Ciclismo. A grande festa de verão 

Ciclismo. A grande festa de verão 


A 85.ª Volta a Portugal vai para a estrada na quarta-feira. A prova desenrola-se no centro e norte do país, com uma breve passagem por Lisboa. O percurso é para trepadores, a menos que haja uma ‘lebre’ escondida no pelotão.


A Volta a Portugal em bicicleta é uma prova quase centenária – a primeira edição teve lugar em 1927, com o triunfo de Augusto Carvalho, da equipa Carcavelos – e continua a ser um desporto extremamente popular, até porque passa literalmente à porta de casa das pessoas. Podemos dizer que o ciclismo se confunde com o povo, que vibra intensamente com a passagem do longo e colorido pelotão, e nas etapas mais quentes há sempre uma multidão que cria autênticas correntes humanas de apoio aos ciclistas. É verdade que já não existem os épicos duelos entre Sporting e Benfica que dividiam o país e levavam o povo à rua para aplaudir ciclistas foras de série, como Joaquim Agostinho e Fernando Mendes, mas a paixão continua bem viva.

A edição de 2024 não é uma verdadeira volta, no sentido de percorrer todo o país, o Alentejo e Algarve ficam de fora, mas o que temos dá para fazer uma grande festa. São largos minutos a ver passar ciclistas, carros e motos, por vezes, a velocidades muito respeitáveis. A prova decorre entre 24 de julho a 4 de agosto, e faz parte da Europe Tour da Union Cycliste Internationale (UCI) – categoria 2.1. Começa em Águeda e termina em Viseu, tem nove etapas em linha e um contrarrelógio individual, num total de 1.540 quilómetros, com 32 prémios de montanha e 27 metas volantes. O percurso é desafiador e a forma como a prova de desenrola obriga as estrelas do pelotão a entrarem ao serviço logo nas primeiras etapas para não ficarem para trás. Antes do descanso na Guarda, os ciclistas já disputaram o prólogo, na forma de contrarrelógio, e as duas etapas de montanha mais difíceis, que exigem um esforço gigantesco para chegar ao cimo no grupo de frente.

Muita montanha

A prova começa com o prólogo em Águeda, capital da bicicleta, e a primeira etapa em linha coloca algumas dificuldades ao pelotão. A segunda etapa leva os corredores de Santarém até Lisboa, numa rara oportunidade para os velocistas brilharem na primeira fase da prova. As dificuldades aumentam na terceira etapa com a subida à mítica Torre, uma ascensão de 20,2 quilómetros feita pela vertente da Covilhã, e, no dia seguinte, sobem até à Guarda, uma etapa de média montanha. Estas etapas podem fazer uma triagem no pelotão e dar a indicação dos ciclistas e equipas que têm condições para lutar pela vitória. Os últimos dias têm um grau de exigência elevado com seis etapas em Trás-os-Montes, algumas para sprinters e outras para trepadores, como é o caso da subida à Senhora da Graça, mais um ponto mítico da Volta a Portugal, na 9.ª e penúltima etapa. Os corredores vão ainda passar pelo troço de terra de Fafe, que se tornou famoso no Rali de Portugal pelo seu espetacular salto. Obviamente que ninguém vai saltar, mas a passagem do pelotão a caminho do final da etapa é sempre espetacular. Se a luta pelo primeiro lugar estiver em aberto, o contrarrelógio individual em Viseu, com uma distância significativa, resolve a questão.

Por tudo isto, a Volta a Portugal promete ser bastante animada e os milhares de fãs que vão para a estrada podem contar com um grande espetáculo e muita emoção. É isso que o diretor de prova espera. «Olhar para a Volta é como olhar para o Jogo da Glória, que pode mudar todos os anos. Fizemos algumas alterações em 2024 e a expetativa é enorme. Esperamos que esta edição se diferencie de todas as outras. O início é anormalmente exigente, o que vai fazer com que todos os corredores entrem logo ‘à morte’», disse Joaquim Gomes, que explicou: «Possivelmente alguns perderão a possibilidade de vencer a volta». O responsável pela maior prova por etapas que se realiza no nosso país adiantou ainda que «os principais candidatos terão oportunidade de afirmar a candidatura à vitória na primeira semana de prova. Após o final da quarta etapa, na Guarda, só uma vintena de corredores estarão em condições de ganhar». E deixou uma novidade para o fim: «O contrarrelógio final em Viseu terá uma quilometragem ligeiramente superior aos últimos anos, com 26,6 quilómetros, para fazer o acerto de contas final nesta edição da volta».

Uma particularidade do percurso deste ano é que haverá uma primeira passagem pela linha da meta na chegada a Bragança, Boticas e Paredes, isso permitirá à caravana fazer o reconhecimento dessas chegadas e, se houver sprint, o final vai ser ainda mais espetacular. Referência também para o significado histórico da segunda etapa, que liga Santarém a Lisboa. É uma forma de celebrar os 50 anos do 25 de Abril e da marcha do capitão Salgueiro Maia na madrugada da revolução.

A organização está igualmente empenhada na proteção ambiental e na promoção do ciclismo ecológico. Nesse sentido, apela aos participantes que mantenham limpos os locais de partida, chegada e percursos da prova. Os corredores deverão utilizar as zonas de descarte de resíduos, montadas de 40 em 40 km e nos últimos 10 km da etapa.

Espanhóis favoritos

Nesta aventura de 12 dias por estradas nacionais vão participar 133 ciclistas de 17 equipas. Às nove formações portuguesas juntam-se mais oito: quatro ProTeams e quatro Continentais. A Euskaltel-Euskadi, Caja Rural-Seguros e Burgos BH integram a categoria principal ProTeams e são as grandes favoritas a ganhar a Volta a Portugal a nível individual e por equipas. A austríaca Vorarlberg tem igualmente ciclistas capazes de vencer, como aconteceu no ano passado com o suíço Colin Stussi, que procura a segunda vitória consecutiva em Portugal. Thomas Silva, Daniel Babor, Txomin Juaristi, Karel Vacek, Jonathan Camargo e Stephen Basset são os nomes mais sonantes e capazes de chegar a Viseu de amarelo.

As equipas portuguesas têm vindo a aumentar de qualidade e, seguramente, vão discutir o triunfo nas etapas, e pode muito bem acontecer que corredores como Afonso Eulálio, António Carvalho, Óscar Cabedo (ABTF Betão Feirense), Hélder Gonçalves e Tiago Leal (Rádio Popular- Paredes-Boavista) entrem na luta pela vitória à geral. AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense, Aviludo-Louletano-Loulé, Credibom-LA Alumínios-MarcosCar e Efapel têm corredores para andarem igualmente no grupo da frente.

O vencedor da Volta a Portugal vai receber 15.101 euros e o vencedor da cada etapa recebe 2.880 euros. Os vencedores da geral por pontos, da montanha e do prémio da juventude recebem 1.500 euros. De salientar que há prémios monetários até ao 20.º lugar. Já a melhor equipa  recebe um troféu.