É um mistério a razão pela qual só recentemente o consumo de vinho na noite, sobretudo em discotecas se tornou hábito. Há 20 anos, quando saía para beber um copo era raro o espaço que o disponibilizava no seu cardápio mesmo sendo de todas as bebidas apresentadas aquela que mais se produz em Portugal. Recordo-me que ninguém vendia vinho a copo mas também pouca gente o pedia, honra seja feita à minha amiga Michelle Mendonça, hoje em dia uma das grandes relações públicas da nossa praça que na altura parecia um peixinho fora de água quando chegava a um qualquer bar e lhe diziam “não temos”. Se a memória não me atraiçoa foi a discoteca Lux Frágil do já falecido Manuel Reis, a primeira a ter um bar exclusivamente dedicado aos vinhos, no piso do meio, junto à casa de banho das senhoras.
Não deixa de ser estranho que uma das bebidas alcoólicas mais consumidas no nosso país nunca tenha sido alvo de maior atenção por parte de empresários e consumidores. Só o consigo explicar de duas formas. A primeira porque as chamadas bebidas brancas tinham à época, muito dinheiro para promover e patrocinar os espaços e abafavam tudo o resto e a segunda o facto de o vinho exigir um copo diferente, que não fica bem ser consumido nos copos de todas as outras o que podia pressupor um investimento que os proprietários não estariam dispostos a assumir. Conheço até o caso de um sócio de um dos bares mais famosos de Lisboa que não queria ter vinho porque dizia que manchava os luxuosos sofás e que não lhe compensava esse prejuízo.
Por essa altura já em França, Itália e outros países, o consumo de vinho em todo o tipo de festas, sobretudo em bares sofisticados era considerado um requinte e sinónimo de bom gosto. Felizmente que por cá esse fenómeno tem vindo a ser alterado. Talvez porque exista neste momento uma cultura do saudável e os produtores promovam o facto da bebida ser bem menos nociva do que as bebidas brancas e com menor teor alcoólico. Também o facto das marcas portuguesas terem maior capacidade de investimento e serem mais agressivas no marketing e comunicação dos seus produtos ou ainda porque gostamos de importar todas as tendências lá de fora e esta é apenas mais uma delas. Não será também alheio o facto de cada vez mais colocarmos o momento da dança ao final do jantar o que facilita continuar a consumir a mesma bebida do jantar onde o vinho é Rei há muito tempo.
Com esta alteração de posicionamento, o mercado pede cada vez mais vinho e os hábitos vão-se alterando ao ponto de certas marcas desenvolverem de forma estratégica, alguns produtos específicos para o entretenimento. Vinhos mais leves, pensados para os fins de tarde e principio de noite, muitos deles direcionados para um público feminino cada vez mais atento, conhecedor e apreciador. Hoje em dia é muito usual ver alguém com um copo na mão numa qualquer festa por esse país fora e sobretudo nas praias, no Verão, o vinho vai ganhando cada vez mais adeptos. Até porque o preço em relação a certas bebidas da moda como os cocktails é (ainda) extremamente convidativo!