De mãos dadas com o turismo. Dos ‘tuk-tuk’ às lojas de ‘souvenirs’

De mãos dadas com o turismo. Dos ‘tuk-tuk’ às lojas de ‘souvenirs’


Em território nacional, existem muitas atividades que nasceram e/ou cresceram graças ao turismo. No entanto, algumas, como a proliferação dos ‘tuk-tuk’ ou das lojas de ‘souvenirs’, já não são vistas com bons olhos como anteriormente.


O turismo em Portugal é um pilar fundamental da economia, envolvendo diversas atividades económicas que contribuem significativamente para o seu crescimento. Por exemplo, com uma variedade de opções que vão desde hotéis de luxo a alojamentos locais, o setor de alojamento é vital, atraindo milhões de turistas anualmente. Mas existem outras atividades que não podem nem devem ser esquecidas, como o enoturismo, sendo que as adegas e experiências de degustação atraem tanto turistas nacionais quanto internacionais.

Hoje, quando se fala em turismo é impossível não abordar a questão dos ‘tuk-tuk’. A Câmara de Lisboa anunciou, em julho, a intenção de limitar os locais de estacionamento e o número de licenças para estes veículos, com o objetivo de regularizar a atividade na capital. A proposta foi divulgada após uma reunião com várias entidades, incluindo a Associação Nacional de Condutores de Animação Turística (ANCAT), a Polícia Municipal, a EMEL e a PSP.

De acordo com a autarquia, o encontro serviu para identificar as principais questões relacionadas com o estacionamento desordenado destes veículos e para apresentar soluções que melhorem a gestão do espaço urbano. A Câmara de Lisboa planeia designar áreas de “tolerância zero” para o estacionamento de ‘tuk-tuk’, garantindo uma fiscalização rigorosa.

Atualmente, cerca de 1.000 ‘tuk-tuk’ operam na capital e a proposta é reduzir esse número para 500, ao mesmo tempo que se criam 250 novos lugares de estacionamento autorizados. A autarquia também destacou a importância de um licenciamento adequado para os operadores, que inclui a obrigatoriedade de formação.

Carlos Moedas, presidente da Câmara, sublinhou a necessidade de implementar uma fiscalização eficaz nas zonas mais frequentadas pelos turistas. A ANCAT expressou satisfação com a reunião, afirmando que as propostas da Câmara beneficiarão os operadores de ‘tuk-tuk’ ao aumentar a disponibilidade de espaços para estacionamento. Atualmente, existem 116 lugares designados, mas apenas 86 estão efetivamente disponíveis. À sua vez, Inês Henriques, secretária-geral da ANCAT, mencionou que a associação compromete-se a continuar o diálogo com a Câmara e outras entidades para desenvolver um regulamento que vá ao encontro das necessidades de todos os envolvidos.

Relativamente a este tema, já este mês, o grupo municipal do PCP apresentou uma proposta à Assembleia Municipal de Lisboa para a elaboração urgente de um regulamento sobre a circulação dos veículos conhecidos como ‘tuk-tuk’. O PCP destacou a necessidade de uma regulamentação que equilibre a atividade turística com a qualidade de vida dos cidadãos e melhore as condições de trabalho dos operadores, muitos dos quais enfrentam precariedade e falta de fiscalização. O grupo pediu que a Câmara forneça informações detalhadas sobre as regras de licenciamento, os resultados da consulta pública de 2016 e um calendário para a aprovação do regulamento.

Mas existem outros meios de transporte que alegram – e muito – os turistas. Desde março do ano passado, as cidades de Vila Nova de Gaia e Porto acolheram o Porto Duck Tours, que oferece passeios anfíbios de 1 hora e 15 minutos. Os bilhetes custam 29 euros, com 70% do público sendo português e turistas, principalmente franceses, alemães e espanhóis, a representarem o restante. A frota é composta por DUKW’s, veículos anfíbios usados na Segunda Guerra Mundial, cada um com capacidade para 24 passageiros. Os fundadores, Jorge Garcia e Paula Loução, investiram cerca de 250 mil euros em cada veículo.

