Movimento Unidos pelo Liberalismo pondera passo seguinte na IL

Movimento Unidos pelo Liberalismo pondera passo seguinte na IL


Depois de Rui Rocha ter dito que esperava que Conselho de Jurisdição da IL tomasse ‘decisão exemplar’ sobre Tiago Mayan, há militantes a afirmar que o partido tem vários telhados de vidro, mas são situações menos graves do que falsificar assinaturas


O número dois de Tiago Mayan do movimento Unidos pelo Liberalismo, Rui Malheiro poderá ser um dos nomes a avançar para encabeçar a lista à liderança da Iniciativa Liberal nas próximas eleições do partido. O Nascer do SOL sabe que fora deste movimento outros nomes foram sondados: Francisco Cudell e Miguel Ferreira da Silva, este último foi o primeiro presidente da Iniciativa Liberal, sendo atualmente membro do conselho nacional do partido, mas tudo indica que irá manter-se afastado.
Ao nosso jornal, Rui Malheiro admitiu que cabe ao movimento decidir o que irá fazer agora com a saída de Mayan, mas já mostrou a sua disponibilidade para avançar. «O movimento Unidos pelo Liberalismo são as suas ideias e os seus valores, quem o estava a encabeçar saiu, teve o impacto que teve, mas é bom que se perceba que temos mais de 400 subscritores e não foram assim tantos aqueles que saíram depois deste escândalo».
Em causa está a saída de Mayan depois de ter falsificado assinaturas, o que levou a pedir a demissão da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no Porto, apesar de ter afirmado que nunca se apropriou de quaisquer fundos. «Os acontecimentos que conduziram à minha demissão não serviram de modo algum para meu benefício pessoal. Quero deixar bem claro que nunca, de forma alguma, me apropriei de quaisquer fundos» esclareceu em comunicado. O liberal esclareceu que o seu objetivo «foi permitir que as associações beneficiárias destes fundos não ficassem prejudicadas por quaisquer falhas procedimentais, bem como assegurar a prossecução dos seus projetos, em serviço da população e do interesse público», reconhecendo que «foi um ato manifestamente irrefletido e censurável» do qual se arrepende «profundamente», e que foi da sua «inteira e exclusiva responsabilidade», não havendo outros envolvidos. O presidente da câmara do Porto já admitiu que Mayan não teve benefício pessoal, mas mostrou-se dececionado e referiu não se sentir responsável pelos «atos irrefletidos».

Muita tranquilidade
Para já, Rui Malheiro disse que é tempo de ponderação para decidir que passos poderá o movimento seguir. «Estamos com muita tranquilidade, não estamos pressionados com a calendarização e todo este impacto que provocou ao movimento tem de ser ponderado e bem pensado para que as coisas corram o melhor possível para o movimento e é claro para o partido», lembrando que ainda não há nenhum conselho nacional agendado para marcar a convenção para eleger o próximo líder. «Neste momento, a convenção só poderá ser realizada no final de janeiro ou em fevereiro. A campanha já estava em curso, agora falta apenas uma pessoa para liderar o movimento para a candidatura à comissão executiva», mas alerta que isso «ainda não é certo».
Certo é que para muitos esta situação fragilizou o movimento e apesar de reconhecerem que «formalmente é grave, mas materialmente não, até porque não tem ganhos pessoais é suficiente para criar dúvidas».

Consequências
Já em relação às declarações do presidente da Iniciativa Liberal sobre o comportamento de Mayan ao defender que o Conselho de Jurisdição tome uma «decisão exemplar, expedita e justa», Malheiro diz que esse tema deve ser deixado ao Conselho de Jurisdição, lembrando que o partido defende a separação de órgãos e, a partir daí, caberá a este decidir se abre ou não o processo.
Recorde-se que Rui Rocha recusou-se a comentar se o ex-candidato presidencial deveria ter saído do partido por iniciativa própria. «O que é relevante é que o partido funcione, que os seus órgãos funcionem. Estas questões surgem em todos os partidos, aquilo que é diferenciador é a forma como os partidos reagem», acrescentando que «o partido vai reagir e está a reagir de acordo com os seus estatutos, não havendo invasão de competências de diferentes órgãos e permitindo ao órgão competente que avalie a gravidade dos factos e que tome a decisão pertinente».

Sair pelo próprio pé
E quando questionado se este caso pode prejudicar a IL nas autárquicas, Rui Rocha afirmou que o partido «não se define pelo comportamento de alguns dos seus atores».
Mais radical foi Carlos Guimarães Pinto que no X disse: «Repúdio e, acima de tudo, desilusão por alguém que teve a honra de ter sido o primeiro candidato presidencial apoiado pelo partido. Que o Tiago Mayan proteja a imagem do partido que ajudou a fundar saindo pelo próprio pé».
É certo que estas declarações têm criado algum mal estar junto de alguns militantes recordando que muitos dos responsáveis do partido também têm telhados de vidros e acenam com o facto de a Iniciativa Liberal ter falhado na apresentação das contas, o que levou um grupo de conselheiros a querer convocar o Conselho Nacional para pedir esclarecimentos à Comissão Executiva, o que acabou por ser marcado pela liderança do partido, tal como foi avançado pelo Nascer do SOL.
Outro exemplo que é apontado ao nosso jornal diz respeito a Rodrigo Saraiva que, para já, ainda não se pronunciou sobre o caso, mas quando estava na JSD, de acordo com o Correio da Manhã, foi eleito vice-presidente de uma secção «porque deu uma morada falsa: deu a morada de um amigo na Ajuda, quando mora em Algés». Na altura, o atual vice-presidente da Assembleia da República disse que «isso são assuntos de quem quer destruir e não construir». Também o facto de o partido ter criticado o Governo socialista por situações de nepotismo e compadrio e ter contratado a mulher de Rodrigo Saraiva não caiu bem para alguns militantes. Na altura, ao nosso jornal, o partido esclareceu que «Mónica Coelho trabalhou desde 2017 a 2019 na Iniciativa Liberal como voluntária, a custo zero, passou a ser remunerada em outubro de 2019, através de prestação de serviços, tendo passado a trabalhar a tempo inteiro na Iniciativa Liberal em 2022, após a eleição dos 8 deputados».
Outra polémica diz respeito ao presidente da mesa do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal, Nuno Santos Fernandes, que no inicio do ano passado chegou a referir que mentiu para o bem do partido.
Também o próprioCarlos Guimarães Pinto é acusado de ter aprovado o programa para as primeiras eleições europeias, em 2019, sem passar pelo Conselho Nacional, acabando por ser apresentado por este órgão, mas não foi a votos porque já tinha sido publicado.