Susan Wojcicki. Da venda de especiarias ao topo da tecnologia

Susan Wojcicki. Da venda de especiarias ao topo da tecnologia


1968-2024. Uma mulher que nunca deixou de abrir portas às restantes.


Cresceu no campus da Universidade de Stanford e o seu primeiro negócio foi baseado na venda de especiarias de porta em porta aos onze anos. Susan Diane Wojcicki nasceu a 5 de julho de 1968, em Santa Clara, Califórnia, numa família académica. O seu pai, Stanley Wojcicki, é um físico polaco, e a sua mãe, Esther Wojcicki, é uma professora e jornalista de origem russa. Susan cresceu em Palo Alto, o que influenciou profundamente a sua carreira na tecnologia. Por ter tido pais que a incentivaram a aprender, frequentou a Gunn High School em Palo Alto e, de seguida, formou-se em História e Literatura pela Universidade de Harvard em 1990. Posteriormente, concluiu um MBA na UCLA Anderson School of Management e obteve um mestrado em Economia na Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

Aquela que era uma menina empreendedora com grandes ambições começou a sua carreira na Intel em marketing, mas foi em 1998 que a sua vida mudou radicalmente ao alugar a garagem da sua casa a dois jovens empreendedores, Larry Page e Sergey Brin, fundadores da Google. Pouco depois, juntou-se à empresa como a sua 16.ª funcionária, assumindo o cargo de primeira gerente de marketing desta.

Durante os seus anos na Google, Wojcicki desempenhou um papel crucial no crescimento da empresa. Foi responsável pela criação e gestão do Google AdSense, que se tornou uma das principais fontes de receita da empresa. Além disso, Wojcicki supervisionou a aquisição do YouTube pela Google em 2006, por 1,65 mil milhões de dólares (cerca de 1500 milhões de euros), um movimento estratégico que ajudou a transformar o YouTube na maior plataforma de vídeo online do mundo.

Em 2014, Susan Wojcicki foi nomeada CEO do YouTube. Sob a sua liderança, a plataforma cresceu exponencialmente, atingindo mais de 2 mil milhões de utilizadores mensais ativos e expandindo as suas ofertas com serviços como o YouTube TV, YouTube Premium e YouTube Music. Também liderou iniciativas para melhorar as políticas de moderação de conteúdo e a monetização para criadores. «Numa altura em que a televisão está a perder audiência, o YouTube está a crescer em todas as regiões, em todos os ecrãs», afirmou, em 2016, no evento Brandcast do YouTube para profissionais de marketing. Wojcicki também foi forçada a enfrentar um boicote de anunciantes no ano seguinte em resposta a anúncios no YouTube que exibiam conteúdo questionável, incluindo terrorismo e vídeos de discurso de ódio, o que levou a plataforma a implementar políticas de segurança de marca mais rigorosas.

Foi amplamente reconhecida pela sua contribuição para o crescimento do YouTube e pelo seu papel no avanço das mulheres no mundo da tecnologia. Foi sempre uma defensora ativa da diversidade de género no setor de tecnologia e foi reconhecida várias vezes entre as mulheres mais poderosas do mundo pela revista Forbes. Wojcicki defendeu com convicção que os empregadores oferecessem benefícios familiares generosos, especialmente licença de maternidade remunerada. «O YouTube tem sido uma oportunidade para ajudar outras mulheres», declarou à Variety à época. «Vejo o potencial que as mulheres têm. E gosto de ser uma mentora, descobrindo a melhor maneira de equilibrar o trabalho e a família».

Teve sempre a missão de encorajar mais meninas a irem para a área da tecnologia, dizendo ao Newshour da BBC em 2013 que o futuro seria «cada vez mais influenciado digitalmente». «Mas vejo que há muito poucas mulheres na indústria», declarou. «No geral, a indústria da tecnologia tem, em média, provavelmente cerca de 20% de mulheres e também observo o número de meninas que saem de cursos técnicos e é muito pequeno».

No entanto, em fevereiro de 2023, Wojcicki anunciou que deixaria o cargo de CEO do YouTube para se concentrar na sua família, na sua saúde e em projetos pessoais, após quase 25 anos de trabalho. «Há 25 anos tomei a decisão de me juntar a alguns estudantes de Stanford que estavam a construir um novo motor de busca. Os seus nomes eram Larry e Sergey… Seria uma das melhores decisões da minha vida», Wojcicki escreveu numa publicação no dia em que abandonou o cargo, no ano passado.

Casou em agosto de 1998 com Dennis Troper, executivo da Google, e tiveram cinco filhos. Tanto que muitas pessoas pensaram que ‘apenas’ desejava dedicar-se plenamente à família. Contudo, uma das razões da sua saída inesperada era tudo menos agradável. Levou a cabo uma luta de dois anos contra um cancro do pulmão de células não pequenas, que é o mais comum a afetar este órgão, de acordo com a Yale Medicine.

Os sintomas podem incluir tosse persistente, tosse com sangue, dor no peito, respiração ofegante, fadiga, perda de apetite e inchaço facial. Como alguns sintomas do cancro do pulmão de células não pequenas podem assemelhar-se a outras doenças como a bronquite, cerca de 80% dos casos são diagnosticados em fases tardias, tornando mais difícil o tratamento quando o cancro metastiza, segundo a Yale Medicine.

Esta luta de Susan foi anunciada pelo seu marido numa publicação feita no Facebook na noite de sexta-feira. «É com profunda tristeza que partilho a notícia do falecimento de Susan Wojcicki. A minha amada esposa há 26 anos e mãe dos nossos cinco filhos deixou-nos hoje, após dois anos a conviver com cancro do pulmão», escreveu. «Susan não era apenas a minha melhor amiga e parceira na vida, mas também uma mente brilhante, uma mãe amorosa e uma amiga querida para muitos. O seu impacto na nossa família e no mundo foi imensurável. Estamos com o coração partido, mas gratos pelo tempo que passámos com ela. Por favor, mantenham a nossa família nos vossos pensamentos enquanto navegamos neste momento difícil».

As homenagens multiplicam-se. «Nos últimos dois anos, mesmo lidando com grandes dificuldades pessoais, Susan dedicou-se a tornar o mundo melhor por meio da sua filantropia, incluindo o apoio à investigação da doença que acabou por ceifar a sua vida», escreveu o presidente-executivo da Google, Sundar Pichai. Marc Benioff, CEO da Salesforce, descreveu Wojcicki num post no X (antigo Twitter) como «uma pioneira no setor, uma mãe exemplar e uma amiga querida». «O seu coração bondoso, conselhos sábios e espírito filantrópico tocaram inúmeras vidas», redigiu.

O CEO da Apple, Tim Cook, disse que ficou «entristecido» ao ter conhecimento da notícia, acrescentando que Wojcicki «foi uma das visionárias do Silicon Valley». «Muitas pessoas sentirão a sua falta. Que ela descanse em paz», escreveu no X. Já o CEO da Tesla, Elon Musk, escreveu noutro post no X: «Descanse em paz. É especialmente trágico ver uma morte tão precoce».