Um cavalheiro num meio de brutamontes


No final perguntei-lhe se lhe agradava a reputação de “gentleman do futebol”. “É suposto comportarmo-nos como cavalheiros, não o contrário”, respondeu-me.


Quando vi pela televisão e vibrei com a vitória do Benfica sobre o Arsenal em Londres (3-1 após prolongamento), corria o mês de novembro de 1991, estava longe de imaginar que mais de vinte anos depois haveria de falar pelo telefone com o grande responsável por essa vitória. Na altura, Sven-Göran Eriksson até estava a ser contestado na Luz, e ficou famoso o seu comentário no aeroporto, perante a euforia generalizada: “No futebol passa-se muito depressa de besta a bestial”. Lapidar.

Fleumático e educado, Eriksson não entrava facilmente nessas ondas de euforia, embora se percebesse que vivia intensamente as emoções do jogo, que de certo modo aprisionava no seu corpo. A tensão no seu rosto era palpável. Mas nunca perdia a compostura.

Em 2013, a propósito da publicação da sua autobiografia (curiosamente traduzida por Afonso de Melo), perguntei se havia possibilidade de o entrevistar. Recebi um endereço de email e um número de telefone. Ele na altura treinava um clube no sul da China. Pediu-me para lhe voltar a telefonar no dia seguinte, porque estava a entrar com a equipa para um autocarro. Não tinha grandes esperanças de que me voltasse a atender, mas atendeu mesmo, e conversámos durante mais de vinte minutos.

Como não podia deixar de ser, no final perguntei-lhe se lhe agradava a reputação de “gentleman do futebol”. “É suposto comportarmo-nos como cavalheiros, não o contrário”, respondeu-me.

Mas ele que andou por aqui tantos anos evidentemente devia ter noção de que o mundo do futebol está cheio de trogloditas, como comprovam as recentes assobiadelas dos benfiquistas ao seu próprio treinador e jogadores.

Eriksson foi isso mesmo: um cavalheiro que passou pelo futebol português. Confesso que tenho saudades dele de cada vez que vejo os comportamentos lamentáveis, agressivos e ressabiados de alguns dos melhores treinadores da nossa praça.

Um cavalheiro num meio de brutamontes


No final perguntei-lhe se lhe agradava a reputação de “gentleman do futebol”. “É suposto comportarmo-nos como cavalheiros, não o contrário”, respondeu-me.


Quando vi pela televisão e vibrei com a vitória do Benfica sobre o Arsenal em Londres (3-1 após prolongamento), corria o mês de novembro de 1991, estava longe de imaginar que mais de vinte anos depois haveria de falar pelo telefone com o grande responsável por essa vitória. Na altura, Sven-Göran Eriksson até estava a ser contestado na Luz, e ficou famoso o seu comentário no aeroporto, perante a euforia generalizada: “No futebol passa-se muito depressa de besta a bestial”. Lapidar.

Fleumático e educado, Eriksson não entrava facilmente nessas ondas de euforia, embora se percebesse que vivia intensamente as emoções do jogo, que de certo modo aprisionava no seu corpo. A tensão no seu rosto era palpável. Mas nunca perdia a compostura.

Em 2013, a propósito da publicação da sua autobiografia (curiosamente traduzida por Afonso de Melo), perguntei se havia possibilidade de o entrevistar. Recebi um endereço de email e um número de telefone. Ele na altura treinava um clube no sul da China. Pediu-me para lhe voltar a telefonar no dia seguinte, porque estava a entrar com a equipa para um autocarro. Não tinha grandes esperanças de que me voltasse a atender, mas atendeu mesmo, e conversámos durante mais de vinte minutos.

Como não podia deixar de ser, no final perguntei-lhe se lhe agradava a reputação de “gentleman do futebol”. “É suposto comportarmo-nos como cavalheiros, não o contrário”, respondeu-me.

Mas ele que andou por aqui tantos anos evidentemente devia ter noção de que o mundo do futebol está cheio de trogloditas, como comprovam as recentes assobiadelas dos benfiquistas ao seu próprio treinador e jogadores.

Eriksson foi isso mesmo: um cavalheiro que passou pelo futebol português. Confesso que tenho saudades dele de cada vez que vejo os comportamentos lamentáveis, agressivos e ressabiados de alguns dos melhores treinadores da nossa praça.