Trump first, America second


As eleições nos EUA continuam a dominar a discussão, fazendo jus ao velho mandamento: evite a ressaca, continue bêbado


Entre visões catastrofistas e celebratórias, valha-nos a sobriedade dos factos. O regresso de Trump aconteceu com respeito pelos procedimentos constitucionais, como sabiamente recordou o Presidente em funções e Trump actuará no âmbito desses mesmos procedimentos. Conquistada a Presidência e o Senado, havendo uma maioria pró-Trump no Supreme Court e sendo provável que os Republicanos venham a controlar a Câmara dos Representantes, os checks and balances previstos na Constituição dos EUA mantêm-se. Já em 2026 haverá mid term elections que o Presidente em funções costuma perder. Tal significa que o Partido Democrata tem, rapidamente, de voltar a conseguir comunicar com o eleitorado e apresentar candidatos capazes de fazer cair a maioria Republicana no Senado e, caso venha a existir, na câmara baixa do Congresso.

            À semelhança dos americanos, o resto do mundo vai ter de viver com Trump, falar com Trump, dar graxa a Trump, negociar com Trump. O re-eleito Presidente é o epítome do modelo transaccional da actividade política: tudo pode ser negociado, todos os temas podem ser objecto de uma transacção: What’s in it for me? Numa negociação a percepção do ganho é subjectiva e os enviesamentos podem ser explorados a favor dos objectivos negociais de cada uma das partes.

            O livro “Trump para tótós” já tem vários capítulos, baseados em exemplos históricos. Stoltenberg que, enquanto Secretário Geral da NATO, viu o mandato prorrogado antes da eleição de Trump para evitar que The Donald pudesse sugerir um nome para tal cargo, teve direito a um pequeno-almoço televisionado em que Trump anunciou o fim da cláusula de legítima defesa colectiva para os Aliados que não cumprissem as metas de despesa em defesa. Desde então passou a referir-se a Trump como o responsável pelo aumento da despesa dos Aliados com defesa, sabendo perfeitamente que esse aumento já tinha começado antes de Trump ser eleito Presidente. Trump passou a citar, elogiosamente, Stoltenberg como notário da sua genial capacidade de gerir chefes de Estado e  de Governo.

            O Primeiro Ministro japonês Shinzo Abe, herdeiro de várias gerações de hábeis políticos, identificou, logo em 2015, no recém-eleito Trump um gosto pela vitória, com destaque para as competições desportivas. Adequando a simbologia ao personagem, ofereceu-lhe, no green de Mar-a-Lago (que se veio a tornar a “Casa Branca de Inverno”), um taco dourado. Quando jogava golfe com Trump nunca se esquecia de começar a perder, normalmente por altura do 16º buraco dos 27 que conta Mar-a-Lago. Garantia assim, para as questões verdadeiramente importantes, um capital de boa vontade por parte do auto-proclamado habilidoso autor formal de The Art of the Deal.

            Aqui pela Europa descobrimos, mais uma vez, que não temos voto nas eleições americanas mas que temos de viver com as consequências. As boas (petróleo e gás natural mais baratos), as más (menos exportações para os EUA, menos PIB, mais desemprego) e as assim assim (maior despesa com defesa, na NATO e com a guerra na Ucrânia).

            Pelos EUA as Trumponomics (aumento dos direitos alfandegários) e a redução da imigração trarão maior inflação (ironicamente foi a inflação que derrotou Harris). Na gestão dos Jobs for the boys vai ser preciso acomodar na Administração Federal personagens como Elon Musk (candidato a responsável pelo Simplex nos EUA…) ou RFK Jr. (Secretário para as teorias da conspiração?).

Trump first, America second


As eleições nos EUA continuam a dominar a discussão, fazendo jus ao velho mandamento: evite a ressaca, continue bêbado


Entre visões catastrofistas e celebratórias, valha-nos a sobriedade dos factos. O regresso de Trump aconteceu com respeito pelos procedimentos constitucionais, como sabiamente recordou o Presidente em funções e Trump actuará no âmbito desses mesmos procedimentos. Conquistada a Presidência e o Senado, havendo uma maioria pró-Trump no Supreme Court e sendo provável que os Republicanos venham a controlar a Câmara dos Representantes, os checks and balances previstos na Constituição dos EUA mantêm-se. Já em 2026 haverá mid term elections que o Presidente em funções costuma perder. Tal significa que o Partido Democrata tem, rapidamente, de voltar a conseguir comunicar com o eleitorado e apresentar candidatos capazes de fazer cair a maioria Republicana no Senado e, caso venha a existir, na câmara baixa do Congresso.

            À semelhança dos americanos, o resto do mundo vai ter de viver com Trump, falar com Trump, dar graxa a Trump, negociar com Trump. O re-eleito Presidente é o epítome do modelo transaccional da actividade política: tudo pode ser negociado, todos os temas podem ser objecto de uma transacção: What’s in it for me? Numa negociação a percepção do ganho é subjectiva e os enviesamentos podem ser explorados a favor dos objectivos negociais de cada uma das partes.

            O livro “Trump para tótós” já tem vários capítulos, baseados em exemplos históricos. Stoltenberg que, enquanto Secretário Geral da NATO, viu o mandato prorrogado antes da eleição de Trump para evitar que The Donald pudesse sugerir um nome para tal cargo, teve direito a um pequeno-almoço televisionado em que Trump anunciou o fim da cláusula de legítima defesa colectiva para os Aliados que não cumprissem as metas de despesa em defesa. Desde então passou a referir-se a Trump como o responsável pelo aumento da despesa dos Aliados com defesa, sabendo perfeitamente que esse aumento já tinha começado antes de Trump ser eleito Presidente. Trump passou a citar, elogiosamente, Stoltenberg como notário da sua genial capacidade de gerir chefes de Estado e  de Governo.

            O Primeiro Ministro japonês Shinzo Abe, herdeiro de várias gerações de hábeis políticos, identificou, logo em 2015, no recém-eleito Trump um gosto pela vitória, com destaque para as competições desportivas. Adequando a simbologia ao personagem, ofereceu-lhe, no green de Mar-a-Lago (que se veio a tornar a “Casa Branca de Inverno”), um taco dourado. Quando jogava golfe com Trump nunca se esquecia de começar a perder, normalmente por altura do 16º buraco dos 27 que conta Mar-a-Lago. Garantia assim, para as questões verdadeiramente importantes, um capital de boa vontade por parte do auto-proclamado habilidoso autor formal de The Art of the Deal.

            Aqui pela Europa descobrimos, mais uma vez, que não temos voto nas eleições americanas mas que temos de viver com as consequências. As boas (petróleo e gás natural mais baratos), as más (menos exportações para os EUA, menos PIB, mais desemprego) e as assim assim (maior despesa com defesa, na NATO e com a guerra na Ucrânia).

            Pelos EUA as Trumponomics (aumento dos direitos alfandegários) e a redução da imigração trarão maior inflação (ironicamente foi a inflação que derrotou Harris). Na gestão dos Jobs for the boys vai ser preciso acomodar na Administração Federal personagens como Elon Musk (candidato a responsável pelo Simplex nos EUA…) ou RFK Jr. (Secretário para as teorias da conspiração?).