que o SNS e, nele, o INEM possam funcionar como devem.

Em suma, perdidos na inextrincável discussão de responsabilidades políticas, administrativas e até penais, escapam-nos por completo, enquanto cidadãos, os dados fundamentais do desenho e projeto que se está – ou porventura não – a planear para um setor tão importante para vida de todos nós, os portugueses e de todos os que, no nosso país, residem.

Dito de outro modo: escapa-se-nos a compreensão da política que orientará o futuro do SNS e, nele, o do INEM.

Escapa-se-nos, afinal, a discussão política sobre as opções e o modelo que queremos, ou não, para a saúde pública no nosso país.

De certo modo, e como referiu uma deputada do PCP, vivemos atordoados pela discussão dos pormenores, mas ignoramos – e nesse aspeto tal atordoamento cumpre um desígnio político – qual o futuro que está a ser desenhado para a saúde pública.

E, quando me refiro a tal desenho, tenho que reconhecer que ele é da autoria não só do governo, mas tem sido, também, de todos os que, de algum modo, navegam nas mesmas águas e aceitam como inevitáveis, sem sequer um sobressalto cívico, os mesmos pressupostos e condicionantes.

A gravidade do que se passou devia, contudo, levar-nos a todos, de uma vez, a confrontarmos, sem ambiguidades, os planos que, realmente, temos e queremos ter para o nosso SNS.

Se tal análise passa, de imediato, como referi, pela discussão e clarificação da proposta do orçamento para 2025, passa, também e não menos relevantemente, pela clarificação do projeto que se tem e da filosofia que enquadrará o futuro do SNS.

Só colocados ante uma visão global dos diferentes projetos, poderemos, enquanto cidadãos informados, conscientes e civicamente empenhados, contribuir com uma posição coletiva e mesmo pessoal para a edificação do futuro que queremos e que nos dispomos a construir.

Enquanto embrenhados apenas nos pormenores, nas responsabilidades pessoais, no gozo das críticas e açoitamentos públicos dos presumíveis culpados por factos concretos – que, no entanto, escondem opções que se mantêm inacessíveis – não chegamos a conseguir formar uma opinião sustentada e, por isso, capaz de contribuir para a definição de um setor tão importante como é o da saúde pública.

Não debatendo ideias e alternativas, e discutindo, privilegiadamente, os erros de execução, os que os cometeram e os seus resultados concretos corremos o risco de apenas desprestigiar a Democracia e os seus instrumentos essenciais.

Sem evidenciar o que em Democracia é determinante – o debate sobre projetos distintos e as suas virtualidades e defeitos – damos dela uma ideia menorizada e pouco honrada.

Em Democracia, o que, antes do mais, se exige dos cidadãos é que, com as suas preferências, opiniões e voto esclarecido, contribuam para a realização do bem comum.

Isso, porém, é o que, muito evidentemente, hoje não acontece.

Enredados nos nós cegos que atuações eventualmente incompetentes e discursos claramente capciosos dão no sistema, oferecemos, de mão beijada, todos os trunfos aos que odeiam a Democracia, embora dela se sirvam para ganhar notoriedade e posição política para, de seguida, a assaltar.

É, porventura, devido a tanto nevoeiro sobre este e outros projetos de futuro para a nossa sociedade, que se desmobiliza a vontade dos cidadãos na participação democrática, deixando crescer, no vazio assim gerado, as visões políticas diabólicas que os populismos alimentam.