Reforma. Nunca digas nunca!


O futebol é uma paixão que se leva para a vida. O exemplo mais recente vem de Szczesny, que deixou a reforma dourada de Marbella para defender a baliza do Barcelona. Também Maradona, Pelé e Cruyff disseram adeus e… depois voltaram.


FC Barcelona

Alguns futebolistas permanecem em atividade durante muito tempo. Outros vão embora cedo demais, só que a paixão pelo futebol e as dificuldades de adaptação a uma nova vida acabam por trazê-los de volta aos relvados. Quando nada o fazia prever, o guarda-redes polaco Tomasz Szczesny decidiu retirar-se no final da época passada, mas um mês depois aterrou em Barcelona para substituir Marc ter Stegen, que se lesionou com gravidade e vai ficar de fora longos meses. O treinador dos catalães Hansi-Dieter Flick e o diretor desportivo Deco decidiram contratar um guarda-redes experiente e surgiu o nome de Szczesny, era ele ou mais ninguém. É a segunda vez que a lesão de um colega altera a sua trajetória de vida, a primeira foi quando Fabianski se lesionou e abriu a porta da titularidade no Arsenal.

Tomacs Szczesny tornou-se um guarda-redes seguro e um dos melhores da sua geração antes de decidir pendurar as luvas no final de 2023/24 depois de rescindir com a Juventus, com quem tinha mais um ano de contrato. “Dei 18 anos da minha vida ao futebol, todos os dias, sem exceção. O meu corpo ainda se sente preparado para os desafios, mas o meu coração não está. Sinto que chegou a altura de dedicar toda a minha atenção à família. Foi por isso que decidi retirar-me do futebol profissional”, anunciou a 27 de agosto. Afinal, a reforma prematura não passou de um curto adeus até receber uma atrativa proposta financeira e voltar a reencontrar o seu grande amigo e colega de seleção Robert Lewandowski num dos grandes clubes da Europa.

Agora, aos 34 anos, volta à ação com a camisola do Barcelona, que ganhou um lugar no seu coração. “Têm sido dias muito bons e estimulantes. O início foi difícil do ponto de vista físico, mas preparei-me bem e estou pronto. Jogar ou não é uma decisão do treinador, que devo respeitar. Mas estou a treinar para jogar e, mentalmente, estou preparado. É um grande desafio, mas o mais importante são as vitórias porque promovem o bom relacionamento no plantel e dão vantagem na classificação”.

O guarda-redes triunfou na Premier League inglesa e na Serie A italiana e conquistou um lugar na seleção da Polónia, disputou quatro Campeonatos da Europa e dois Campeonatos do Mundo. Desde muito cedo ganhou o reconhecimento dos técnicos e destacou-se pela sua habilidade e agilidade entre os postes, bem como pela capacidade para ler o jogo desde a baliza. Obteve vários títulos importantes e foi um elemento determinante nas equipas por onde passou. No foi por acaso que Arsène Wegner, teinador do Arsenal, declarou que tinha grande potencial. Durante a sua passagem pelos gunners, Szczesny ganhou por duas vezes a Taça de Inglaterra e uma Community Shield, a Supertaça inglesa.

Em 2015, mudou-se para Itália para jogar na Roma, mas as exibições de grande nível levaram a Juventus a contratá-lo, em 2017, para ser suplente da lenda Gianluigi Buffon. O seu desempenho e as defesas extraordinárias catapultou-o para guarda-redes principal da Juventus, onde venceu três campeonatos, três Taças de Itália e duas Supertaças.

Regressos famosos Alguns dos melhores jogadores da história do futebol decidiram arrumar as botas em determinada altura da sua carreira, mas por paixão pelo futebol ou por necessidade financeira voltaram aos relvados.

Pelé anunciou o fim de carreira em 1974 quando jogava no Santos. Contudo, a estrela brasileira voltou aos relvados no ano seguinte para jogar no New York Cosmos com um contrato milionário de oito milhões de dólares por três anos, numa altura em que passava por dificuldades financeiras, fez 75 jogos e marcou 37 golos. Foi a primeira grande ação para popularizar o futebol na terra da bola oval e que levou Clive Toye, presidente do Cosmos, a dizer: “Se for para o Real Madrid ou Juventus, tudo o que pode ganhar é outro campeonato. Se vier para o Cosmos, podemos ganhar um país”. As suas qualidades técnicas e físicas e a extraordinária inteligência com e sem bola ajudaram o Cosmos a vencer dois campeonatos nos Estados Unidos. Em 1977, com 36 anos, arrumou as chuteiras definitivamente para se dedicar a escrever livros sobre a sua vida, compor música e participar em alguns filmes. Esteve também envolvido em causas a favor de crianças desfavorecidas.

O mágico Maradona Depois de ter sido apanhado num controlo antidoping no Mundial dos Estados Unidos, em 1994 o astro argentino Diego Maradona esteve afastado do futebol por alguns meses. Regressou em 1995 para jogar no Boca Juniors, mas no ano seguinte retirou-se devido a uma situação extradesportiva. Em 1977 voltou à Bombonera na tentativa (falhada) de ser campeão: “Espero que este regresso seja o definitivo, o melhor e o último. Estou motivado e vou deixar tudo em campo”, afirmou Maradona. Perdeu 11 quilos em dois meses para ganhar um lugar na equipa, mas a sua presença no relvado foi breve e marcou apenas sete golos.

Johan Cruyff decidiu deixar o futebol no final da época 1977/78, com 31 anos, num jogo amigável entre o seu clube, o Barcelona, e o Bayern de Munique. Foi um final provisório já que poucos meses depois regressou para jogar nos Estados Unidos, foi a forma de equilibrar as finanças depois de investimentos desastrosos que o levaram a perder muito dinheiro com a criação de animais. Cruijff jogou primeiramente no Los Angeles Aztecs e foi eleito o melhor jogador da North American Soccer League em 1979, depois rumou para o Washington Diplomats e vestiria ainda a camisa do New York Cosmo.

Terminada a aventura americana, Cruijff voltou a Espanha para jogar no Levante, que estava na segunda divisão, onde fez dez jogos e marcou dois golos na temporada 1980/81. Decidiu regressar ao seu país e ao Ajax onde jogou duas temporadas, sendo quase sempre substituído por Van Basten. Foi despedido do clube em 1983 e, em jeito de vingança, foi jogar para o eterno rival, o Feyenoord, onde terminou a carreira com 37 anos e 13 golos marcados em 44 jogos.

O avançado alemão Jürgen Klinsmann jogava no Tottenham quando decidiu pôr ponto final na carreira e ir viver para a Califórnia, nos EUA. Cinco anos depois, não resistiu à tentação de voltar aos relvados com o Orange County Blue Stars, onde disputou oito jogos e marcou cinco golos.