Na década de 1980 não havia internet, nem Emídio Rangel tinha ainda afirmado que “uma televisão vende tudo – tanto um Presidente da República como um sabonete”. Mário Soares, que tinha levado Portugal a entrar na CEE, demitiu-se, dando como terminado o Governo conhecido como Bloco Central, de coligação com o PSD, que permitiu ao país viabilizar o segundo pedido de ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Soares, um lutador nato, acabaria por anunciar pouco tempo depois a sua candidatura à Presidência da República, apesar das sondagens lhe darem apenas 5% das intenções de voto. “O PS aprovou por unanimidade e aclamação a decisão de me candidatar a Presidente. Não tinha ilusões: para alguns membros do PS, foi uma maneira amável de se verem livres de mim. Quem apostaria, então e nos meses que se seguiram, na minha eventual vitória?”, escreveria o ‘pai’ do PS no ensaio autobiográfico Um Político Assume-se.
Soares acabaria por ser eleito por uma unha negra – contra Freitas do Amaral –, mas na sua reeleição chegou aos 70% de aprovação.
Quase 38 anos depois, a luta pela Presidência da República faz-se com as contas da televisão e uma ‘fiscalização’ cerrada a eventuais concorrentes, além, obviamente, do que dizem as sondagens. Por isso, Marques Mendes, anualmente, vai dando um ar da sua graça dizendo que se sentir que pode ser útil ao país avança, que é como quem diz, se as sondagens lhe derem hipóteses não hesitará em concorrer à cadeira presidencial. Paulo Portas, que também tem o seu espaço semanal na televisão, já deve ter perdido as esperanças, ainda mais depois de Luís Montenegro ter garantido que o PSD irá apoiar um militante.
Tudo indica que o PS lançará oficialmente Mário Centeno, destruindo o sonho de Augusto_Santos Silva, mas falta o joker do baralho para confundir as contas: Gouveia e Melo! É este homem que irritará o PS e o PSD pois na hipótese de passar à segunda volta terá todas as probabilidades de ganhar. A sua grande luta será mesmo essa, conseguir passar à segunda volta, algo que não se adivinha fácil. Tudo o resto é folclore, pois Leonor Beleza deve ter pensado concorrer ao cargo como eu pensei em tornar-me vegetariano e abstémio. Talvez Gouveia e Melo, 38 anos depois, faça de Mário Soares e avance, independentemente de as sondagens não lhe serem muito favoráveis e de não ter um espaço semanal na televisão para mandar beijinhos e abraços aos portugueses do centrão.