Paralelamente, o Hippotrip, que opera em Lisboa desde 2013, também planeia expandir-se para o Porto. Com uma frota de três veículos, a empresa já transportou mais de 570 mil passageiros e teve um recorde de 96 mil em 2023. O percurso, de 1 hora e meia, inclui 25 minutos nas águas do Tejo, com bilhetes a 30 euros (mais 2 euros na alta temporada). O sócio-gerente Frank Alvarez expressou interesse em levar a Hippotrip ao Porto, embora tenha enfrentado desafios na obtenção de licenças anteriormente. Ambos os empreendimentos refletem um crescimento no turismo anfíbio em Portugal, atraindo cada vez mais visitantes.

As lojas de souvenirs e a luta de Veneza Em fevereiro, na primeira edição da iniciativa ‘No Café Com’, organizada pela União de Associações do Comércio e Serviços (UACS), vários empresários expressaram as suas preocupações sobre a crescente presença de lojas de souvenirs e mercearias na baixa de Lisboa. Durante o encontro, que contou com a presença de Carlos Moedas, várias pessoas decidiram falar. Por exemplo, a diretora de uma loja de acessórios destacou a perda de identidade da cidade devido ao aumento dessas lojas, que, segundo ela, estão a descaracterizar a área.

Um proprietário de uma loja na baixa também levantou questões sobre como a espera em filas para atrações turísticas impede os visitantes de gastar tempo e dinheiro em comércio local. Carlos Moedas reconheceu que muitos problemas relacionados com o aumento de lojas de souvenirs não podem ser resolvidos sem a ajuda do Governo, pois a autarquia não tem poder para recusar aberturas de negócios com base no seu tipo.

Diogo Moura, então vereador da Economia e Inovação, reforçou essa posição, afirmando que a Câmara recebe dezenas de pedidos de abertura de novos negócios e não pode decidir que tipo de comércio deve existir. Pediu ao Governo que crie uma legislação que permita à Câmara regular a quantidade de lojas de um mesmo setor na cidade, enfatizando que não faz sentido haver uma concentração excessiva de um tipo de negócio, como hotéis, numa única rua.

Mas há cidades em que esta luta é ainda mais antiga. Por exemplo, em 2019, Veneza aprovou diretrizes para controlar a proliferação de lojas de souvenirs de baixa qualidade, frequentemente associadas à venda de produtos considerados “pechisbeque”. A iniciativa visou reorganizar os negócios nas áreas mais nobres da cidade, como a Praça de São Marcos e a ponte de Rialto.

O presidente da Câmara, Luigi Brugnaro, anunciou, à época, a medida nas redes sociais, destacando o objetivo de combater a contrafação e proteger o artesanato local. As então novas normas restringiam a abertura de lojas, permitindo apenas negócios que estivessem em conformidade com a preservação do património cultural, como estabelecimentos de moda de luxo, antiquários, livrarias e lojas de arte.

Outras áreas importantes Portugal destaca-se como o quinto país europeu e o nono a nível mundial em área de vinha plantada, sendo o segundo maior destino mundial de enoturismo, atrás apenas da Itália. Este setor, que gerou quase 9 mil milhões de dólares em 2020, deve alcançar cerca de 30 mil milhões até 2030, com Portugal a potencialmente arrecadar 2,1 mil milhões de euros.

A Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO) calcula que, em 2020, Portugal contribuiu com quase 630 milhões de euros para este total. No entanto, a falta de dados fiáveis tem sido um desafio, já que a APENO busca a criação de uma sub Classificação Portuguesa de Atividades Económicas (CAE) para o enoturismo, sem sucesso até agora. Enquanto isso, grandes produtores de vinho, como o Grupo Bacalhôa, que recebe anualmente mais de 400 mil visitantes, e a Sogrape, com 200 mil visitantes por ano, têm avançado com a criação de empresas de animação turística para formalizar suas atividades de enoturismo. A Bacalhôa, por exemplo, registrou uma faturação de 50 milhões de euros em 2022.

Por outro lado, segundo o travelBI do Turismo de Portugal, em 2022, a atividade termal em Portugal mostrou uma forte recuperação, consolidando a trajetória iniciada em 2021, após os impactos negativos da pandemia que afetaram 2020 e parte de 2021. A crescente procura beneficiou tanto o termalismo clássico quanto o de bem-estar, refletindo-se em todas as regiões e mercados internacionais.

A quota do termalismo de bem-estar cresceu significativamente em comparação com o termalismo clássico e a base de clientes no setor termal tem se rejuvenescido, especialmente entre aqueles que procuram experiências de bem-estar. Também importa referir que clientes dos mercados britânico e norte-americano alcançaram valores máximos, destacando o interesse crescente por parte desses consumidores.