Ainda me lembro de uma história que corria na família, de um certo latifundiário que na sua lua de mel tinha levado uma mala cheia de dinheiro para as despesas. Sucede que o dinheiro esgotou-se mais depressa do que estava previsto, pelo que ele teve de dar ordens para casa para lhe levarem um novo carregamento.
Eu próprio quando, em 1996, parti numa viagem de um mês pela Europa, levava na carteira alguns francos, talvez algumas pesetas, marcos alemães e uma reserva de dólares americanos para o que desse e viesse. (Ao contrário do tal latifundiário, geri-os com parcimónia e não foi preciso ligar para casa a pedir um reforço).
Desde a entrada em vigor do euro tudo se tornou mais simples. E a generalização das máquinas ATM fez o resto.
Hoje, os adeptos das novidades não dispensam o revolut, que funciona como um cartão de crédito mas cobra taxas mais baixas do que as empresas “tradicionais” como a Visa e a Mastercard.
E vê-se cada vez mais pessoas a aderirem às novas formas de pagamento. Curiosamente não são só os jovens: ainda recentemente fiquei de boca aberta ao ver um senhor com idade para estar reformado a pagar uma compra com o telemóvel.
Desde o metal sonante, passando pelas notas (e os cheques, lembram-se?) e o dinheiro de plástico, parece indesmentível que existe uma tendência para a desmaterialização do dinheiro. O próprio setor bancário também tem evoluído rapidamente, e hoje podemos, num minuto, realizar no computador ou no telemóvel operações que antigamente nos obrigavam a ir ao banco e a ficar longos períodos numa fila de espera.
E a outra face da moeda? Os pagamentos digitais são muito mais cómodos, mas essa facilidade leva a que gastemos mais facilmente e, quem sabe, sem nos apercebermos disso. Ao mesmo tempo, estamos cada vez mais dependentes de uma tecnologia que não dominamos nem percebemos. Se ela nos falha, não saberemos como resolver o problema. E, por fim, também estamos mais expostos a fraudes e ciberataques. Já me falaram duns quantos. Mas também me recordo de um amigo que há muitos anos, antes de ir para Espanha, deixou o carro numa oficina e esqueceu-se lá de um envelope cheio de dinheiro para a viagem. Por sorte, o mecânico era sério.