The Script “for the first time” em Viseu: de um concerto intimista num bar irlandês ao Mateus Fest 

The Script “for the first time” em Viseu: de um concerto intimista num bar irlandês ao Mateus Fest 


A banda irlandesa, que já considera Portugal a sua segunda casa, foi a cabeça-de-cartaz da primeira edição do Mateus Fest.  


Já se sabia que o calor predominaria no fim de semana e, por isso, sábado foi um dia bastante quente. Não só em Viseu como na generalidade do país. Mesmo assim, tal não impediu que os fãs viessem de mais ou menos longe para ver os artistas que compunham o cartaz. Há quem tenha feito centenas de quilómetros para ver Gavin James, Fernando Daniel ou Hybrid Theory. Marta Gonçalves, de 25 anos, viajou de Ponte de Lima até Viseu para ver os The Script. Foi de autocarro, fez uma paragem no Porto e chegou até à cidade onde veria a sua banda preferida mais uma vez. “Comecei a acompanhar mais de perto os The Script em 2010, quando tinha apenas 11 anos. Lançaram o seu segundo álbum Science & Faith nessa altura e foi a música For The First Time que me fez ficar completamente apaixonada pela música deles”, começa por explicar a jovem médica ao i e ao Nascer do SOL. “Depois disso, veio o terceiro álbum deles, #3, um dos meus favoritos, e a minha admiração pela sua capacidade de escrever letras com significados tão profundos foi crescendo e crescendo”, confessa, adiantando que acompanhou os músicos irlandeses durante toda a sua adolescência e ainda hoje considera que a música deles “foi mesmo um refúgio em momentos mais difíceis e continua a ser”. Em 2015, deram os primeiros concertos em solo português aos quais quis ir. Não foi, mas prometeu que iria a todos aqueles que conseguisse depois disso. E tem cumprido a promessa. 

A primeira vez que os viu foi em 2018, na Altice Arena, no concerto da tour do álbum Freedom Child. “Tive a oportunidade de ter um meet and greet com a banda, falar com eles um bocadinho e partilhar o quanto me ajudaram ao longo dos anos e o quanto a música deles significa para mim. Comprovei aquilo que já sabia: são pessoas com os pés completamente assentes na terra e que são mesmo gratas por aquilo que a música lhes dá e pelo que os fãs significam no seu percurso. Aliás, um dos princípios que eles têm é que nunca cobrarão por meet and greets, porque tal como referiu o querido Mark, que infelizmente faleceu em 2023, é que eles estão onde estão pelos fãs”, recorda a fã, assumindo que a morte inesperada do guitarrista, aos apenas 46 anos, constituiu um dos momentos mais difíceis que viveu desde que é fã da banda.  

“Era um dos elementos mais próximos dos fãs, tirava tempo do seu dia para nos responder nas redes sociais da banda, bem como proporcionou momentos inesquecíveis a muitos deles, como a mim em 2018. Foi realmente uma perda enorme para a The Script Family, perda essa que foi muito sentida no concerto do MEO Marés Vivas em 2023, concerto esse onde fizemos uma homenagem muito bonita ao Mark”, conta, sendo que Marta também esteve presente no concerto de 2022, que ocorreu no âmbito da tour ‘Tales From The Script’, “onde efetivamente a falta do Mark já foi muito sentida, pois ele já estava afastado da banda nessa altura”. 

