A Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos Paris 2024 tem 73 atletas, menos 19 do que em Tóquio 2021. Porém, se os critérios de apuramento fossem idênticos aos de Tóquio, a comitiva portuguesa teria mais 10 atletas, como explicou José Manuel Constantino. O dirigente espera que os participantes possam confirmar as marcas que garantiram os respetivos apuramentos, e afirmou tratar-se de uma “uma missão olímpica mais pequena, mas mais qualificada do ponto de vista desportivo, ou seja, com um valor médio mais alto”.
O presidente do COP não se esqueceu dos atletas de pódio que ficaram de fora destas olimpíadas. Patrícia Mamona, medalha de prata em Tóquio, sofreu várias lesões ao longo da temporada e não conseguiu o apuramento, o mesmo aconteceu com Telma Monteiro, que conquistou a medalha de bronze no Rio 2016. Já Auriol Dongmo obteve a marca olímpica, mas fraturou o tornozelo direito, foi operada e não recuperou a tempo dos jogos. Nas modalidades de equipa, a fase de qualificação foi um fracasso. De forma surpreendente, a seleção nacional de Sub 21 foi eliminada nos quartos de final do Campeonato da Europa de futebol e falhou o apuramento para os jogos olímpicos. O andebol teve o apuramento na mão, bastava um empate com a Hungria para garantir a presença em Paris, mas perdeu… Em contrapartida, a missão portuguesa foi reforçada com a atleta são-tomense Agate Sousa, autorizada pela World Athetics a competir por Portugal.
Os jogos olímpicos foram criados com o objetivo de promover a unidades dos povos através do desporto. Qual a importância do movimento olímpico num momento em que se vive grande instabilidade a nível mundial?
O movimento olímpico será seguramente um reflexo do momento que atravessamos e dificilmente terá condições para o alterar num sentido distinto.
O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que os jogos olímpicos exigem uma segurança extrema. Existe o risco de haver agitação social, greves e até tentativas de atos de terrorismo em Paris. Isso preocupa o presidente do COP?
As situações de conflitos no mundo são motivo de preocupação para todos os envolvidos neste evento.
Sabe-se que muitos países vão ter segurança própria em Paris. A segurança dos atletas portugueses foi reforçada comparativamente a Tóquio 2021?
Obviamente que sim. A situação internacional requer que sejam tomadas medida preventivas quer no quadro nacional, quer, assim espero, no contexto dos jogos de Paris.
A lista de atletas ficou fechada a duas semanas do início dos jogos. Quem é que vamos ter em Paris 2024?
A representação portuguesa tem 73 atletas, que vão participar em 66 eventos, em 15 modalidades e 21 disciplinas.
Além das modalidades de equipa que não conseguiram o apuramento para os jogos olímpicos há outras ausências importantes?
Sim, no atletismo há perdas muito significativas. Patrícia Mamona, que foi medalha de prata no triplo salto em Tóquio, e Auriol Dongmo não vão participar.
Houve percalços relativamente a atletas de topo. Foram atingidos os objetivos inicialmente propostos na Missão Paris 2024?
Não. Esta é a representação desportiva nacional para mais reduzida desde os jogos de Sidney, mas lembro também que apurámos mais quatro atletas que, por razão de quota nacional, não podem participar. Era expectável o apuramento do futebol, do andebol e do tiro, o que não aconteceu. Havia ainda alguma expectativa em relação ao voleibol de praia, remo e esgrima, mas também não se apuraram.
Há razões que expliquem um número inferior de atletas a competir?
Vale a pena pensar como é que países com uma demografia e um PIB [Produto Interno Bruto] inferiores ao português têm resultados desportivos melhores do que os nossos, e aí encontramos o fator distintivo que é o número de praticantes desportivos na base da qual se constrói uma elite desportiva superior. As capacidades de elitização e a variedade das modalidades é maior nesses países, e talvez valesse a pena olharmos para esse problema.
Os atletas tiveram todas as condições para preparar os Jogos Olímpicos Paris 2024?
No quadro das disponibilidades existentes e colocadas à sua utilização podemos dizer que sim, que os atletas tiveram as condições necessárias.
Quanto custa a preparação de uma delegação olímpica?
O programa de preparação olímpica para o ciclo de 2021/2024 está orçado em 22 milhões de euros e engloba todas as modalidades olímpicas.
Em 2021, disse que ninguém está preparado para ter menos do que nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O que será um bom resultado desportivo para o Comité Olímpico de Portugal?
Pelo contrato progama assinado com o Governo esperamos quatro posições de pódio, 15 diplomas, 36 classificações até ao 16.º lugar e 51 pontos para o ranking.
Esses objetivos são viáveis?
Alimenta-nos o sonho. Para alguns atletas, o sonho é chegar ao pódio, para outros é serem finalistas, para outros é ficarem nos 16 primeiros e, para outros ainda, é vivenciarem uma experiência única à escala global, particularmente no domínio desportivo. Sonhos que todos esperamos que se possam concretizar. Como dizem os homens do mar, que os ventos lhes sejam favoráveis.
Paris 2024 vai ter novas modalidades, nomeadamente o breaking. Considera que essas modalidades se enquadram no conceito olímpico?
Na minha opinião sim.
Como antevê os jogos olímpicos nos próximos anos?
Os jogos, ao longo da história, nunca foram iguais, pelo que as mudanças são inevitáveis.
Pode haver alterações que mudem o conceito original das olimpíadas?
É óbvio que os jogos caminham no sentido da sua crescente comercialização e de um negócio puro e duro.
É possível comparar o olimpismo com outros desportos?
É impossível fazer qualquer tipo de comparação com outros desportos porque são contextos completamente distintos.
O olimpismo é valorizado ou desvalorizado em Portugal?
Com exceção do futebol, o olimpismo, como a generalidade da atividade desportiva, é acompanhado com interesse nos períodos das respetivas competições.
Afirmou por diversas vezes que o desporto português tem um problema de base. O que falta para termos uma correta política desportiva?
Primeiro que tudo temos de perceber o que falhou no passado e corrigir os fatores que nos retiram competitividade externa, à frente dos quais está a debilidade do tecido associativo português com uma fraquíssima demografia desportiva no âmbito do número de praticantes.