Sismos. Portugal treme

Sismos. Portugal treme


Investigadora do Técnico diz que ‘vamos ter com certeza no futuro outros sismos, com maior e menor magnitudes’ e admite que o risco sísmico em relação à localização do futuro aeroporto continua a existir, já que ‘nada mudou’.


Portugal acordou, esta semana, com um sismo de magnitude de 5,3, mas apesar de não se terem registados feridos nem danos materiais contou com nove réplicas e foi o décimo maior desde o século XVI. Ao Nascer do SOL, Mónica Amaral Ferreira, investigadora do Instituto Superior Técnico (Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade – CERIS) não hesita: «Vamos ter com certeza no futuro outros sismos com maior e menor magnitudes», chamando a atenção para o facto de vivermos num país com risco sísmico.

Ainda assim, reconhece que podemos impedir o aumento deste risco «com intervenções de reabilitação de edifícios adequadas» e, ao mesmo tempo, defende que deve ser contemplada a legislação, assim como exigir maior fiscalização das estruturas. «É preciso estar consciente de que determinadas obras de alteração ou ampliação de edifícios, intervenções onde muitas vezes se faz a demolição de paredes – elementos estruturais – se não forem devidamente acompanhadas e avaliadas por engenheiros da área da segurança estrutural e sísmica, podem fragilizar o edifício e comprometer a segurança de pessoas e bens, ou seja, aumentam o risco sísmico em termos humanos e económicos».

Já em relação aos alertas que apontam para o facto de muitos dos edifícios portugueses não estarem preparados para um sismo, Mónica Amaral Ferreira, admite que «de acordo com a regulamentação atual, os edifícios são construídos para não colapsar, ou seja, um edifício deverá ser capaz de suportar a ação do sismo de modo a que as pessoas consigam sair do mesmo em segurança. Isto não inviabiliza que não possam ocorrer danos ligeiros, moderados ou severos – grandes fissuras em paredes divisórias, entre outros». Já em relação aos edifícios mais antigos, anteriores à década de 90, cujos regulamentos não contemplam o mesmo grau de segurança sísmica que o atual então «poderão apresentar maior risco sísmico e, consequentemente mais danos».

Quanto aos edifícios não habitacionais, como escolas, hospitais, quartéis de bombeiros, equipamentos coletivos e outras instalações críticas, a investigadora do Instituto Superior Técnico diz que «devem estar preparados não só para não colapsar, como a ficar operacionais e funcionar logo após um evento sísmico. Os decisores políticos devem definir estratégias e medidas de avaliação e mitigação do risco para estas construções».

Também o chefe da Divisão de Geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera disse o tremor de terra ocorrido «serve para alertar para o risco sísmico» em Portugal e para o «potencial problema» de determinadas construções. «Não temos que estar especialmente preocupados, é uma oportunidade para refletirmos, serve para alertar para o risco sísmico», disse Fernando Carrilho, apontando para o «potencial problema» de casas e infraestruturas antigas que «não estão preparadas para resistir a um sismo».

Mónica Amaral Ferreira deixa ainda um alerta: «Relativamente à gestão e ordenamento do território deve ter em conta a perigosidade e os usos compatíveis nessas áreas. Por exemplo, evitar a construção de hospitais, escolas, quartéis de bombeiros, infraestruturas críticas em zonas de solos mais brandos que poderão amplificar a intensidade do sismo, ou junto a zonas suscetíveis a inundação em caso de tsunami». E recorda que «estes eventos têm demonstrado claramente que a preparação e gestão de desastres é um processo dinâmico que exige uma análise holística de interdependências entre infraestruturas e sistemas, a fim de mitigar o seu impacto em eventos futuros e melhorar a capacidade de resiliência da sociedade».

Alcochete: solução tremida

De acordo com a regulamentação para os projetos de estruturas, a zona do Campo de Tiro de Alcochete – local escolhido pelo Governo para construir o futuro aeroporto de Lisboa – apresenta moderada perigosidade sísmica. Isto porque está incluída na zona 1.3 (sismo distante, de maior magnitude) e na zona 2.3 (sismo próximo de magnitude moderada) do Eurocódigo 8. São as mesmas zonas em que se insere, por exemplo, toda a região de Lisboa.

Mónica Amaral Ferreira lembra ainda que o risco sísmico depende da conjugação de três fatores: perigosidade – exprime-se pela possibilidade de ocorrência de vibrações sísmicas com determinada severidade, nesse local – vulnerabilidade – característica que um elemento (estrutura ou outro) quando exposto ao risco tem para sofrer determinado impacto ou dano (por incapacidade de responder à ação imposta )- e exposição que não está relacionada com a vulnerabilidade, mas com os elementos físicos que estão localizados em áreas de perigosidade, como sejam população, urbanização e todos os recursos relacionados com o desenvolvimento económico.

E face a esse cenário, a investigadora refere que «o risco é o mesmo, nada mudou. A menos que tenham efetuado reforço sísmico a alguma estrutura».

Tal como o Nascer do SOL já tinha avançado, a esta perigosidade junta-se as condições locais dos terrenos, que dependendo das suas características podem potenciar a severidade do movimento sísmico. É certo que estes problemas são tecnicamente resolúveis, no entanto, podem aumentar o custo de construção.

A investigadora já tinha afirmado que «o novo aeroporto implica a construção de várias infraestruturas que se estendem ao longo de quilómetros, para lá da área da implantação do aeroporto, e cujos projetos e dimensionamentos têm de ter em conta o ambiente sísmico da zona».

Também Acácio Pires da Zero tinha referido ao nosso jornal que o risco sísmico é assinalado nos trabalhos da Comissão Técnica Independente (CTI), lembrando que «é bastante mais elevado do que, por exemplo, em Vendas Novas», falando das duas opções viáveis. «Em geral, os riscos naturais que foram avaliados – risco sísmico, de incêndio rural e industrial – Alcochete tem um risco maior face a outros casos». Ainda assim reconheceu que «são riscos que são geríveis».