Um pezinho de dança em Paris

Um pezinho de dança em Paris


Reflexo das tendências mundiais, os últimos Jogos têm apresentado novas práticas desportivas que, para serem olímpicas, têm de cumprir determinadas regras. Vejamos o que há de novo em Paris 2024


Desde as espetaculares corridas de atletismo até à graciosidade da ginástica, passando pela versatilidade do triatlo, os jogos olímpicos são um palco global, onde os atletas sempre manifestaram vontade de se superarem pela força, velocidade e destreza. É assim desde 1896, quando se realizaram os primeiros jogos de Era Moderna, em Atenas. Nas 32 edições anteriores apenas 11 desportos estiveram sempre no programa olímpico, a saber: atletismo (corrida, saltos e maratona), natação, vela, remo, ginástica, esgrima, luta, tiro, ciclismo (velocidade e fundo), equitação e ténis. Em Paris, vamos ter 28 desportos tradicionais e quatro de exibição: breaking, em estreia absoluta, caiaque cross, escala desportiva e skateboarding. A entrada destas modalidades tem por objetivo aumentar o alcance e a relevância dos jogos olímpicos junto de diferentes públicos, nomeadamente dos jovens. Dançando, escalando ou deslizando, a verdade é que os atletas mais radicais vão dar um espetáculo diferente.

O principal critério de seleção é ser uma modalidade universal, ou seja, tem de ser praticada, no mínimo, em três continentes, em 35 países na variante feminina e em 50 países na variante masculina. Além disso, deve ter uma federação e ser membro do Comité Olímpico Internacional. Foi nesse sentido que o COI aprovou cinco novos desportos para Los Angeles 2028 (EUA): basebol/softbol, críquete, flag football, squash e lacrosse (jogo canadiano que se pratica com uma bola e raquetas curvas), e que a Federação Internacional de Padel garantiu a entrada da modalidade em Brisbane 2032 (Austrália).

A principal novidade de Paris 2024 é o breaking, onde 16 b-boys e 16 b-girls vão competir na famosa Place La Concorde. Os confrontos são diretos, em duelos um contra um, nos quais os breakers executarão diferentes movimentos em sintonia com a música selecionada por DJs. O breaking teve a sua origem numa dança urbana criada por afro-americanos e latinos nos bairros de Nova Iorque (EUA) na década de 1970. 

Nas modalidades já existentes também há novidades. No atletismo, a estafeta mista de marcha vai substituir as distâncias mais longas desta disciplina. A prova tem 42,195 quilómetros e é disputada alternadamente pela dupla, começando pelo elemento masculino e terminando com o feminino, cada percurso tem uma distância ligeiramente superior a 10 quilómetros. 

O caiaque cross é uma nova prova dentro da canoagem de slalon. Nesta versão, as provas individuais dão lugar a uma competição simultânea entre quatro atletas, que percorrem seis portões a favor da corrente e dois portões contra. Numa parte do percurso, são obrigados a fazer o caiaque roll, isto é, completar uma rotação de 360.º com a cabeça dentro de água. A vela tem duas novas categorias: windsurf e kitesurf, e a escalada desportiva está dividia em bouldering e velocidade. 

Paris é a cidade-sede das olimpíadas, mas há outras localidades que vão receber os jogos, caso de Bordéus, Nantes, Lille, Lyon, Saint-Etienne, Nice e Marselha. A mais de 15 mil quilómetros da Cidade Luz realiza-se a competição de surf. Alguns dos melhores surfistas do mundo vão competir na praia de Teahupo’o, no Taiti, e encontrar uma das ondas que faz parte do circuito mundial. A escolha pela maior ilha da Polinésia é uma jogada geopolítica para envolver as colónias francesas nestes jogos. As expectativas são enormes até porque as previsões de mar são um pouco assustadoras, com ondas tubulares de cinco metros de altura. Por essa razão, a Associação Internacional de Surf aconselhou os surfistas a usarem capacete.

O sonho olímpico é o objetivo de vida de qualquer atleta e, por motivos vários, há quem se agarre à naturalização para conseguir uma vaga. Há razões que levam um atleta a correr debaixo de uma nova bandeira: escolha afetiva, oportunidade financeira, dificuldade em conseguir o apuramento no país de origem e conflito com o comité olímpico e/ou federação desportiva. Há casos, em que o mesmo atleta disputou duas e três olimpíadas por países diferentes. Os mais nacionalistas não gostam das mudanças de nacionalidade, mas a verdade é que esta prática “é uma tendência europeia”, como referiu José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP). Para Paris 2024, foram aceites 11 pedidos de mudança de nacionalidade desportiva, com base num artigo da Carta Olímpica, que impõe um período de três anos antes de o atleta poder representar o novo país em competições oficiais. 

Vitórias que valem euros

Além do valor sentimental, as medalhas conquistadas no atletismo vão valer dinheiro. Numa decisão inédita, a World Athletics decidiu atribuir um prémio monetário de 46.500 euros ao vencedor de cada prova, num total de 2,4 milhões de euros. A partir de Los Angeles 2028, haverá também prémios monetários para os medalhados de prata e bronze. “Embora seja impossível atribuir um valor comercial à conquista de uma medalha olímpica, ou ao compromisso e foco necessários para representar o país nas olimpíadas, é importante garantir que algumas das receitas geradas pelos nossos atletas nos jogos olímpicos sejam diretamente devolvidos àqueles que fazem das olimpíadas um espetáculo mundial”, justificou Sebastian Coe, presidente da federação internacional. 

Os valores no mundo do desporto mudaram e de que maneira. Nos Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912, o norte-americano Jim Thorpe conquistou duas medalhas de ouro no decatlo e no pentatlo, mas retiraram-lhe essas medalhas porque se descobriu que Thorpe tinha ganho cinco dólares por jogar basebol numa liga semiprofissional, e isso violava o espírito de atleta amador. O enquadramento mudou e, atualmente, os atletas olímpicos podem ser desportistas profissionais, mas não ganhavam dinheiro por serem campeões olímpicos… até agora.