Idan Shtivi: Quem era o refém luso-israelita raptado pelo Hamas?


O jovem tinha 28 anos e estava a fotografar amigos ao festival Supernova. No entanto, aquele dia constituiu o seu maior pesadelo.


Shark And Stitch

Depois de exatamente um ano de incerteza, as autoridades israelitas confirmaram, esta segunda-feira, a morte de um cidadão luso-israelita, refém do Hamas desde o dia 7 de outubro do ano passado. A vítima é Idan Shtivi, de 28 anos, que estava no festival de música trance Supernova – a versão israelita de um festival que teve início na Bahia, no Brasil, como Universo Paralello -, onde morreram mais de 300 pessoas, na sequência do ataque do Hamas, que fez centenas de reféns. O terror espalhou-se, há um ano, no deserto de Negev, que fica aproximadamente a 5 km da fronteira entre Israel e Gaza.

O jovem, estudante de ciências ambientais, foi sequestrado pelos terroristas do Hamas, quando estava a tirar fotografias do festival.

Ainda tentou telefonar à sua namorada, Stav, para a avisar sobre a situação de emergência, mas ao tentar deixar o local com amigos, o seu carro foi bloqueado. Após uma tentativa de fuga, Idan perdeu o controlo do veículo e bateu numa árvore. O carro foi encontrado com marcas de balas e sangue, e os seus amigos foram mortos, mas Idan foi posteriormente identificado como refém em Gaza. Segundo o pai, Eli Shtivi, que deu uma entrevista ao i e ao Nascer do SOL em fevereiro passado, Idan era apaixonado por atividades ao ar livre e tinha planos de trabalhar na área de energia para combater as alterações climáticas.

Há oito meses, em resposta ao sequestro de reféns israelitas, um grupo de familiares apresentou uma denúncia por crimes de guerra contra os líderes do Hamas no Tribunal Penal Internacional, alegando genocídio e crimes contra a humanidade. A delegação, composta por cerca de 100 familiares, destacou a necessidade de justiça e a consciencialização sobre as atrocidades cometidas. Foi nesse contexto que estiveram em Lisboa naquela altura.

A conversa com Eli constituiu uma entrevista emocional, onde partilhou a experiência dolorosa de “perder” o filho. Falou sobre a dificuldade de lidar com a incerteza do paradeiro do rapaz e mencionou que Idan era um estudante universitário que gostava muito de música e andar a cavalo. O pai do refém também falou sobre a agradável vida quotidiana que tinha com ele, lembrando atividades simples que realizavam juntos, como ir à pesca. Apesar de, à época, não se saber que Idan havia morrido, a dor da perda já era evidente em Eli, ao longo da conversa, sendo que este fazia reflexões sobre como seguir em frente depois da tragédia que abalou Israel.

Os familiares dos reféns luso-israelitas estiveram em Lisboa, em fevereiro. Eli, pai de Idan, é a segunda pessoa a contar da esquerda / Miguel Silva

Além disso, na entrevista, o pai do refém abordou questões mais amplas, como o contexto do conflito. Relatou ter visto pessoas envolvidas em atos de violência, como atiradores, e mencionou o sofrimento de não poder fazer nada enquanto essas ações aconteciam. Ao longo da conversa, Eli expressou a sua angústia por sentir-se impotente, tentando ajudar o filho e outras vítimas. Ao Nascer do SOL e ao i, deixou claro que pediu ajuda internacional, à semelhança das restantes famílias de reféns, e mencionou que estava em contacto com Marcelo Rebelo de Sousa.

Houve, inevitavelmente, um foco significativo na violência que ocorreu, incluindo menções à captura de reféns, à morte de pessoas inocentes e ao facto de que esses atos horríveis poderiam acontecer em qualquer parte do mundo, como Espanha ou Portugal. Eli criticou a forma como os terroristas estavam a agir em nome de crenças religiosas, mas também destacou a distinção entre religiões, mencionando que são os extremistas que causam estes danos. O pai de Idan, ainda com esperança, enfatizou a importância da solidariedade e da humanidade acima das divisões nacionais ou religiosas.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram ter informado a família de Shtivi, no domingo, de que o exército concluíra que o jovem fora morto durante o ataque ao festival de música Supernova. A morte de Shtivi foi anunciada publicamente pela primeira vez pelo Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas. Posteriormente, foi confirmado pelas IDF, que afirmaram que a decisão foi tomada “com base em informações de inteligência confirmadas por um painel de especialistas do Ministério da Saúde”.

“As FDI operam com uma série de métodos para tentar reunir informações sobre os reféns em Gaza”, disse o exército. Entretanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros reagiu igualmente à morte de Idan. “Expressamos profunda consternação pela morte, hoje confirmada, do nosso concidadão Idan Sthivi, um dos muitos reféns do Hamas, e enviamos sentidas condolências à sua família”, lê-se num comunicado emitido esta segunda-feira. Para além destas entidades, o Fórum Tikva (Forum Esperança), uma organização israelita de apoio às famílias dos reféns, citada pelo portal do jornal Jerusalem Post, endereçou as condolências aos familiares do jovem.

Importa salientar que Shtivi foi uma das 251 pessoas sequestradas a 7 de outubro e está entre os 34 reféns mortos naquele dia ou enquanto estavam em cativeiro, cujos corpos ainda não estão em Israel, de acordo com as FDI. Um total de 101 reféns e restos mortais são atualmente considerados cativos.