Depois de ter visto Danny, Mark e Glen várias vezes, mais recentemente somente Danny e Glen com dois novos elementos no grupo, ir a Viseu pareceu-lhe uma escolha mais do que natural. Quando o festival anunciou, nas redes sociais, que tinha uma surpresa para os fãs dos irlandeses, Marta decidiu que não iria logo para o recinto do festival e esperou no centro da cidade. E valeu a pena: os The Script confirmaram que atuariam no The Irish Bar, no Largo Pintor Gata, pelas 16h de sábado. “O intimate gig no The Irish Bar em Viseu foi uma surpresa tão agradável. Não estava nada à espera de vê-los duas vezes no mesmo dia e ainda para mais de uma forma tão próxima como aconteceu na esplanada do bar. Quando eu digo que eles são especiais é a estes pequenos momentos que me refiro: como quererem estar próximos das pessoas e fazerem efetivamente por isso”, narra Marta, lembrando também que Danny foi logo tirar uma cerveja Guinness assim que chegou ao bar (à boa maneira irlandesa). “Tive novamente a oportunidade de conversar um bocadinho com eles e tirar novas fotografias com o Danny e o Glen. Foi mesmo um dia inesquecível e memórias que vou guardar comigo para sempre”, assume a rapariga que gostou muito de ouvir versões acústicas de algumas músicas, como de At Your Feet, o mais recente single, que estará incluído no álbum Satellites (cujo lançamento está previsto para o dia 16 deste mês). 

À noite, depois de terem recebido com entusiasmo Gavin James e Fernando Daniel, os fãs dos The Script e até aqueles que não são tão aficionados esperaram ansiosamente pela entrada de Danny O’Donoghue, Glen Power, Ben Sargeant e Ben Weaver. A banda iniciou o concerto com Superheroes, a canção que foi lançada como o primeiro single do seu quarto álbum de estúdio, No Sound Without Silence, em 2014. Inspiradora e motivadora, fala sobre pessoas comuns que enfrentam adversidades e saem delas mais fortes, como verdadeiros super-heróis. A letra celebra a coragem e a resiliência. O videoclipe foi filmado em Joanesburgo, África do Sul, e mostra pessoas a enfrentar diversos desafios na sua vida quotidiana. 

De seguida, foi a vez de Rain surgir na setlist. A dor do fim de um relacionamento amoroso e a sensação de solidão que lhe está associada são as bases da música, sendo que a letra usa a metáfora da chuva para descrever os sentimentos de tristeza e perda, mas também sugere a ideia de um novo começo, como a chuva que limpa e renova. Depois, Both Ways, o primeiro single do novo álbum, fez parte do alinhamento. “A capa do álbum tem silhuetas minhas, do Glen e do Ben Sargeant, o nosso baixista, que está connosco desde o início. Depois temos uma silhueta encapuzada, porque o ar do Mark ainda está lá. Estamos apenas a tentar seguir em frente e fazer o que todos nós sentimos ser a próxima coisa certa a fazer: fazer mais música de boa qualidade”, explicou Danny anteriormente. 

Antes da continuação do concerto, houve espaço para cerca de 40 segundos de improviso de Danny começados com “The Script is in the house you know it’s gonna be lit” e os fãs gritaram entusiasmados. Six Degrees Of Separation foi tocada e a canção que explora o conceito de conexões e a teoria de que estamos a apenas a seis pessoas (ou menos) de qualquer ser humano no mundo fez as delícias dos fãs. A letra fala sobre as complexas interações humanas e como, mesmo que pareça que estamos distantes, estamos mais conectados do que imaginamos. E Glen cantou, encantando o público. Um dos momentos mais altos da noite chegaria minutos depois com The Man Who Can’t Be Moved. Danny sentou-se no palco, como habitualmente, e entoou os versos tão conhecidos da canção. “God bless you!”, disse o vocalista visivelmente emocionado. Quando chegou If You Could See Me Now, o público já sentia o “coração apertado” e Danny pediu aos festivaleiros que fechassem os olhos e pensassem nas pessoas que perderam, sentindo-as bem perto, sendo que hoje dedica esta música a Mark. “Mark Sheehan, I’m just missing you now”, garantiu, olhando para o céu. Curiosamente, esta letra foi composta quando Mark lidava com a morte dos pais e Danny com a do pai.  

