Antony Blinken. A peça-chave da política externa

Antony Blinken. A peça-chave da política externa


Blinken tem sido um dos intervenientes mais importantes do Governo americano neste último mandato. Secretário de Estado da administração Biden-Harris, tem sido a figura central da posição americana face aos desafios da conjuntura internacional atual. Do apoio incondicional à Ucrânia até à tentativa de replicar a diplomacia de vaivém de Henry Kissinger no Médio Oriente


Filho do embaixador americano na Hungria, Donald Blinken, e da enviada especial da UNESCO para a diplomacia cultural, Judith Frehm, Antony Blinken teve uma infância desafogada e com o privilégio de ter ambos os pais nas altas esferas da política externa americana.

Com o divórcio dos pais, o atual Secretário de Estado rumou, com a mãe e com o padrasto – um sobrevivente do Holocausto –, a Paris, onde prosseguiu os estudos. Sobre esta experiência internacional, Blinken recordou, em entrevista ao Instituto Nexus, que aprendeu a «ver o próprio país pelos olhos de outros». «Passas muito tempo a defender o teu país, mas também a pensar sobre ele, sobre os pontos fortes e sobre as suas fraquezas», acrescentou.

De volta aos Estados Unidos, Blinken ingressou em Harvard, de onde saiu em 1984 com uma licenciatura em estudos sociais. Quatro anos mais tarde graduou-se em direito pela Universidade de Columbia.

Com um entorno familiar favorável e após frequentar faculdades de prestígio, Blinken teria várias portas abertas para o futuro profissional. Optou pelo serviço público, que dada a conjuntura, era uma porta escancarada. 

Logo em 1993, ano em que Bill Clinton é eleito para a Sala Oval, Antony Blinken foi nomeado assistente especial no Gabinete para os Assuntos Europeus e Canadianos do Departamento de Estado dos EUA. Viria a assumir um papel de relevo acrescido apenas um ano mais tarde, quando se juntou ao Conselho de Segurança Nacional – onde se manteve até 2001, e foi o responsável por redigir os discursos de política externa do Presidente. Estava destinado ao sucesso neste ramo do Governo americano.

Os tempos no Senado 

Com a chegada de George W. Bush à presidência, Blinken ficou responsável pelo staff do Partido Democrata na Comissão de Relações Externas do Senado neste interregno republicano de 8 anos. É neste período que forja uma das suas amizades mais importantes: o então Senador Joe Biden. É esta relação que o leva a servir como conselheiro do Vice-presidente no início da administração liderada por Barack Obama, cargo que juntava ao de assistente-adjunto do próprio Obama. Acumulou ambas as posições até 2013, quando passou a ser conselheiro adjunto para a segurança nacional em 2013 – onde se manteve por dois anos – e posteriormente, de 2015 até ao fim da presidência Obama, serviu com Secretário de Estado adjunto. 

A sua chegada à liderança do Departamento de Estado estava à distância de uma presidência democrata. E não poderia ter corrido melhor para Blinken.

Ainda assim, no período Trump, o agora Secretário de Estado fundou, em conjunto com outros membros da administração Obama, a empresa WestExec, que oferecia serviços de consultoria política.

Líder do Departamento de Estado

Se a sua chegada ao mais alto posto do departamento responsável pela política externa americana era já previsível numa administração democrata, a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump nas eleições de 2020 tornou-a evidente. O então presidente eleito nomeou o seu homem de confiança, com que trabalhara na última década, em novembro desse mesmo ano.

O início do mandato ficará sempre manchado pela retirada humilhante do Afeganistão, país que foi tomado pelos Talibã. É certo que o acordo da retirada americana do país remonta à presidência Trump, mas houve uma alteração na forma que levou a que os Estados Unidos sofressem com a retirada abrupta. Blinken chegou a ser intimado no ano passado pela Comissão dos Assuntos Externos da Câmara dos Representantes devido a um telegrama de divergência relativo à retirada do Afeganistão. O controlo do país pelos Talibã tem tido resultados atrozes, com os direitos humanos – e principalmente das mulheres – a serem brutalmente violados.

Após um período de relações internacionais relativamente calmo, as crises intensificaram-se quando Biden chegou à Sala Oval. Em fevereiro de 2022 a Rússia invade a Ucrânia e em outubro de 2023 o Hamas leva a cabo um massacre em Israel, reacendendo o conflito no Médio Oriente. 

Quanto à Ucrânia, a posição de Blinken tem sido inequívoca desde o início: apoio incondicional aos ucranianos. Uma abordagem louvada por uns e criticadas por outros, e a tentativa de ajuda chegou até a ser bloqueada pelo Senado. É, à semelhança do conflito israelo-palestiniano, um assunto que divide a opinião pública e é difícil conseguir a compaixão de ambas as fações. Porém, Blinken reforça a importância de segurar a Ucrânia bem como manter a NATO unida e forte face a um inimigo hostil com Vladimir Putin.

No Médio Oriente, a atual administração tem defendido, desde o início e na posição de mais importante aliado, o direito à autodefesa do Estado de Israel. Porém, e com o agravar da situação na Faixa de Gaza, Blinken tem tentado reunir esforços – através da diplomacia de vaivém popularizada por Kissinger na década de 70 – para um cessar-fogo. Sem sucesso.

A guerra entre Israel e o Hamas parece longe de uma resolução sólida e a longo prazo, com uma escalada iminente. 

As próximas eleições presidenciais mudarão inevitavelmente o destino dos EUA, e Blinken, para conseguir continuar a ser relevante na condução da política externa americana, necessita naturalmente de uma vitória de Kamala Harris.