A Marcar Passo


A politiquice do “fala muito” e nada diz e pouco faz, tem arruinado a pujança que os portugueses, caso fossem bem direcionados, poderiam trazer ao desenvolvimento.


Integrei, na passada semana numa visita à China, uma comitiva de europeus (estavam também membros de Espanha, França, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Suíça, Áustria, Alemanha, Roménia, Hungria, Grécia e Sérvia) responsáveis pela gestão de áreas associadas à ciência e tecnologia. Visitámos um conjunto variado de instituições de caráter cientifico e tecnológico que incluíram entre várias outras a Faculdade de Medicina Chinesa da Universidade de Pequim, o Instituto de Fusão Nuclear e Física de Plasmas da Academia Chinesa de Ciências na Ilha da Ciência em Hefei, e a empresa Qiyuan Green Power em Shangai, que se dedica à produção de baterias para veículos elétricos pesados.

Tenho também o privilégio de ter acompanhado a evolução desta sociedade mais distante e desconhecida, nos últimos 30 anos. No início da década de 90 partilhei na Universidade de Strathclyde, durante o tempo do doutoramento, o gabinete com um colega chinês. Fui pela primeira vez à China em 1994. Entre 1994 e 2000 desloquei-me duas vezes por ano para lecionar em todas as edições do MBA da Universidade de Macau e nos últimos 5 anos já estive na China 3 vezes. Em 1994 a China era um país muito sujo, cheio de pessoas pobres, muito pobres e altamente poluído, com índices de qualidade de vida baixíssimos.

A evolução dos indicadores económicos chineses nos últimos 30 anos é uma história única na história económica mundial. Em 1990 era a 11.ª economia mundial com uma dimensão correspondente a 6% da economia Americana. 33 anos depois em 2023 já era a 2.ª economia mundial com uma dimensão correspondente a 72% da economia Americana. Há centenas de livros que descrevem a história desta evolução e deveriam fazer parte da biblioteca de muitos dos nossos decisores políticos que falam muito, e muitas vezes de quase nada. As 3 cidades que visitei correspondem a uma população total de cerca 56 milhões de habitantes. Tentei encontrar um papel no chão. Procurei; procurei várias vezes; tirei fotos do alto de arranha céus de forma a procurar um papel no chão… Não consegui. Não vi um único sinal de sujidade urbana em nenhuma destas 3 cidades gigantescas. Como é publico e notório, ultimamente tenho estado bastante focado no caso de Lisboa. Evidentemente que me lembrei-me de Lisboa, capital de Portugal. Senti-me envergonhado por ver ali na China a evidencia do resultado de Lisboa conduzida por uma gestão subdesenvolvida com imenso palavreado numa fraude comunicacional constante.

Um dos membros da comitiva deste grupo de europeus, gestor referência nas áreas da ciência, na chegada de regresso à Suécia publicou uma foto com uma t-shirt do filme “Back to the Future” escrevendo no comentário que a T-Shirt que vestia deveria dizer “Back from the Future”.

Para os verdadeiramente interessados em gestão de espaço publico, ordenamento do território e suporte tecnológico à gestão das cidades, vale a pena estudar (mas estudar detalhadamente) os modelos de gestão de cidades desenvolvidos na China.

Ainda no regime de palavreado e fraudes comunicacionais, confesso a dificuldade em compreender (porque os próprios também não devem saber) o que é que de tão radical afasta os líderes dos partidos políticos na conceção de sociedade e economia expressa num mero e básico orçamento de estado que faça com que o país nem os próximos meses saiba bem o que vai fazer. A politiquice do “fala muito” e nada diz e pouco faz, tem arruinado a pujança que os portugueses, caso fossem bem direcionados, poderiam trazer ao desenvolvimento. Em Portugal e metaforicamente expresso, os políticos do regime, faz muito tempo não conseguem ver floresta, deixaram de ver a árvore e dedicam-se a discutir herbáceos.

O caso da transformação da China, com as suas idiossincrasias, defeitos e desadaptação a modelos de cultura sócio-política ocidental, tem muito para nos ensinar no que respeita à definição e cumprimento de estratégia, respeito pelo local publico, disciplina e respeito pelo trabalho. Portugal vive em crise de valores e objetivos situação facilmente visível a qualquer observador minimamente atento. Percetível na gestão política do país e notoriamente visível na gestão autárquica da capital. O resto do país, deixa-se, obviamente, e em geral contaminar por estes maus exemplos.

Raras são, em Portugal, as “irredutíveis aldeias galesas” que se recusam deixar contaminar pela superioridade da facilidade do palavreado sobre o fazer bem feito e apostam com resultados extraordinários no Fazer; Fazer Bem Feito.