The Last Time foi lançada como o primeiro single do sexto álbum de estúdio da banda, Sunsets & Full Moons, em 2019, e foi a seguinte na setlist. Nela é abordada o fim de um relacionamento, com foco nos momentos finais de uma despedida dolorosa. A letra expressa a sensação de tristeza e arrependimento ao percebermos que estamos a ver alguém pela última vez, capturando a intensidade emocional do fim definitivo de um relacionamento. E Before The Worst não poderia faltar. À semelhança de The Last Time, é composta com base nas memórias de um relacionamento que se desmoronou e do desejo de voltar ao momento em que tudo ainda estava bem. A letra reflete sobre os bons tempos antes de as coisas terem começado a correr mal, capturando a nostalgia e o arrependimento de um amor perdido. 

Quando todos estavam pensativos, os The Script pintaram a cidade de verde: e literalmente, com Paint The Town Green, que foi composta com inspiração na Irlanda. “Let’s make this place feel like our home”, cantaram e os fãs saltaram enquanto Danny lhes pedia que o fizessem. Como já é comum, Danny e Glen desceram do palco e passaram pelos fãs e ainda os presentearam com bastante proximidade. Danny subiu mesmo às grades várias vezes. Após terem tornado Viseu em Dublin, partiram corações com For The First Time. Foi lançada em 2010, mas é mais atual do que nunca. Isto porque explora os desafios económicos e emocionais que muitas pessoas enfrentam, especialmente durante tempos de crise. Através da letra e do próprio videoclipe, entendemos a vida de um casal jovem que, apesar das dificuldades financeiras e das mudanças na vida, encontra força e renovação no seu amor. 

At Your Feet, que havia sido tocada no The Irish Bar, fez igualmente parte do alinhamento. A letra surgiu na cabeça de Danny enquanto este assistia à transmissão de um jogo de futebol na televisão. “Ele brinca com o mundo nos seus ombros quando deveria estar aos seus pés”, disse um especialista, sendo que o cantor e compositor mudou a frase para algo mais universal: “Queria poder segurar o mundo como fizeste por mim / Tirá-lo-ia dos teus ombros e colocá-lo-ia aos teus pés”. Tocando mais um clássico, a banda pôs a audiência a cantar a plenos pulmões com a famosa Breakeven. Esta canção aborda a dor do fim de um relacionamento, sendo que a letra espelha o sentimento de injustiça e desequilíbrio quando este termina. A perspectiva da canção é de alguém que está a sofrer muito mais do que a outra pessoa envolvida, resumida na linha principal “I’m still alive but I’m barely breathing”. Gavin James, descrito por Danny como “a melhor voz da Irlanda”, juntou-se aos compatriotas no palco.  

Na reta final, foi tocada No Good In Goodbye, que retrata a dor e a confusão provocadas pelo fim de um relacionamento. A letra joga com a palavra “goodbye” (adeus), destacando que não há nada de bom num adeus. Frases como “Where’s the ‘good’ in goodbye?” e “Where’s the ‘nice’ in nice try?” refletem o sentimento de perda e a ausência de conforto nutridos quando nos despedimos de alguém importante em termos amorosos. No fim, Hall Of Fame foi cantada a plenos pulmões. Em março, como parte integrante de uma série de vídeos no Instagram sobre a inspiração e as histórias por trás das suas maiores músicas, Danny creditou este hino motivacional da banda ao programa matinal da Classic FM, The Classic FM Hall of Fame Hour. O vocalista ligou o rádio para ouvir música para ajudá-lo a entrar em estúdio e a inspiração surgiu. “Quando estou a caminho do estúdio, odeio influências externas”, revelou Danny no vídeo. “Então, em vez de ouvir música com letra, acabo por ouvir a Classic FM”, explicou. 

“Isto pode parecer muito cliché, mas sinto que cada um dos concertos que vi deles foi diferente e especial em relação ao anterior, pelo que cada vez que os vejo a sensação é semelhante à de 2018, como se fosse a primeira vez. Não deixo de sentir a mesma ansiedade e o mesmo sentimento”, frisa Marta, que também viu a banda em maio na Queima das Fitas do Porto. “Costumo dizer isto muitas vezes, mas os The Script são mesmo a banda sonora da minha vida e enquanto eles decidirem continuar a produzir música, e espero que seja por muitos anos, eu estarei lá para os apoiar. Sempre”.