A Hungria, liderada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, tem mantido uma das posições mais rigorosas contra a imigração na Europa, reforçando a construção de muros e criticando duramente as políticas migratórias da União Europeia (UE). Orbán argumenta que a migração representa uma ameaça à segurança e à coesão do bloco europeu, ao mesmo tempo que enfrenta uma crescente tensão com Bruxelas por desrespeitar as regras comuns de asilo.
Desde 2015, quando milhares de refugiados sírios fugiram da guerra civil para procurar segurança na Europa, a Hungria tem defendido políticas restritivas. Orbán foi o primeiro líder europeu a descrever a chegada de migrantes como uma “invasão” e decidiu construir um muro ao longo da fronteira com a Sérvia. A barreira de 260 km, equipada com sensores de calor e câmaras de vigilância, é patrulhada por 3.000 soldados e guardas.
A retórica húngara, inicialmente isolada, ganhou força noutros países da UE, especialmente após o crescimento da extrema-direita. A Grécia, Polónia, Lituânia e Finlândia seguiram o exemplo húngaro, construindo muros para controlar as suas fronteiras. Em resposta a pedidos de financiamento, Bruxelas insiste que não apoiará a construção de barreiras físicas, mas concede fundos para reforçar a tecnologia de vigilância e a segurança fronteiriça.
Orbán reiterou recentemente que a migração “desintegrará a União Europeia”, uma declaração feita durante o Fórum de Cernobbio, em Itália. O líder húngaro defende o direito de cada país a decidir as suas políticas migratórias e afirma que “nunca deixará entrar” migrantes irregulares. Em setembro, publicou nas redes sociais que a Hungria deveria ser excluída das políticas comuns de migração da UE, reforçando a sua postura de oposição a Bruxelas.
O governo húngaro enfrenta sanções do Tribunal de Justiça da União Europeia, incluindo uma multa de 200 milhões de euros por violar regras de asilo. Em resposta, as autoridades propuseram uma medida provocatória: oferecer transporte gratuito de migrantes para Bruxelas. Bence Rétvári, secretário de Estado, afirmou que “se Bruxelas quer migrantes, pode tê-los”, referindo-se a um plano para transferir requerentes de asilo diretamente para a sede da UE.
As tensões entre a Hungria e a UE vão além da questão migratória. Bruxelas congelou milhares de milhões de euros destinados ao país devido a preocupações com violações do Estado de direito e da democracia. Orbán, por sua vez, exige compensações pelos custos associados à proteção das fronteiras e anunciou que contestará judicialmente as multas impostas pelo tribunal europeu.
Enquanto a Hungria mantém a sua presidência rotativa no Conselho da UE, o discurso de Orbán continua a polarizar o bloco, destacando as divisões entre países que apoiam políticas de acolhimento e aqueles que optam por endurecer as fronteiras.