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”

A Marcar Passo


A politiquice do “fala muito” e nada diz e pouco faz, tem arruinado a pujança que os portugueses, caso fossem bem direcionados, poderiam trazer ao desenvolvimento.


Integrei, na passada semana numa visita à China, uma comitiva de europeus (estavam também membros de Espanha, França, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Suíça, Áustria, Alemanha, Roménia, Hungria, Grécia e Sérvia) responsáveis pela gestão de áreas associadas à ciência e tecnologia. Visitámos um conjunto variado de instituições de caráter cientifico e tecnológico que incluíram entre várias outras a Faculdade de Medicina Chinesa da Universidade de Pequim, o Instituto de Fusão Nuclear e Física de Plasmas da Academia Chinesa de Ciências na Ilha da Ciência em Hefei, e a empresa Qiyuan Green Power em Shangai, que se dedica à produção de baterias para veículos elétricos pesados.

Tenho também o privilégio de ter acompanhado a evolução desta sociedade mais distante e desconhecida, nos últimos 30 anos. No início da década de 90 partilhei na Universidade de Strathclyde, durante o tempo do doutoramento, o gabinete com um colega chinês. Fui pela primeira vez à China em 1994. Entre 1994 e 2000 desloquei-me duas vezes por ano para lecionar em todas as edições do MBA da Universidade de Macau e nos últimos 5 anos já estive na China 3 vezes. Em 1994 a China era um país muito sujo, cheio de pessoas pobres, muito pobres e altamente poluído, com índices de qualidade de vida baixíssimos.

A evolução dos indicadores económicos chineses nos últimos 30 anos é uma história única na história económica mundial. Em 1990 era a 11.ª economia mundial com uma dimensão correspondente a 6% da economia Americana. 33 anos depois em 2023 já era a 2.ª economia mundial com uma dimensão correspondente a 72% da economia Americana. Há centenas de livros que descrevem a história desta evolução e deveriam fazer parte da biblioteca de muitos dos nossos decisores políticos que falam muito, e muitas vezes de quase nada. As 3 cidades que visitei correspondem a uma população total de cerca 56 milhões de habitantes. Tentei encontrar um papel no chão. Procurei; procurei várias vezes; tirei fotos do alto de arranha céus de forma a procurar um papel no chão… Não consegui. Não vi um único sinal de sujidade urbana em nenhuma destas 3 cidades gigantescas. Como é publico e notório, ultimamente tenho estado bastante focado no caso de Lisboa. Evidentemente que me lembrei-me de Lisboa, capital de Portugal. Senti-me envergonhado por ver ali na China a evidencia do resultado de Lisboa conduzida por uma gestão subdesenvolvida com imenso palavreado numa fraude comunicacional constante.

Um dos membros da comitiva deste grupo de europeus, gestor referência nas áreas da ciência, na chegada de regresso à Suécia publicou uma foto com uma t-shirt do filme “Back to the Future” escrevendo no comentário que a T-Shirt que vestia deveria dizer “Back from the Future”.

Para os verdadeiramente interessados em gestão de espaço publico, ordenamento do território e suporte tecnológico à gestão das cidades, vale a pena estudar (mas estudar detalhadamente) os modelos de gestão de cidades desenvolvidos na China.

Ainda no regime de palavreado e fraudes comunicacionais, confesso a dificuldade em compreender (porque os próprios também não devem saber) o que é que de tão radical afasta os líderes dos partidos políticos na conceção de sociedade e economia expressa num mero e básico orçamento de estado que faça com que o país nem os próximos meses saiba bem o que vai fazer. A politiquice do “fala muito” e nada diz e pouco faz, tem arruinado a pujança que os portugueses, caso fossem bem direcionados, poderiam trazer ao desenvolvimento. Em Portugal e metaforicamente expresso, os políticos do regime, faz muito tempo não conseguem ver floresta, deixaram de ver a árvore e dedicam-se a discutir herbáceos.

O caso da transformação da China, com as suas idiossincrasias, defeitos e desadaptação a modelos de cultura sócio-política ocidental, tem muito para nos ensinar no que respeita à definição e cumprimento de estratégia, respeito pelo local publico, disciplina e respeito pelo trabalho. Portugal vive em crise de valores e objetivos situação facilmente visível a qualquer observador minimamente atento. Percetível na gestão política do país e notoriamente visível na gestão autárquica da capital. O resto do país, deixa-se, obviamente, e em geral contaminar por estes maus exemplos.

Raras são, em Portugal, as “irredutíveis aldeias galesas” que se recusam deixar contaminar pela superioridade da facilidade do palavreado sobre o fazer bem feito e apostam com resultados extraordinários no Fazer; Fazer Bem Feito.

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark

Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”