Alain Delon, uma das maiores lendas do cinema francês, faleceu aos 88 anos, deixando para trás uma carreira icónica e uma vida marcada por controvérsias. Conhecido pela sua beleza e presença cativante, Delon protagonizou mais de 90 filmes aclamados, como Plein Soleil e Le Samouraï [ver páginas 12-13], consolidando-se como uma estrela do cinema internacional.
A sua infância foi difícil, com a separação dos pais quando tinha apenas quatro anos e um período num orfanato. A juventude de Delon foi conturbada, marcada por rebeldia, expulsões escolares e uma tentativa frustrada de fugir para os EUA, o que resultou na sua prisão. Após abandonar os estudos, trabalhou na charcutaria do padrasto, mas continuou envolvido em brigas e gangues. Aos 17 anos, alistou-se no exército francês e foi enviado para a Guerra da Indochina, mas foi dispensado desonrosamente por roubo.
De volta a França em 1956, afastou-se dos pais e passou a viver por conta própria, realizando trabalhos temporários e envolvendo-se com o submundo de Paris. A sua boa aparência aproximou-o de mulheres influentes, o que lhe garantiu abrigo e sustento. A carreira no cinema começou a mudar quando foi descoberto durante o Festival de Cannes em 1957. Embora tenha recebido uma oferta para atuar nos EUA, decidiu permanecer em França, onde iniciou a sua trajetória no cinema com pequenos papéis, destacando-se em filmes como Sois belle et tais-toi (1959). Em 1958, foi escolhido para atuar ao lado de Romy Schneider em Christine, dando início a um relacionamento intenso e tumultuoso, que terminou em 1964, mas deixou uma marca profunda em ambos.
A vida amorosa de Delon foi agitada, com vários relacionamentos, filhos e separações. Teve um filho com a atriz Nico, mas nunca reconheceu a paternidade, e um casamento com Nathalie Barthélémy, que resultou no nascimento de Anthony Delon, mas acabou em divórcio. Durante os anos 60 e 70, Delon continuou a construir a sua carreira com papéis em filmes como Rocco e i suoi fratelli. Estes cimentaram a sua reputação como um dos grandes atores da sétima arte, especialmente no género noir.
Anthony Delon, filho mais velho de Alain Delon, iniciou a sua carreira artística nos anos 80 e fez a sua estreia no cinema em 1986 com o filme Chronique d’une mort annoncée, dirigido por Francesco Rosi. Durante a sua juventude, teve problemas com a justiça, inclusivamente foi preso por posse ilegal de armas em 1983, o que gerou grande repercussão nos media. Em 2008, publicou uma autobiografia intitulada de Le Premier Maillon, onde discutiu abertamente a sua vida, as suas dificuldades e a relação complicada com o pai.
Posteriormente, Alain Delon teve mais dois filhos: Anouchka e Alain-Fabien Delon, nascidos nos anos 90. São fruto da sua relação com a modelo holandesa Rosalie van Breemen. Ambos seguiram os passos do pai no mundo artístico, mas com trajetórias distintas. Anouchka é atriz e começou a sua carreira desde cedo, acompanhando Alain Delon em algumas produções teatrais. É conhecida pelo seu trabalho no teatro e na televisão francesa. Também fez alguns filmes, mas a sua carreira é mais ligada ao teatro, onde trabalhou com o pai em várias peças. Era muito próxima de Alain Delon, tendo inclusive cuidado dele após o AVC que sofreu em 2019.
Já Alain-Fabien Delon é ator e modelo. Começou a sua carreira na moda, desfilando para marcas famosas como a Dior. No cinema, fez a sua estreia em 2012 com o filme Les Rencontres d’après minuit. Para além disto, também é conhecido pelas suas posturas polémicas e por ter tido uma relação complicada com o pai, marcada por conflitos e divergências que ganharam destaque nos media.
Apesar do sucesso no cinema, a vida pessoal de Delon não foi fácil. Nos últimos anos, enfrentou uma série de controvérsias, incluindo disputas legais entre os filhos, além de críticas pelas suas opiniões políticas, como a amizade com Jean-Marie Le Pen e declarações criticadas sobre a pena de morte e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em 2019, Delon sofreu um AVC e passou por um período difícil de saúde, que culminou na sua colocação sob tutela judicial em 2024. Enfraquecido por um cancro, faleceu pacificamente em sua casa. A sua morte gerou uma onda de homenagens, incluindo declarações do presidente francês Emmanuel Macron, que o adjetivou de «um monumento francês» e de Jack Lang, ex-ministro da Cultura, que destacou a sua importância como ator e a amizade que mantinha com François Mitterrand.