O balão encarnado e o ‘Complexo-de-Zorro’

O balão encarnado e o ‘Complexo-de-Zorro’


Cheio de vento, o triste balão encarnado esvaziou-se em instantes por via de uma estratégia inexistente…


Não foi preciso esperar muito para que Bruno Lage voltasse a ser o Bruno Lage que já nos habituámos a conhecer. Embalado docemente pelos elogios em que foi envolvido após a goleada ao Atlético de Madrid (até eu, com sacrifício, o elogiei, que Deus me perdoe!), mergulhou numa insipiência e num desleixo digno de divisões secundárias. E, ao querer encarar o Feyenoord como um adversário fácil, desprezando de forma básica a realidade daquilo que é a Liga dos Campeões, voltou a ser enxovalhado como várias vezes o foi na sua anterior passagem pelo Benfica, logo em casa, e frente ao provavelmente adversário mais frágil de todos os que teve e terá pela proa nesta prova. Nenhum dos muitos milhares de adeptos que acorreram ao estádio, multiplicados pelos milhões que terão estado em frente das televisões, deixou de se sentir envergonhado pela exibição dos encarnados na noite de quarta-feira. Cheio de vento, o triste balão encarnado esvaziou-se em instantes por via de uma estratégia inexistente e de um desconhecimento total das virtudes da equipa holandesa que foi apenas segunda no seu campeonato da época passada. Assistimos ao terror de um grupo de jogadores que não tinha a mínima ideia do que fazer em campo, abrindo crateras na defesa e dedicando-se a individualismos absolutamente inaceitáveis. E o Benfica, que tinha tudo para somar nove pontos ao fim de três jornadas, tornando-se um sério candidato a chegar aos play-offs, atirou pela borda fora toda a credibilidade, sendo agora, por muito doloroso que o que escrevo possa ser, um dos mais que prováveis eliminados já nesta fase.

Veremos as consequências imediatas. Bruno Lage e a sua equipa vão, afinal, nus. O espancamento de que foram vítimas pelo Feyenoord (o resultado acabou por ser manso) mostra à saciedade que a substituição de Roger Schmidt foi feita em cima do joelho e recaiu sobre alguém que andava por aí, ó tio ó tio, à espera que um naco de broa lhe caísse do céu aos trambolhões. Percebe-se porque se multiplicaram as recusas para ocupar o posto. Já não se compreende é que ela tenha recaído sobre os ombros de alguém sem estrutura técnica e mental para tanta responsabilidade. O que aí vem só promete mais barracas do mesmo calibre. A festa foi curta e injustificada.

O ‘Complexo-de-Zorro’

Ao mesmo tempo que a sua equipa vai exibindo uma saúde de ferro em todas as competições e caminha serenamente para um bi-campeonato que só não será um facto se Rúben Amorim resolver, de um dia para o outro, enfiar os pés pelas mãos, Frederico Varandas, uma personalidade apagada e desinteressante, sente uma estranha necessidade de ser visto e ouvido, mesmo que o seu discurso seja oco e eivado de farronca. A primeira vez que se precipitou em ataques descabidos, convicto de que podia dizer o que lhe desse na real gana sem consequências, chamou bandido (ou coisa que o valha) ao ex-presidente do FC Porto e ficou embrulhado num processo que o assustou de sobremaneira, a ponto de me ter solicitado que lhe fornecesse as decisões do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que, no meu caso, arrasaram as sentenças que a podre justiça portuguesa tinha proferido contra mim. Não sei o que aconteceu entretanto, mas desejo sinceramente que lhe tenha feito bom proveito porque acho que nem eu nem ele estamos convidados para o funeral de Pinto da Costa – se estiver agradeço mas não vou! Há, em Varandas, uma espécie de ‘Complexo-de-Zorro’, como se se arvorasse a justiceiro do futebol nacional. Será talvez preciso recordar-lhe que, mesmo não fazendo parte da direção, esteve ao lado de todas as tranquibérnias arquitetadas porBruno de Carvalho e que levaram ao extremo de assistirmos a profissionais do Sporting serem agredidos pelos adeptos com o beneplácito do presidente. Que, durante o tempo em que assumiu o cargo de médico do Sporting, um tal de Paulo Pereira Cristóvão, vice-presidente do clube, escutava árbitros, invadia as suas casas e mandava depositar dinheiro nas suas contas tendo sido, por isso, condenado a quatro anos de prisão em pena suspensa. Pode Frederico Varandas bradar aos sete ventos que não tem nada que ver com os processos Cashball e com os milhões que que terão sido transferidos por Álvaro Sobrinho do BESAngola e que deram lugar a uma investigação sobre branqueamento de dinheiro. O que não pode, e sobretudo não deve, Frederico Varandas, é andar por aí aos gritos com a boca cheia de pecados alheios quando não teve, na altura de a ter, coragem para se demitir das suas funções – mesmo que fossem de simples esculápio – de forma a distanciar-se de todas essas porcarias. Sacuda-se, se quiser, mas não se livra de ver o lixo que sacode voltar a colar-se-lhe ao pelo. Por mim, habituado que estou aos discursos pacóvios que se propagam pela imprensa e que, felizmente, se desvanecem com a mesma facilidade com que se desvaneceu a bolha de sabão de Bruno Lage, é, como diz o povo, de Santa Marta de Penaguião a Óis da Ribeira, para o lado em que durmo melhor. Mas, desculpem lá, a bazófia encanita-me. É feitio…