BISSAU – De repente foi como se o tempo voltasse para trás. No meio de África, aqui em Bissau, como aconteceu em 2002, no Mali, em Sékou, na fase final da Taça das Nações Africanas, preparo-me para ver um jogo entre dois amigos, frente a frente. Há vinte e dois anos foi o Marrocos-África do Sul, o primeiro treinado por Humberto Coelho, a segunda treinada por Carlos Queiroz. Amanhã, no Estádio 24 de Setembro, pelas quatro horas da tarde, as mesmas que em Lisboa, será a vez de a Guiné-Bissau de Luís Boa Morte se ater com Moçambique de Chiquinho Conde. Precisa a Guiné de ganhar por um golo desde que não seja 3-2, porque ainda não se adoptou por cá o novo sistema de desempate por golos casa/fora. Como o resultado em Maputo se saldou com um 2-1 para os moçambicanos, convinha aos guineenses um simpático 1-0, de forma a passarem a fase seguinte da Taça de África. Encontrei-me com ambos e trocámos palavras próprias de quem se encontra nestas situações. Mais optimista, se calhar, Chiquinho Conde, que verá a sua equipa mais fresquinha embora se prevejam uns agradáveis 34 graus para a hora do jogo. Afinal os Mambas voaram directamente de Maputo para Bissau num voo calmo de apenas oito horas enquanto os Djurtus (uma raça de cão selvagem, os maiores de África) deram quase a volta ao mundo, por assim dizer. «Amigo, sabemos com o que temos de contar», diz o Luís. «Basicamente nem conseguimos treinar: é viajar e tentar descansar».
Paris??? Mais valia não haver!
Sexta-feira passada, a Guiné-Bissau foi jogar ao Estádio Mbombela, na África do Sul, contra esse país que parece uma ligação de e-mail e se chama, agora, eSwatini, com o e minúsculo, pois então, e só falta o ponto.com. Na minha mocidade era a Suazilândia, um dos dois enclaves (o outro é o Lesotho, mas não vou ver se mudou de nome, desculpem lá) que a África do Sul alberga no seu bojo. Ora bem, esse Estádio Mbombela fica na cidade com o mesmo nome e que em tempos recentes se chamava Nespruit (as trocas de nomes encanitam-me), na antiga província do Transvaal (passou a Mpubalanga), no nordeste do país. Sendo assim, enquanto a equipa técnica e os dirigentes da Guiné-Bissau voaram para Joanesburgo, depois Lomé, capital do Togo, em seguida Dakar, no Senegal, e do Senegal a Bissau, a restante comitiva voou de Mbombela para Joanesburgo, de Joanesburgo para Paris (c’oa breca!, que raio de altura para ir a Paris!), e daí Dakar e Bissau. Entre aviões e aeroportos os jogadores somaram quase trinta e oito horas. «Assim como consigo ter a equipa em verdadeira condições?», pergunta o Luís. Meu amigo, nem me perguntes!
Claro que os guineenses que se preparam para encher amanhã o 24 de Setembro não ligam muito a estas coisas. Adoram futebol mas têm mais com se preocuparem. Com os buracos das estradas, por exemplo. Já o Boa Morte pode ter pela frente o jogo mais importante da sua carreira de treinador principal. O futebol não é caso nem de vida nem de morte, mas como dizia o velho Bill Shankly, criador do grande Liverpool: «É muito mais do que isso!»