A nova crise que na última semana dominou as atenções no país voltou a abrir a questão da necessidade de uma remodelação, nem que seja cirúrgica, mas que impeça que o Governo entre em desgaste por causa da incapacidade de gestão política de alguns membros de governo que ocupam pastas sensíveis.
O cenário de uma remodelação após votação orçamental, de que o Nascer do SOL deu conta na semana passada, mantém-se como uma hipótese plausível, embora, como é sabido, as remodelações dependem exclusivamente da vontade do primeiro-ministro, e quem faz previsões arrisca-se a falhar. No interior do Governo, há uma certeza, no que respeita a alterações no Executivo, Montenegro segue a cartilha de Cavaco Silva que, em vários momentos nos seus livros de memórias se regozija pelo efeito surpresa que em muitos momentos conseguiu provocar no país político com remodelações surpresa.
Um deputado do PSD, preocupado com o desgaste de alguns membros do Governo referia que «o mais importante não é manter o Governo intacto porque só tem sete meses, Cavaco muitas vezes surpreendia com a qualidade das escolhas que fazia para substituir ministros mais desgastados. Quando se escolhe um nome forte, a notícia não é o ministro que cai, é o ministro que entra»
As consequências dramáticas da greve do INEM, com várias investigações abertas sobre as causas da morte de 11 pessoas que no dia 4 de novembro terão sido vítimas dos atrasos na resposta do serviço de emergência médica continuam a provocar pedidos de demissão da ministra Ana Paula Martins. A própria ministra foi ao parlamento esta semana dizer que assumia a responsabilidade pelo que se vier a apurar. A questão é a que nível vai assumir essa responsabilidade.
Fontes próximas do governo acreditam que o INEM deverá levar à queda não da ministra, mas sim da secretária de estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé. A pesar na decisão está o facto de a responsabilidade pelo INEM estar a cargo desta secretária de estado à data dos factos, mas não só. Ao que foi dito ao nosso jornal, os problemas de organização no ministério têm vindo a agravar-se e a principal razão é que «aquela equipa não funciona».
Para já, aguarda-se o resultado dos inquéritos em curso, e o Governo está confiante de que esses resultados vão aliviar a pressão que tem recaído sobre Ana Paula Martins. Mas o facto de o Presidente da República ter vindo esta quarta feira juntar-se ao coro dos que pedem responsabilidade política pelo que aconteceu, pode mudar a perceção do Governo na avaliação deste caso e na atribuição de responsabilidades.
Um ex-ministro da tutela garantiu-nos que Ana Paula Martins não escolheu a sua equipa de secretários de estado, nem outros membros do seu gabinete. Quem terá aconselhado Montenegro na composição da equipa foi Eurico Castro Alves, médico do Porto que foi responsável pela elaboração do plano de emergência da saúde. Segundo este antigo governante, «uma área como a saúde, com os problemas que tem, não pode ter uma equipa que não funciona. A ministra tem que ter absoluta confiança nos seus secretários de estado, para poder fazer alguma coisa», na sua opinião, «esta é uma excelente ocasião para que ela possa escolher a sua própria equipa».
Blasco continua a levantar preocupações
Apesar de nos últimos dias ter deixado de estar no radar, a maior preocupação dos mais próximos do Governo continua a ser a permanência em funções da ministra da Administração Interna.
Tal como o Nascer do SOL escreveu na última edição, até ao final deste ano, início de 2025, uma mudança no executivo provocada pela saída de Pedro Duarte para se candidatar à Câmara do Porto, deverá ser o argumento certo para fazer outras pequenas mudanças, nomeadamente a substituição de Margarida Blasco, que ainda esta semana voltou a dizer que não há assuntos tabu nas negociações com os polícias.
A declaração passou despercebida, graças à polémica em torno das consequências da greve do INEM, mas foi ouvida no interior do Governo e voltou a levantar preocupação. «Não se percebe se se atrapalhou nas respostas, ou se mantém a opinião». Para já, Montenegro tenta manter o Executivo com paliativos. Esta semana contratou o conhecido consultor de comunicação para dar particular apoio às duas ministras que estão debaixo de fogo, mas a verdade é que há muitas dúvidas de que a comunicação resolva todos os problemas.
«Em muitos destes casos os problemas não são de comunicação, são de inabilidade política, no mínimo», lamenta um deputado social democrata, que acrescenta que o estado de graça do governo está a acabar e que é urgente que comecem a aparecer resultados, «só isso é que vai acalmar os ânimos, é preciso começar a mostrar obra urgentemente».